"Faço pelo público, não para Leon", diz diretora da Mostra de SP

"Faço pelo público, não para Leon", diz diretora da Mostra de SP

01 de novembro de 2012 13h50
Renata de Almeida é viúva de Leon Cakoff e atual diretora da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Foto: Bruno Santos/Terra Renata de Almeida é viúva de Leon Cakoff e atual diretora da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Foto: Bruno Santos/Terra

Nathália Salvado

350 títulos, 60 países e exibições em 28 espaços, entre cinemas, museus e instituições culturais. Os números da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que chega ao fim nesta sexta-feira (2), são largos e a quantidade de títulos agrada um público exigente e variado. Por trás da empreitada, está Renata de Almeida, viúva do criador do evento, Leon Cakoff, que morreu em outubro de 2011, após uma batalha contra o câncer.

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Renata, que foi parceira do marido também no trabalho, o ajudou a dar forma à Mostra desde sua 13ª edição, oganizada em outubro de 1989, e tomou para si a responsabilidade de seguir com ela depois da morte do marido. A 36ª edição é a segunda sem a presença de seu criador, mas, efetivamente, a primeira em que ele não ajudou a montá-la. Cakoff morreu uma semana antes da abertura da Mostra de 2011. "Não é uma forma de homenageá-lo. O que eu fiz pelo Leon, fiz enquanto ele estava vivo", explicou em entrevista ao Terra por telefone.
"Não me sinto na obrigação de continuar a Mostra por causa dele (Cakoff). Acho que a gente faz as coisas para as pessoas enquanto elas estão vivas. Têm homenagens, como o prêmio Leon Cakoff, que é válido. É claro, que eu sinto, mas não vou continuar a Mostra por causa do Leon. Faço por causa do público, não é para o Leon".
Renata nega que tenha tenha impresso sua marca nesta edição e afirma que a Mostra sempre teve a sua cara. "Acho que já tem a minha marca faz muito tempo. Faço há mais de 20 anos. Sempre decidimos as coisas juntos, sempre foi difícil. Eu só tive que ver outro jeito de trabalhar, já que o peso das decisões é maior. Na verdade, eu só continuei o meu trabalho", explicou a mãe de Jonas e Thiago, ambos do casamento com Cakoff.
Dona de tom rígido e direto, Renata derrete-se quando avalia o que mais lhe da prazer durante a organização da Mostra. "É quando eu a vejo na rua. Às vezes, você trabalha tanto e pensa: 'para que eu estou fazendo tudo isso? Qual é o sentido?'. Aí, quando você a vê na rua, quando vê o público chegando e começa a abertura, você lembra: 'ah, é por isso!'."
Mundo Invisível
Entre os muitos longas que emocionaram o público nessa 36ª edição, está uma compilação de curtas-metragens, que, entre eles, traz a história de um homem que vai a capital da Armênia para resgatar a história de seu avô desaparecido durante o genocídio armênio. Em Yerevan - O Visível, do cineasta Atom Egoyan, os espectadores podem ver outra faceta de Leon Cakoff: a de ator.
"Ficou meio que um testamento dele. Surgiu assim: o Leon sempre foi muito reticente ao falar da história da sua família, porque história de guerra sempre parece que dá um filme. Até que eu que falei: 'porque você não conta a história do seu avô desaparecido? É uma forma de invisibilidade também'. Fomos para Cannes, o Egoyan estava lá. Ele fez outro roteiro e mudou várias coisas", relembrou Renata de Almeida, que assina a direção geral e produção ao lado de Cakoff.
O apanhado de curtas forma o projeto Mundo Invisível. Juntos, eles conseguiram reunir Win Wenders, Manoel de Oliveira, Laís Bodansky, Beto Brant e muitos outros cineastas renomados. Este projeto cinematográfico, que aborda diferentes formas de invisibilidade nas grandes cidades, foi o último do criador da Mostra de São Paulo.
"Foi bacana, porque, quando a gente trouxe o tema da invisibilidade, achou que ia ficar para um lado e acabou super diferente, são várias visões sobre um mesmo fio condutor. Achei que ficou bonito. Tem uma unidade. Achei bem bacana. Este ano, o Beto ainda filmou, chegamos a apresentar uma versão ainda não finalizada, agora foi a completa. É uma sensação boa", afirmou.
Ao final do curta, Leon Cakoff afirma que seu objetivo sempre foi reafirmar o poder das imagens, o que parece ter o acompanhado durante toda sua vida e ficado como uma marca em sua principal criação, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. "Este ano, tem um lado político muito aparente. Mas o filme (Yerevan - O Visível) tem todo um olhar sobre a Síria. A Mostra, em si, sempre teve isso, sempre foi muito contemporânea. Então, é isso, é realmente mostrar o poder das imagens."

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