Com coronavírus, bufês acumulam prejuízos e famílias optam por festas em casa, sem avós
Casamentos, aniversários e coffee breaks foram cancelados, gerando prejuízos
SÃO PAULO
A rotina mudou há dois meses. O Buffet Colonial, empresa paulistana que trabalha com eventos, de casamento a coffee break, se inspirou na matriz japonesa para redobrar os cuidados antes de a pandemia de coronavírus se agravar no Brasil.
“Pedimos um feedback do que deu certo lá para replicarmos aqui”, explica o diretor, Ricardo Yoshikawa, 39, que mudou os procedimentos de limpeza. Antes, os eventos tinham self-service. Depois, passaram a ser servidos já empratados, para evitar contaminação. A louça também parou de ser lavada por uma pessoa e passou ser colocada em uma máquina com aquecimento e aplicação de álcool.
Os 50 funcionários fizeram exames preventivos. Foram checados sintomas como febre, tosse, coriza. Parte está em home office, outros tiraram férias antecipadas.
Não foi suficiente. A pandemia de coronavírus, que tem fechado de escolas a fronteiras, já começa a impactar os eventos privados, como casamentos, batizados e festas infantis, seja por medo de aglomeração, seja por receio de que poucos convidados compareçam.
A recomendação do Ministério da Saúde é de cancelamento de grandes eventos —governamentais, esportivos, políticos, comerciais, religiosos. Em geral, aqueles com mais de 500 pessoas.
Mas o principal recado para população é reduzir o contato social, principalmente porque já há transmissão comunitária no Rio de Janeiro e em São Paulo. Até aglomerações em velórios de mortos pelo coronavírus devem ser evitados.
No caso do Buffet Colonial, em três dias, foram cancelados dez contratos de coffee break e adiados oito casamentos.
“Trabalhamos com multinacionais, que rapidamente deixaram de ter equipes nos escritórios, e consequentemente, de precisar de comida para reuniões, palestras”, diz Yoshikawa. “Já quem quer casar, vai fazer de qualquer jeito, só que depois. É um prejuízo indireto, porque vamos comprometer datas futuras.”
Com os eventos ocupando agora a agenda de junho e julho, a empresa calcula que vai perder cerca de meio milhão. Mas, para driblar a queda, pretende investir na entrega de refeições tipo delivery.
“No Japão, as pessoas pararam de ir a restaurantes, mas continuaram comendo. O que alavancou a entrega de produtos. É uma oportunidade”, diz o diretor da empresa, que fica em Moema, na zona sul da capital paulista. No país asiático, 24 pessoas morreram vítimas da Covid-19. Em São Paulo, a primeira morte foi confirmada nesta terça-feira (17).
O impacto é ainda maior para empresas menores. No Rio de Janeiro, Carol Vieira, 27, dona do Espaço Kidsland, que organiza festas infantis em Laranjeiras, na zona sul da cidade, ainda tenta calcular o tamanho do rombo no orçamento do negócio familiar.
No último final de semana e no próximo, todos os eventos foram cancelados. Cinco clientes toparam adiar para outra data —a empresa tem dado a opção de usar o crédito da festa até 2021. Em geral, os eventos reúnem em média cem pessoas e custam cerca de R$ 6.500.
“A gente não sabe como vão ser os próximos dias e meses. Acredito que agora ninguém vá fechar um evento às cegas, porque não sabemos quanto tempo vai durar essa crise”, diz Carol, que adiantou as férias dos três funcionários fixos e mudou a rotina também em casa. “Estamos evitando sair ao máximo, meus filhos de 9 e 3 anos já não vão para a escola.”
Em Pinheiros, na capital paulista, a Miniland Buffet Infantil ainda não viu os cancelamentos, mas lida com pais preocupados e anuncia uma lista as medidas preventivas: álcool em gel na recepção e nas mesas, janelas e teto retrátil abertos, além da higienização de todos os brinquedos. As bolinhas da piscina de bolinhas são esterilizadas uma a uma.
A agente de viagens Crisleine Benatto, 52, tinha imaginado uma comemoração cheia de pompa para a filha que completa sete anos neste domingo (22). Precisou mudar os planos.
“Os eventos têm ficado vazios. No último final de semana, as festas não tinham nem a metade dos convidados. A empresa disse que desaconselhava o evento e topou devolver o dinheiro”, conta Benatto.
Agora, ela vai organizar uma reuniãozinha em casa, para poucas pessoas e, principalmente, sem chamar o avô e a avó da menina. O tema se mantém: Chiquititas. Até porque as lembrancinhas para os convidados já tinham chegado e a fantasia está a caminho.
“Para nós, é uma data importante. Mas vamos chamar só as amiguinhas mais próximas, três ou quatro, e dependo de as mães autorizarem”, diz a agente de viagens paulistana, que também vê sua empresa naufragando. “Houve uma queda absurda na emissão de passagens, e os cancelamentos e remarcações aumentaram muito. É assustador.”
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