'Se Constituição foi ferida', cabe ao Senado tomar decisão, diz Eunício sobre afastamento de Aécio
Presidente do Senado disse que a Casa ainda não foi notificada sobre determinação do Supremo Tribunal Federal e frisou que Constituição não fala em afastamento.
Por Gustavo Garcia, G1, Brasília
27/09/2017 12h37
Em referência ao afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG), o presidente do Senado, Eunício Oliveira
(PMDB-CE), afirmou nesta quarta-feira (27) que, “se a Constituição foi
ferida” por uma decisão, “cabe ao Senado tomar a decisão baseado na
Constituição”.
A declaração foi dada após Eunício ser questionado por jornalistas
sobre se, na avaliação do peemedebista, é uma prerrogativa do Senado
analisar a decisão desta terça-feira (26) do Supremo Tribunal Federal de afastar Aécio Neves (PSDB-MG) do cargo e determinar o recolhimento noturno do tucano.
“Se a Constituição foi ferida pela decisão e cabe ao Senado tomar a
decisão, baseado na Constituição, obviamente que o Senado vai tomar as
providências. Agora, sobre hipóteses, eu não tenho como me manifestar”,
declarou o presidente do Senado.
Eunício acrescentou que o Senado ainda não foi notificado da decisão do
STF e que a Constituição não fala em afastamento de mandato.
“Primeiro, o Senado precisa ser notificado sobre o teor da decisão
tomada pela Suprema Corte, para saber de que forma o Senado vai agir. Ou
se vai, ou se não vai agir. Não sei qual o teor da decisão e tenho o
hábito de dizer aqui que eu não falo sobre hipótese”, declarou.
A defesa do senador Aécio Neves informou que buscará que o STF
reconsidere a decisão. Afirmou ainda que entende que as novas gravações
divulgadas de Joesley Batista mostram que o senador foi injustamente
acusado por um crime não cometeu.
Nesta terça, em entrevista a jornalistas, senadores do PSDB afirmaram
que, na opinião deles, a decisão do Supremo cerceia a liberdade de Aécio
e que, por isso, haveria a necessidade de uma manifestação do plenário.
De acordo com a Constituição Federal, “desde a expedição do diploma, os
membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em
flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos
dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da
maioria de seus membros, resolva sobre a prisão”.
Isso quer dizer que, nos casos de prisão em flagrante de senadores, por
exemplo, o Senado deve, em um prazo de 24 horas, autorizar ou não a
manutenção da prisão. O artigo da Constituição, porém, não prevê a
manifestação da Casa no caso de recolhimento domiciliar de
parlamentares.
Segundo o Código de Processo Penal, o recolhimento domiciliar no período noturno é uma “medida cautelar” difente da prisão.
Articulação
Segundo a colunista do G1 e
da GloboNews Cristiana Lôbo, nos bastidores, senadores têm conversado
sobre a possibilidade de a comunicação do STF ser submetida à votação e,
daí, ser rejeitada pelo plenário do Senado.
De acordo com a colunista, para alguns parlamentares, ao incluir o
recolhimento noturno para Aécio Neves, a Primeira Turma do STF acabou
por criar uma situação análoga à prisão domiciliar. Esta é a discussão
que deverá ser travada no plenário do Senado quando a notificação por lá
chegar.
Pelo Twitter, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) criticou uma
possível articulação do Senado para analisar a decisão do Supremo.
“O Senado não tem que ‘votar’ o afastamento de Aécio: decisão judicial
se cumpre ou se recorre, jamais se ‘vota’. Como lembra o ministro [do
STF Luís Roberto] Barroso, só há duas hipóteses de descumprimento de
ordem judicial: ou é crime de desobediência, ou é golpe de Estado”,
postou Randolfe.
“Senado só pode deliberar sobre prisão em flagrante de crime
inafiançável, e não em ‘medidas cautelares diversas da prisão’, como diz
a lei”, opinou o parlamentar do Amapá.
CCJ
Durante sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado
nesta quarta-feira, o assunto foi levantado pelo senador Jorge Viana
(PT-AC). O petista declarou que, na avaliação dele, a comissão deveria
discutir a decisão do STF.
“Eu acho que não é adequado que a Comissão de Constituição e Justiça do
Senado sequer levante um problema gravíssimo que aconteceu ontem [...].
Eu não acho adequado que a CCJ se cale como se nada tivesse
acontecido”, opinou.
Em resposta a Jorge Viana, o presidente da comissão, Edison Lobão
(PMDB-MA), afirmou que ainda não conversou com Eunício Oliveira sobre o
tema, mas que “ouviu notícias” de que Eunício desejaria ouvir a CCJ
antes que o assunto seja debatido na Mesa Diretora e no plenário do
Senado.
Na opinião de Lobão, “vale a convocação de uma sessão extra da CCJ para debater o assunto”.
copiado http://g1.globo.com/politica/
Nenhum comentário:
Postar um comentário