Cinquenta anos depois, 1968 ainda não acabou
Zuenir Ventura tem razão, aqueles doze meses ainda ecoam como guitarras elétricas; mudanças ensaiadas ali ajudaram a moldar o mundo de hoje
30 dez 2017, 06h00
Para o jornalista Zuenir Ventura, autor do mais bonito livro brasileiro sobre aquele tempo dramático e extraordinário, 1968 foi “o ano que não terminou”. Para Daniel Cohn-Bendit, o mercurial líder estudantil das ruas de Paris, “1968 acabou”, e por isso ele decidiu há séculos fugir do tema, como quem evita apenas beber do passado, talvez porque tenha se cansado de sempre dar as mesmas respostas diante das mesmíssimas perguntas — apesar de, contraditoriamente, um de seus filhos ter como fundo de tela no smartphone a foto clássica do pai com olhar irônico encarando um policial do governo de Charles de Gaulle. Mas, afinal de contas, 1968 acabou ou não? Zuenir Ventura tem razão, aqueles doze meses ainda ecoam como guitarras elétricas, embora Cohn-Bendit insista em querer virar a folhinha do calendário.
Cinquenta anos depois, 1968 não para de ser evocado, porque foi realmente especial — há nele doses consideráveis do charme permanente da cultura pop (Beatles, Rolling Stones, Caetano&Gil&Chico), há o terror do período mais duro da ditadura militar no Brasil, com a promulgação do AI-5, há o mundo mergulhado nos horrores da Guerra do Vietnã, assustado com o assassinato de Martin Luther King e de Bob Kennedy, além de uma sucessão espetacular de movimentos de jovens — quase sempre — que foram às ruas, para morrer se preciso fosse, contra o poder, qualquer poder, de direita ou de esquerda. No Brasil, eles protestavam contra as forças do governo de quepe que matou um estudante secundarista (Édson Luís, em março). Na Checoslováquia, esbravejavam contra os tanques soviéticos que esmagavam a Primavera Democrática (em agosto). Nas próximas dezesseis páginas, VEJA esmiúça os eventos daquele ano, ora em preto e branco, ora em cores, que moldou o mundo de hoje.
COPIADO https://veja.abril.com.br/
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