Eu perdi um amigo por causa de política
Era
pra ser só um meme, só zueira de grupos de WhatsApp e postagens no
facebook, twitter e instagram. Era pra ser motivo de piada numa mesa de
bar na semana seguinte. Era pra ser um dia muito louco que a gente
resolveu bater boca por bobeira.
Mas não foi.
Alguns
que presenciaram tudo que era pra ser e não foi questionavam se era
realmente necessário ignorar tantas afinidades pelo desencontro. Outros
demonstraram confiança que tudo se resolveria logo. A terapeuta, em uma
sessão corrida, confusa e cheia de problemas que não eram do tamanho que
deviam ser, me disse que eu já sabia o que fazer para resolver.
Mas eu não quis.Pelo menos, não sozinho.
Minha
expectativa nunca foi de unicidade de ideologias, propósitos e
abordagens de situações iguais, similares ou remotas. O ambiente
construído entre amigos só serve pra mim se ele for seguro pra que a
gente seja quem a gente é, fale o que a gente quiser, ouça o que a gente
precisa (e não quer), responda da forma que sente e espere o mesmo que
ofereça: um lugar de confiança para tudo isso.
Mas não foi isso que eu percebi quando a merda bateu no ventilador.
Quando
notei que apesar de tudo o incômodo ainda estava lá, eu decidi
compartilhar minhas preocupações com mais amigos. De resposta, um sonoro
“você se livrou” chegou com a promessa salvadora de que tudo estava resolvido. “As pessoas não mudam, elas apenas se revelam”,
eu ouviria certo amigo dizer, com uma confiança de que a tristeza de
que aquela amizade tinha chegado num ponto sem retorno iria
instantaneamente evaporar.
Mas por que será que ela ainda precisa virar uma crônica?
O
lance de respeitar e ser respeitado é uma premissa tão óbvia que, numa
frequência assustadora, a gente esquece de checar se estamos aderentes
com as pessoas mais próximas, mais conhecidas e mais queridas. Aqui,
talvez caiba inserir um dito popular que como todos os outros são ditos
mas não feitos: o óbvio precisa ser dito. E quem sabe com o acréscimo livre de que ele tenha ser igualmente praticado, reforçado e endossado.
Mas é mais fácil escrever do que por em prática.
Quem
sabe, no futuro, uma ponte seja restaurada espontaneamente para que o
respeito seja de fato um limite que permita que a gente se veja como
amigos. Quem
sabe, no futuro, o ambiente seguro que eu espero, em uma amizade, me
permita ser gay como sou, negro como sou, da periferia como sou e todas
as coisas que eu sou diferente do outro sem me preocupar que em nome de
outrem as barreiras não sejam forçadas até o fim. Quem
sabe, nesse mesmo futuro, eu consiga abrir mão com a facilidade que as
frases que ouvi de consolo e apoio esperam que eu faça. E talvez, quem
sabe, eu não tenha perdido um amigo por causa de política, e sim eu tenha perdido um amigo por causa da ausência da amizade.
Mas eu não conseguirei saber.
Até lá, se eu sei de alguma verdade, a que eu sei é que devo sempre apreciar os amigos que a vida nos dá: os
leais, os carinhosos, os verdadeiros, os irritados e, acima de tudo,
todos aqueles que deixam o sorriso na minha cara fácil, caloroso e com
garantias que só a amizade oferece.
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