A sanidade do que chamam de loucura
Ouço de alguns que um novo governo Lula, nas condições que se encontra o Brasil, seria um fiasco, porque a situação é tão difícil que o governo teria de ser um “estelionato eleitoral”, eleito com propostas pró-trabalhador mas obrigado a ser mais um a “cumprir do dever de casa” e, inapelavelmente, cortar direitos da população e arrochar gastos públicos.
Lembro sempre do “óbvio” que é uma bobagem, tão bem descrito por Darcy Ribeiro em seu “Sobre o Óbvio”, onde ele descreve as tolas obviedades, desde o achar que era achar que o Sol gira em torno da Terra – “uma coisa que todo mundo pode ver” até o fato de que temos de dar errado, como país, porque nos tornamos um povo miscigenado.
Numa entrevista, Leonel Brizola contou que, na volta do exílio, no final de 1979, que “se chegasse um sujeito e dissesse que eu em três anos seria governador do Rio de Janeiro e que a primeira obra que eu iria inaugurar seria uma passarela para o Carnaval, eu diria: ‘olha, interna o índio velho aí, que está fora da casinha’.
Fora da casinha, para quem não conhece o gauchês, é doido varrido.
Pois não é que fui encontrar o mesmo raciocínio numa postagem do Gustavo Conde, colaborador e companheiro deste blog, sobre o Lula?
Vale a pena ler e pensar: o que é louco, o Brasil ser o que é ou não ser o que pode ser?
Leia o texto do Gustavo e pense nisso:
Volte aos anos 90. Se você nasceu depois, pegue uma máquina do tempo e volte também. Você vai curtir. Tinha racionamento de energia, o salário mínimo era de 64 dólares, a Vale do Rio Doce era vendida a 3,3 bilhões de reais e o Brasil tinha aquele timaço com Mauro Silva no meio de campo.
Mas, eu não quero falar do governo FHC, não, aquele suprassumo da gestão pública internacional. Eu quero falar de outra coisa.
Vamos lá: suponha que, nessa viagem no tempo, você encontre uma pessoa que te diga as seguintes afirmações taxativas:
“- O Lula vai ser eleito em 2002. Ele vai pagar a dívida externa e ainda vai emprestar dinheiro ao FMI. Ele vai fazer a transposição do Rio São Francisco, vai fazer três mega usinas hidrelétricas na região norte e vai fazer um programa contra fome que vai tirar 40 milhões de pessoas da miséria.
– A Petrobrás vai descobrir a maior jazida de petróleo do século 21 e o ministério da educação vai fazer 2 imensos programas de inclusão (Prouni e Fies) que levarão mais de um milhão de pessoas ao ensino superior. Lula vai, ainda, transformar a indústria naval brasileira na quarta maior do mundo e vai construir 14 novas universidades e 214 novas escolas técnicas.
– O Brasil será a 7ª economia do mundo, o 4º mercado da indústria automobilística e o presidente dos EUA vai chamar Lula de “the guy” (“o cara”).
– A Petrobrás vai fazer a maior captação de ações da história do capitalismo mundial (120 bilhões de reais em 2010), o Brasil será o país com uma das menores taxas de desemprego do mundo e será sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas num intervalo de 2 anos.
– Lula vai deixar o governo com 90% de aprovação popular, vai fazer o sucessor (a sucessora: será uma mulher, ex-guerrilheira, ex-torturada, ex-presa pela ditadura) e vai receber das universidades mais importantes do mundo a maior quantidade de títulos Honoris Causa que um chefe de estado já recebeu em toda a história”.
Agora respire e responda: do que você chamaria esse cidadão que lhe contou tudo isso? De louco? Pois veja como nos acostumaram a chamar de loucura aquilo que é possível e natural.
Louco, mesmo, é o Brasil conformar-se em ser um fiasco.
copiado http://www.tijolaco.com.br/blog/s
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