De volta à ribalta

Sociedade Aberta

 

De volta à ribalta

Jornal do BrasilThelman Madeira de Souza*
Após alguns meses de convalescença, Lula retoma a vida política com dois objetivos em mente: retirar os companheiros mensaleiros do cadafalso da justiça e fazer de um poste prefeito da cidade de São Paulo. Com essas incumbências nas mãos, Lula aposta na sua maneira oportunista de fazer política, em que cabem desde uma aliança espúria com o malufismo até a afronta ao Poder Judiciário. Essas investidas arriscadas compõem um arsenal estratégico que vislumbra as eleições presidenciais de 2014, oportunidade em que Lula se apresentaria como candidato alternativo, conforme já declarou à imprensa.
Convicto de que é infalível e tudo pode, o ex-presidente age, como um guia genial, a dizer ao povo brasileiro quem é ou não culpado por delitos de corrupção e quem deve ser eleito pelo bem do PT. Sem tempo a perder, reúne-se, furtivamente, com dois magistrados e, dias após, acerta o apoio de Maluf à candidatura Haddad, para vergonha da nação atônita. No primeiro encontro, longe de uma conversa amena, Lula constrange um ministro do STF, quando sugere adiar o julgamento do mensalão, numa atitude de cobrança e ameaça velada, típica de quem sabe aproveitar-se das mazelas de um Judiciário, desgastado perante a opinião pública, e distante há muito da reputação ilibada. O episódio revela, além disso, que tanto o anfitrião da reunião quanto os convidados não se deram ao respeito, quando permitiram que a conversa enveredasse pelo rumo da chantagem explícita. No encontro mais recente, Lula ousa mais e se permite fotografar abraçado por Maluf, deixando claro que, na sua obstinação por estabelecer, na maior cidade do país, a principal base petista, os fins justificam os meios. As intenções políticas ocultas, à época de sindicalista e da formação do PT, afloram, agora, sem cerimônia, mostrando que o uso do cachimbo faz a boca torta: de tanto negociar a favor dos patrões, Lula passou a ver a política como um grande negócio.   
Carente de uma formação teórica e forjado nas mandriices do sindicalismo de resultados, Lula reduz a política a mera negociação política, não importando com quem e, tampouco, com o método. É esse o legado político e moral de Lula, um sobrevivente da seca e da fome, feito dirigente sindical por Golbery, para desmoralizar a esquerda brasileira, aparelhar os sindicatos e desmobilizar os movimentos sociais, contribuindo, dessa maneira, para despolitizar o povo brasileiro. Além desse desserviço à luta por um país mais justo, Lula, às vésperas de sua primeira eleição, descaracteriza o PT, arrancando das suas entranhas a bandeira do socialismo e assenhorando-se de sua direção. A partir daí, vicejou um endeusamento a seu nome, isto é, teve curso uma estratégia de propaganda política baseada na exaltação de suas supostas virtudes, assim como de divulgação afirmativa de sua figura. Essa apoteose contou com o apoio da mídia e incluiu, entre outras coisas, a bajulação por parte de seus correligionários. Nascia, assim, o lulismo em substituição ao petismo. Era mais um ismo, vazio de nacionalismo, desenvolvimentismo e patriotismo, tão caros, por exemplo, ao getulismo, sempre criticado por Lula, mas, ainda assim, um conjunto de ideias que contribuiu, em muito, para a formação do pensamento político brasileiro, ao passo que o lulismo se restringe a práticas pouco ortodoxas de se fazer política.
Logo, é um equívoco interpretar o lulismo como uma nova modalidade do populismo, presente na América Latina do século passado, e que se destacou como poderoso agente de transformação no sistema econômico, permitindo rápidos processos de industrialização, logo após a crise de 1929. De caráter eminentemente urbano, o populismo difere, por exemplo, do coronelismo, este, sim, semelhante ao lulismo, nas suas práticas políticas e sociais, próprias dos meios rurais e das cidades do interior brasileiro. Segundo Vitor Nunes Leal, em o Coronelismo, enxada e voto, o coronelismo “Seria uma forma de adaptação entre o poder privado e um regime político de extensa base representativa”. Ainda sobre o coronelismo, podemos acrescentar que este é uma forma de mandonismo, cujas raízes remontam à Primeira República, e que se caracteriza por uma valorização exagerada do poder privado e pelo controle do poder político social e econômico, por uma elite, com base no nepotismo e no compadrismo. A estrutura social do coronelismo se baseia no domínio da parentela e de um círculo de áulicos, que devem favores e lealdade ao chefe, que sobre eles exercem um poder quase absoluto. Nada mais parecido com o lulismo no poder. O lulismo é o coronelismo do século 21.
 Pois é com esse modelo retrógrado, debaixo do braço, que Lula volta à ribalta, na tentativa de antecipar a discussão sobre a sucessão de Dilma, ao mesmo tempo em que trabalha para tirar das garras da lei os companheiros capazes de ajudá-lo em futuras alianças eleitoreiras, para regozijo dos poderosos de plantão, aos quais serve com a subserviência de quem faz política com instinto e não com a razão.
* Thelman Madeira de Souza é médico.copiado : http://www.jb.com.br/

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