A democracia morre na escuridão
O que o slogan de um jornal americano diz ao Brasil
Em 2017, o jornal americano The Washington Post decidiu adotar um slogan bastante chamativo: “democracy dies in darkness” — que
pode ser traduzido como o título desse texto. A frase era
periodicamente usada por Bob Woodward, colunista e editor do jornal, em
seus artigos. Começou, então, a surgir em alguns papéis do jornal, no
website e — finalmente — em sua versão impressa.
A democracia morre na escuridão
O que o slogan de um jornal americano diz ao Brasil
Em 2017, o jornal americano The Washington Post decidiu adotar um slogan bastante chamativo: “democracy dies in darkness” — que
pode ser traduzido como o título desse texto. A frase era
periodicamente usada por Bob Woodward, colunista e editor do jornal, em
seus artigos. Começou, então, a surgir em alguns papéis do jornal, no
website e — finalmente — em sua versão impressa.
A
frase pode soar mística no começo, principalmente devido a forma como
somos acostumados a empregar a palavra “escuridão” — se refere ao
oculto, ao sobrenatural, ao Mal. Nesse caso, a escuridão não é nada além
dela mesma: a ausência de luz, a cegueira. Existe, atualmente, uma
grande potência em um estado de escuridão maior que o Brasil? Eu ouso
dizer que no mínimo estamos empatados com os que vivem no breu da sombra
do Kremlin.
O
Post — jornal mais do que acostumado com embates pela sua liberdade de
imprensa — já chegou até mesmo aos degraus da Suprema Corte dos Estados
Unidos junto com o New York Times. O caso dizia a respeito da publicação
dos Pentagon Papers, que continham comunicações de longa data sobre a
Guerra do Vietnã e provavam que Washington nunca acreditou em uma
vitória americana.
Durante
o governo de Donald J. Trump, claro, o Washington Post não pôde ficar
calado. Apesar de a liberdade de imprensa não ter sido tão ameaçada por
Trump como foi por Richard Nixon no passado, algo na figura do
presidente levou a direção do jornal a tomar esse passo, e a reação foi
mista. Muitos chamaram o ato de puramente político, outros reclamaram do
tom macabro que o subtítulo dava às páginas.
A
frase foi primeiramente proferida por Damon Keith, ministro da Suprema
Corte americana. O contexto: o julgamento do escândalo de Watergate, que
aconteceu algum tempo depois da vitória do Post na corte. A batalha foi contra o mesmo Richard Nixon, mas dessa vez o jornal teve total liberdade para publicação.
A relação entre o The Washington Post e Watergate é explicita. O premiado filme “Todos os Homens do Presidente” cobre o caso. Assim como “The Post — A Guerra Secreta” cobre os da Guerra do Vietnã.
Enquanto a escolha pode ser debatida nos Estados Unidos, no Brasil não passaria de repetição de um ditado popular.
A
desinformação se espalha de forma disparada no país, com notícias
falsas (ou levemente inclinadas e selecionadas) se tornando cada vez
mais comuns. Estamos em uma eleição onde um candidato obter mais de 20%
das intenções de voto é vitória quase certa, e o maior vencedor nas
urnas é o representado pelos zeros.
A
descrença já foi além dos políticos: é difícil crer na política. O povo
brasileiro não quer mais ver o fim do presidente, querem o fim da
Presidência em si. O candidato que fala que não é político e que, em
algum lugar na década retrasada, declarou o fechamento do congresso como
seu primeiro ato de governo, é o favorito nas urnas.
Pode-se dizer que no pior dos cenários — infelizmente não o mais improvável — a jovem democracia brasileira morre na escuridão. No breu abissal do medo, da desconfiança e da ignorância, não há forma de vida capaz de prosperar.
Thanks to Cassius Gonçalves.
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