Ecossistemas empreendedores, o segredo dos novos 'Vales do silício'

Ecossistemas empreendedores, o segredo dos novos 'Vales do silício'

 

País - Sociedade Aberta


André Telles*
O investidor do Vale do Silício, Victor Hwang, coautor do livro The rainforest: The secret to building the new Silicon Valley, compara o ecossistema de startups a uma floresta tropical embora a flora exótica e endêmica produza riquezas não vistas em nenhum outro lugar do mundo, tais plantas jamais floresceriam sem toda a floresta, seu ecossistema e condições climáticas.
A criação de um ecossistema empreendedor, ou uma comunidade, ou ainda um cluster, não é tarefa a ser concluída do dia para a noite. A formação de clusterse comunidades pressupõe a atuação de uma série de stakeholders que formam um ecossistema que incentiva e promove o empreendedorismo. O conhecimento deste ecossistema e o network que o empreendedor possui com as diversas áreas que o circundam torna-o um "Empreendedor mínimo viável" com poder de articulação, o que facilita o crescimento e desenvolvimento da comunidade.
A obra de Brad Feld, fundador de startups e firmas de venture capital, além da renomada aceleradora americana TechStars, aborda de modo interessante a conjunção de fatores necessária para o estabelecimento de comunidades bem sucedidas de empresas de capital tecnológico e inovador.
Os líderes geralmente compreendem empreendedores locais com grande conhecimento da economia e dinâmica regional e boa circulação entre os diversos membros da comunidade, além de um ou mais líderes articuladores, que tratarão do relacionamento com uma infinidade de stakeholders que influenciam e, por vezes, são influenciados pelas novas empresas que surgem no cluster.
Agenda forteDa liderança partirão os primeiros passos rumo ao “calendário” de atividades que manterá a comunidade sempre ativa, atuante e bem relacionada com atores externos. Tais eventos e acontecimentos incluirão congressos, reuniões, meet-ups, palestras, cursos, eventos diversos e encontros mais informais entre empreendedores e fundadores da região.
Tal calendário será essencial para manter o espírito colaborativo entre as startups locais, universidades e autoridades, mentores e também perante atores externos, incluindo a própria mídia. Consideramos que grandes aceleradoras, incubadoras e programas de desenvolvimento de startups surgem como consequência do próprio fortalecimento e boa estruturação dessas comunidades – não o inverso. Ecossistemas empreendedores não são formados a partir de incubadoras e similares – uma vez que a própria existência das mesmas pressupõe a presença anterior de empreendedores e empresários dispostos a nelas ingressar.
O governo como 'stakeholder'Feld, assim como nós, acredita que o envolvimento governamental na formação e constituição de clusters tecnológicos deve ser uma forma de apoio ao crescimento de ecossistemas, mas não o ecossistema em si.
Acreditamos que o incentivo governamental seja fundamental para o crescimento do empreendedorismo e do empreendedor por meio do incentivo ao empreendedorismo, seja via redução de impostos a empresas inovadoras ou de tecnologia, criação de parques tecnológicos para que empresas de pequeno porte se desenvolvam, patrocínios de eventos relacionados ao empreendedorismo, treinamentos e cursos moderados por mentores especializados, dentre outros incentivos, sendo o governo um dos stakeholders do processo de desenvolvimentos de clusters.
Brasil: alguns atores ainda ausentesAlguns atores e stakeholders que seriam essenciais à formação de clusters tecnológicos fortes e sólidos ainda se mostram ausentes. Na área de capital financeiro, por exemplo, ainda é virtualmente inexistente a participação de bancos na cadeia – embora os bancos de varejo locais possuam produtos diferenciados para pequenas empresas, ainda não oferecem nada específico para startups e empresas inovadoras.
Na área de serviços, grande parte dos advogados, contadores e prestadores especializados no mercado digital são raros e restringem sua atuação a empresas grandes do segmento.
Outro exemplo são as universidades. Embora avanços notórios tenham ocorrido nos últimos tempos, a disciplina de empreendedorismo ainda não é unânime. Podemos citar o caso do curso de ciência da computação, em que conhecimentos ligados ao empreendedorismo e marketing gerariam uma cadeia de empreendedores digitais destes profissionais, que por vezes são incentivados apenas ao conhecimento técnico.
Temos certeza de que o Brasil ainda terá seus Vales do silício com polos de empreendedorismo e tecnologia reconhecidos internacionalmente, mas para isso toda a floresta deve ter árvores frutíferas, como sugere Victor Hwang em seu livro The rainforest.
*André Telles, publicitário, é professor de pós-graduações e MBA`s na área de Marketing Digital.

   
       COPIADO  http://www.jb.com.br

 

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