Os ataques de Israel, o papel dos Estados Unidos e a reação brasileira
País - Sociedade Aberta
Os Estados Unidos podem não ser os responsáveis pela escalada da violência no Oriente Médio, mas não utilizam seu poder moderador para contê-la. Em consonância ao seu papel de principal potência mundial, os americanos deveriam ajudar a conter o ataque desproporcional de Israel. Como os maiores aliados israelianos, agem contrariamente.
Na sessão especial do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre os Territórios Palestinos Ocupados, destinada a decidir a criação de uma comissão para investigar as ações de Israel, somente os Estados Unidos votaram contra. Dentre as 17 abstenções notabilizam-se as nações da União Europeia e Coreia do Sul. O Brasil foi um dos 29 países que votaram a favor.
Desde que começou essa última etapa dos conflitos entre Israel e Palestina, o Brasil, por intermédio do Itamaraty, emitiu duas notas. A primeira, nota 159, rechaçava o aumento da violência de Israel, mas condenava igualmente os mísseis palestinos. A segunda, nota 168, pedia um cessar-fogo de ambas as partes, explicava a posição brasileira na ONU e findava apontando a chamada para consultas ao embaixador brasileiro em Tel Aviv.
A postura brasileira foi seguida de severas críticas do Ministério das Relações Exteriores israelense, por meio de seu porta-voz Yigal Palmor, que disse que a decisão do Brasil de chamar seu embaixador para consulta é uma demonstração de que o Brasil, gigante cultural e econômico, permaneceria um "anão diplomático". Depois, concluiu que desproporcional é 7x1, fazendo menção à derrota brasileira para a Alemanha na Copa do Mundo.
A diplomacia brasileira não é irrelevante, como deveriam saber os representantes israelenses. São inúmeros os exemplos que atestam isso, e o mais importante deles, no caso em questão, diz respeito à Constituição do Estado de Israel. Osvaldo Aranha presidiu a cerimônia da ONU, em 1947, na qual foi aprovada a divisão da Palestina entre árabes e judeus. Depois disso, Brasil e Israel sempre tiveram excelentes relações diplomáticas.
Foram precisas as palavras de nosso chanceler, Luiz Alberto Figueiredo Machado: “Somos um dos 11 países do mundo que têm relações diplomáticas com todos os membros da ONU e temos um histórico de cooperação e de ação pela paz internacional. Se há algum anão diplomático, o Brasil não é um deles”. Sobre a menção ao futebol, o nosso representante preferiu não responder.
Se o Brasil realmente fosse um “anão diplomático”, o extremista ministro israelense das Relações Exteriores Avigdor Lieberman não perderia seu tempo conosco, em meio a assuntos tão mais graves que eles têm para lidar. No futebol, o Brasil perdeu de 7x1, mas, se há feridas, são apenas simbólicas. No jogo da vida, a Palestina perde de 813 x 34 para Israel. Há ainda 5.237 feridos e cerca de 60 mil refugiados. E o nmero tende a aumentar.
P.S.: Comove a carta publicada no dia 18 de julho no The Guardian, assinada por alguns ganhadores do Nobel da Paz e personalidades diversas. Nela, cita-se o vínculo bélico entre os israelenses e o resto do mundo por conta do comércio de armas, e conclama-se que a ONU e os países do mundo tomem medidas para impedir os ataques desproporcionais de Israel.
P.S.2: Cabe louvar a atitude do comitê do candidato à Presidência Aécio Neves, que não se deixou levar por uma possível polarização eleitoral, e foi favorável à posição do Itamaraty.
* Ricardo Luigi, doutorando em geografia pela Unicamp, é professor universitário e diretor do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais. - ricardoluigi@cenegri.org.br
COPIADO http://www.jb.com.br
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