Serial killer mais famoso da Suécia pode não ter matado ninguém
Atualizado em 30 de novembro, 2012 - 08:56 (Brasília) 10:56 GMT
Calvo e de barba branca aos 62
anos, Thomas Quick se tornou conhecido como o mais renomado serial
killer da Suécia. Mas isso pode estar prestes a mudar.
Nos anos 1990 ele confessou mais de 30
assassinatos, com direito a mutilações, estupros e canibalismo. As
vítimas incluíam homens, mulheres e crianças, com perfis variados. Os
crimes haviam sido cometidos em vários locais diferentes da Suécia e da
Noruega.Uma investigação realizada por um jornalista local questionando as condenações sem provas levou a novos julgamentos, com a absolvição por cinco deles.
Ele ainda espera a revisão das últimas três condenações, e poderá se ver livre após 21 anos confinado em uma clínica psiquiátrica forense de Säter, a 170 quilômetros de Estocolmo.
O caso vem ganhando as manchetes dos jornais suecos nos últimos meses. De "Hanibal Lecter sueco", como foi apelidado na época de suas confissões, Quick/Bergwall passou a ser descrito como "o serial killer que nunca o foi".
"Ele certamente será inocentado de todos os oito assassinatos (pelos quais foi condenado inicialmente)", disse à BBC Brasil, com convicção, o advogado Thomas Olsson, que assumiu a defesa de Bergwall após a retratação das confissões.
Papai noel
Segundo Olsson, ao ser levado à clínica psiquiátrica de Säter, em 1991, Bergwall "estava passando por uma crise existencial e tinha pensamentos suicidas".
"Na clínica, ele foi objeto de técnicas psiquiátricas extremamente experimentais baseadas principalmente na terapia de recuperação de memória por sugestão e também teve acesso a narcóticos controlados, principalmente benzodiazepínicos (tranquilizantes)", relata o advogado.
Segundo ele, "sob essas circunstâncias Bergwall foi levado a confissões com o objetivo de satisfazer o pessoal da clínica". "O resto foi como um moto-perpétuo", diz.
Bergwall confessou seu primeiro "assassinato" em 1992. A suposta vítima era Johan Asplund, um menino de 11 anos que havia desaparecido em novembro de 1980 no caminho para a escola. O caso de Asplund era um dos mais famosos mistérios criminais da Suécia.
Ele disse ter estuprado o garoto e o asfixiado acidentalmente, antes de desmembrar o corpo e escondê-lo para que ninguém o encontrasse. De fato, o corpo nunca foi encontrado, mesmo com as descrições dos locais feitas por Bergwall, mas ele foi condenado pelo crime em 2001.
Segundo seus defensores, tudo o que Bergwall buscava era atenção. Com a confissão do assassinato de Asplund e os holofotes da mídia local sobre si, ele passou a confessar seguidos assassinatos, com detalhes.
Sem provas
"A história esteve em evidência por quase 20 anos, e sempre houve especulações sobre se ele era um mentiroso ou um serial killer", afirma.
Segundo o jornalista, "o problema é que ele foi condenado somente com base em suas confissões. Em nenhum dos casos havia qualquer prova técnica real", diz. "Agora, com as revisões dos processos, parece óbvio que o promotor Christer vad der Kwast e a polícia tinham o mesmo objetivo – conseguir condenações, custasse o que custasse."
O atual advogado de Bergwall também critica o papel do defensor público do réu à época das condenações, Claes Borgström, que ficou famoso posteriormente como o advogado das duas mulheres que acusam o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, de estupro na Suécia.
"A razão pela qual ele foi condenado foi, pura e simplesmente, que o promotor omitiu informações que mostravam que ele não poderia ter cometido os assassinatos, que policiais e especialistas fizeram falsos testemunhos e que o advogado de defesa, Claes Borgström, tinha uma causa comum com o promotor. Em suma: a corte foi enganada", diz Olsson.
A BBC Brasil tentou entrar em contato com Borgström para que ele comentasse o caso, mas não obteve resposta. Em declarações recentes à Sveriges Radio, a rádio pública sueca, o defensor público disse ter sido vítima de calúnia e negou ter sido negligente no caso.
"Se você defende uma pessoa que confessa o crime, deve seguir essa linha, a não ser que se torne óbvio que essa confissão é incorreta. Eu fui cauteloso durante o julgamento em levantar algumas questões importantes para eliminar o risco de que algo não estava correto", disse.
"Quando Bergwall começou a retirar suas confissões, o quadro mudou. Mas isso não significa que eu tenha sido cúmplice da condenação de um inocente", afirmou.COPIADO http://www.bbc.co.uk
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