esportes Tudo sobre a Copa do Mundo O Brasil aos pés de Neymar Sampaoli quer rebeldia A América marca território As torcidas da Copa

Torcedoras da Colômbia na Copa do Brasil. / TOSHIFUMI KITAMURA (AFP)

Tudo sobre a Copa do Mundo

  • fotoO Brasil aos pés de Neymar
    COPA DO MUNDO 2014 | BRASIL x CHILE

    O Brasil aos pés de Neymar

    Num confronto decisivo contra o Chile, o jovem Neymar é a grande esperança para fazer o Brasil passar para as quartas de final

    Desde que Pelé se despediu dos gramados, em outubro de 1974, no mítico e acanhado estádio da Vila Belmiro, em Santos, os torcedores da cidade –e do Brasil– lamentavam. “Um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar”. Mas, neste sábado, um atacante de 22 anos, carrega mais uma vez as esperanças da seleção brasileira. Num confronto decisivo da Copa do Mundo contra o Chile, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, o jovem Neymar é a grande esperança para fazer o Brasil passar para as quartas de final.
    Está em jogo uma marca de 20 partidas sem derrota do camisa 10 pela seleção atuando no Brasil. E muito mais do que isso: uma vaga nas quartas de final para junto com a sua geração, o atacante começar a confirmar que, sim, um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar.
    No seu primeiro Mundial, lá se vão quatro gols em três jogos –a ‘Neymardependência’ restrita ao clube santista começa a adquirir um tom verde e amarelo. Sim, depois da saída de Pelé houve relâmpagos na cidade, como Giovanni, Robinho, Diego, mas só Neymar poderá confirmar a condição efetiva de um grande raio em um Mundial.
    Assim como Pelé, ele não nasceu na cidade portuária de cerca de 500.000 habitantes à beira do Atlântico, mas conquistou os títulos que fizeram o torcedor lembrar a época gloriosa de conquistas nos anos 1960, inclusive com uma Libertadores, em 2011. Mesmo ainda com uma enorme distância entre ambos no histórico no clube e na seleção –Pelé fez mais de 1.000 gols, jogou no Santos por 18 anos, ganhou dois Mundiais interclubes e três Copas–, os comentários na cidade sobre a escolha divina ou do destino na hora de depositar os raios são constantes.
    O barbeiro Didi. / BOSCO MARTÍN
    Nos arredores do estádio com capacidade para 20.000 torcedores, a vida pacata dos dias comuns se confunde com a história. Na barbearia de João Araújo, o Didi, por exemplo, as fotos e relíquias de Pelé espalhadas pelo salão são exibidas com orgulho por quem corta o cabelo do Rei há mais de 50 anos. “O Neymar eu via muito jovem ainda andando por aqui. Assim como o Pelé, quando ele entrou no time não saiu mais. Esse pedaço é iluminado. É a Vila mais famosa do mundo”, diz Araújo, 74, apontando para o estádio a poucos metros de sua barbearia.
    “Logo que chegou à cidade o Pelé em 1956 fez uma parada aqui para cortar o cabelo, antes mesmo de se apresentar ao clube. O Waldemar de Brito –ex-jogador descobridor do ídolo– já era meu freguês e o trouxe de Bauru (cidade do interior de São Paulo)”, emenda. “Quando ele não pode vir por algum motivo ou por causa do assédio eu vou até a casa dele. Se todos que aparecem por aqui quando o Rei vem à barbearia virassem meus clientes, eu já estaria rico.”
    Ao lado, no bar Confraria do Alemão, um pequeno grupo acompanha o noticiário da Copa do Mundo pela TV. O torcedor Alberto Francisco, 56, cujo apelido dá nome ao bar, carrega o escudo do time tatuado nos braços e até na testa. É para recordar os títulos, conta ele, em meio ao vaivém de turistas com camisas de diferentes seleções no corredor que dá acesso ao Memorial do clube, em frente. O atual camisa 10 e Pelé são praticamente onipresentes na cidade durante a Copa, estampando de painéis publicitários a estátuas de areia na praia.
    Um dos descobridores de Neymar, o ex-companheiro de Pelé no Santos e na seleção brasileira Zito lembra bem da primeira impressão ao ver o atacante. “Fui com um amigo e o Neymar me encheu os olhos. Falei (ao presidente) que ele tinha de ser contratado imediatamente, antes que outros o fizessem. Ele tinha 11 anos. E aí deu no que deu”, contou recentemente à emissora Sportv o ex-volante de 81 anos, bicampeão mundial com a seleção (1958 e 62).
    De lá até o último jogo contra Camarões na Copa, na última segunda-feira, tudo também passou como um raio. O jogador estrearia entre os profissionais em 2009, aos 17 anos, tendo marcado 138 gols até a sua despedida. Nem a sua conturbada saída do clube rumo a Barcelona foi capaz de estremecer a relação do jogador nascido em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, com o Santos e a cidade. Na seleção, os números também começam a ser superlativos, com 35 gols, que o situam na artilharia brasileira junto a ídolos como Ronaldinho Gaúcho e Tostão. E a história ainda está começando a ser construída
  • fotoSampaoli quer rebeldia

    Sampaoli pede que os chilenos se rebelem

    O treinador do Chile pede a seus jogadores que se ultrapassem "todas as adversidades imagináveis"

    Jorge Sampaoli, treinador argentino sem história como jogador, ex-juiz de paz e caixa de banco, que começou a preparar a fama quando foi campeão com o Belgrano de Arequito, na Liga de Casilda, em sua cidade natal, pode se tornar o homem capaz de mudar a historia do futebol. O técnico do Chile, de 54 anos, passaria despercebido em uma multidão. É um homem pequeno, calvo, de olhos brilhantes e olhar perdido. Dizem que de vez em quando se enfurece e se transforma em um tipo temível, capaz de aterrorizar seus comandados. Mas não foi essa imagem que ele deu ontem, quando se apresentou no Mineirão para anunciar calmamente que o Brasil sofrerá para se manter no campeonato que organiza.
    "A equipe está preparada", disse, firme, usando uma linguagem cifrada, como se anunciasse o futuro. "Está preparada, não para garantir o resultado, mas para garantir a busca. Sonhei com um grupo de jogadores que deixava tudo em campo e fazia uma partida histórica superando todas as adversidades imagináveis".
    "A equipe está preparada", disse, firme,  como se anunciasse o futuro
    Sampaoli anunciou o que muito poucos na imprensa brasileira reconhecem e criticam: que o Brasil vai esperar e contra-atacar diante de um adversário inferior em talento e em recursos. "Imagino", disse o técnico, "que o Brasil fará uma partida buscando mais os espaços que a posse de bola. O jogo que propõe esta equipe do Brasil é diferente daquele com o qual estávamos acostumados. Não se parece ao que fizeram outras seleções na história do futebol brasileiro, pelas características dos jogadores que possui. Busca transições muito rápidas, inclusive com passes dos centrais aos pontas. Por isso devemos ter cuidado extremado nas perdas de bola".
    "A rebeldia e a valentia terão muito a ver", prosseguiu o técnico, "porque se não nos rebelarmos diante de um adversário que tem todo o estádio a favor, o país apoiando e a responsabilidade de estar à altura de sua história, o resultado está claro. Neste grupo, a característica a aprofundar é a rebeldia".
  • fotoA américa marca território

    A América marca território

    Encerrada a primeira fase, a histórica pujança americana em casa se mantém junto com a fragilidade europeia

    Concluída a primeira fase, a Copa do Mundo do Brasil 2014 aponta para uma das poucas certezas do futebol desde seu primeiro chute. Desde os séculos dos séculos não há quem possa com a América na América. E para poder com a Europa na Europa é preciso chamar o Pelé. O desafio territorial é maiúsculo. As estatísticas não mentem: nos sete campeonatos já disputados em solo americano, houve mais participantes europeus do que locais (66 e 43, respectivamente), mas apenas quatro seleções (a Itália, em duas ocasiões, Tchecoslováquia, Holanda e Alemanha) chegaram na final. E todas sem sucesso. Pelo contrário, nos 10 torneios na Europa, com 50 americanos e 125 equipes locais, apenas o Brasil, por duas vezes, e a Argentina em uma oportunidade, chegaram ao último jogo. Os europeus o fizeram em 17 ocasiões e apenas a Suécia não ganhou, batida em seu Mundial em 1958 por um Rei brasileiro na única derrota até o momento. Se a Alemanha, França, Holanda, Bélgica, Suíça e Grécia não o desmentirem nestes dias, a Europa segue aos pés da América, que com a metade de participantes em Copas tem somente um título a menos.
    No atual campeonato, a superioridade americana também é acachapante. Sobreviveram oito dos 10 participantes – saíram apenas o Equador, por pouco, e Honduras -. A Europa foi ladeira abaixo: dos 13 aspirantes, já voltaram sete, incluindo campeões como a Espanha, a Inglaterra e a Itália, ícones como Cristiano Ronaldo e os petrodólares russos de Capello. Com a história por trás, não é estranho que as oitavas de final comecem hoje como se o Mundial fosse a Copa América, com Brasil e Chile e Colômbia e Uruguai. Entre os especialistas não existe uma teoria única deste fenômeno. As causas desta insuperável fronteira para americanos e europeus são tão heterogêneas como remotas.
    Não se vê a mesma combustão nos europeus, que não sentem diretamente a mesma pressão quando cruzam o oceano
    No futebol, aonde os desmentidos são perpétuos, a prevalência das seleções que jogam em casa é uma constante desde que o advogado francês Jules Rimet e o diplomata uruguaio Enrique Buero sonharam em Paris ali por volta de 1925 em organizar uma Copa do Mundo. Já então houve apreensão entre americanos e europeus. Era compreensível que na Europa se multiplicassem as recuas em viajar para o Uruguai para a primeira Copa. Em 1930, a travessia no Conte Verde – o meio preferido de Carlos Gardel – levava duas semanas de ida e outras tantas de volta com um mês de campeonato no meio. Apenas se atreveram a embarcar no transatlântico a Bélgica, a França e a Romênia. A Iugoslávia, que encerrou a participação europeia, o fez por sua conta. A experiência foi exaustiva. A América tomou nota e quatro anos depois apenas a Argentina, os Estados Unidos e o Brasil – a única seleção presente em todos os campeonatos – se animaram com a aventura de ir para a Itália de Mussolini. Então, o clima, a comida, as exaustivas viagens eram problemas absolutos. O estranho é que 80 anos depois dos quixotescos torneios iniciais as barreiras se mantenham. E que até se agucem, como se percebe pela situação da Copa brasileira.
    O que acontece nestes dias no Brasil é a última verificação da corrente emocional que catapulta as seleções americanas, todas acolhidas por enormes e efervescentes torcidas. Uma paixão nacionalista que se percebe nas ruas, nas arquibancadas, na extrema solenidade dos hinos que provocam um rio de lágrimas nos torcedores e no campo. Cada partida é quase uma questão de Estado, como se viu com a intervenção do presidente uruguaio, José Mujica, no caso de Luis Suárez. Sem julgamentos, um jogador sintomático do frenesi que invade o Uruguai e seus vizinhos. Na partida entra La Celeste e os ingleses, Suárez, que havia operado um menisco apenas um mês antes da Copa, chegou ao torneio destroçado, como tantos outros, europeus ou americanos. Quando todo mundo esperava que fosse substituído, o jogador do Liverpool correu como um jamaicano nos cem metros livres para chegar na área e chutar a bola como se fosse impulsionada desde Navarrone. Logo, foi para o banco exausto e com as pernas pesando toneladas.
    O enigmático é que 80 anos depois daqueles quixotescos torneios iniciais as barreiras se mantêm
    Não se percebe igual combustão nos europeus, que não sentem diretamente a mesma pressão quando cruzam o oceano. Mesmo quando jogam em casa mostram outro tipo de arrebatamento, sem tanta relação com a pátria e questões semelhantes. Os clubes europeus pescam no pesqueiro americano, mas são também vítimas de seu rearmamento como seleção. Como sustenta Jorge Valdano, campeão do mundo contra a Alemanha no México, “muitos sul-americanos, por mais que se profissionalizem na Europa, quando jogam para seus países recuperam o espirito amadorístico”. Não consta que seja o exemplo do impenetrável Messi, com perfil de um mito cada dia mais mito como Maradona, mas faz anos que de seu círculo barcelonista dizem que vive no dia a dia em Rosário e “baixa” para treinar no Barcelona. A América dá o berço, a Europa o dinheiro e a América, quando organiza os campeonatos, bate a Europa com a alma como escudo.
    De alguma forma, as Copas sempre representaram a volta ao real, às raízes, ao tribal, ao feitiço de sangue com este jogo. Iluminada pelo mercantilismo do futebol, a Europa há tempos que se despojou dele, sem contar uma ou outra ocasião. Ainda vai para os campeonatos mais como profissional do que com ardor. Por isto nunca conseguiu colonizar futebolisticamente a América. Talvez porque deus nunca foi europeu, e sim colombiano; ou porquê o único deus com mãos de gol era argentino. Ou porquê a Europa há tempos cortou as ligações com Bill Shankly: “O futebol não é uma questão de vida ou morte, é muito mais do que isso”. Pelo que está sendo visto no Brasil, a chama do dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues ainda continua viva quando joga sua seleção: “Ninguém pode faltar no Maracanã, nem os fantasmas. A morte não exime do dever com a equipe”.
  • fotoAs torcidas da Copa

    As torcidas da Copa

    Foto anterior Foto seguinte
  • 1.

    As faces da Copa

    Torcedores do Chile e da Austrália no Rio.
Seleções do continente americano se deram bem na primeira fase. Oito das dez equipes que se classificaram para a Copa passaram para as oitavas. A fase de mata mata começa neste sábado com Brasil X Chile e Colômbia X Uruguai. No domingo, a Holanda pega o México e a Costa Rica enfrenta a Grécia. Os outros jogos são França X Nigéria, Alemanha X Nigéria, Argentina X Suíça e Bélgica X EUA.











copy  http://brasil.elpais.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

Ao Planalto, deputados criticam proposta de Guedes e veem drible no teto com mudança no Fundeb Governo quer que parte do aumento na participação da União no Fundeb seja destinada à transferência direta de renda para famílias pobres

Para ajudar a educação, Políticos e quem recebe salários altos irão doar 30% do soldo que recebem mensalmente, até o Governo Federal ter f...