Honduras continua esperando resultado eleitoral em meio a denúncias
AFP / Nicolas RAMALLOEleição presidencial em Honduras
Honduras continuava nesta terça-feira (28) sem saber quem foi o vencedor das eleições presidenciais de domingo, o opositor Salvador Nasralla ou o presidente Juan Orlando Hernández, acusado de manipular as atas de votação para se alçar à vitória.
Hernández, de 49 anos, candidato à reeleição pelo Partido Nacional (PN, direita), insistiu nesta terça-feira que conta com dados baseados em atas oficiais, que indicam que ele venceu com uma margem estreita.
Seguidores do PN e da Aliança de Oposição Contra a Ditadura de Narsalla começaram a se reunir na tarde desta terça-feira para novas manifestações na capital para defender suas respectivas "vitórias".
Em entrevista à AFP, Nasralla disse que há indícios de que o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) "está fabricando" novas atas para mudar o resultado em favor de Hernández.
"O que ele (Hernández) espera é praticamente um instinto de sobrevivência. Ele sabe que se não continuar como presidente vão extraditá-lo do país. Esse é o problema que ele tem", argumentou Nasralla, um popular apresentador de televisão, sem experiência política.
O TSE continua sua lenta contagem e começou a disponibilizar dados conforme a apuração avançava.
Com 61,86% dos votos apurados, Nasralla aparece com quase quatro pontos de vantagem, a 44,3%, contra 40,5% de Hernández, que se candidatou à reeleição amparado em uma decisão do tribunal constitucional, apesar da reeleição ser proibida pela Constituição, o que gerou questionamentos sobre a legitimidade de sua candidatura.
O candidato liberal Luis Zelaya aparece com 13,81%, enquanto os demais candidatos não chegam nem a 1%.
A chefe da missão de observadores da União Europeia, a deputada portuguesa Marisa Matias, criticou a lentidão na divulgação dos dados.
"Após dois dias sem anunciar novos resultados, o tribunal deve estabelecer uma comunicação mais fluida, publicando os votos conforme vão chegando (...) como foi feito na votação de 2013", indicou Matias.
O presidente do TSE, David Matamoros disse que espera concluir a contagem das 17.500 cédulas eleitorais na próxima quinta-feira ao meio-dia, quando proclamará o vencedor da eleição.
- Voto contra -
Os analistas sustentam que a votação a favor de Nasralla reflete a sua popularidade entre os moradores de Honduras após 40 anos de presença constante na televisão.
Paralelamente, os especialistas apontam para um castigo pelas tendências autoritárias e denúncias de corrupção contra o governo de Hernández, apesar de reconhecerem suas conquistas em termos de segurança e estabilidade econômica.
"O resultado não foi tanto a favor de alguém, mas contra o governo", disse à AFP Adolfo Facussé, presidente da Fundação Covelo de apoio aos pequenos produtores.
"O problema para a maioria é que não há emprego. O governo teve estratégias para combater a criminalidade, mas isso por si só não melhora a vida das pessoas", destacou o empresário, que sustentou que a capital tem 542 colônias, 80% das quais seguem sob o comando das facções.
Uma das nações mais pobres da América Latina, Honduras também é um dos países sem guerra mais violentos do mundo, com uma taxa de homicídios que em 2016 se situou em 60 para cada 100 mil habitantes, segundo o Observatório de Violência da Universidade Nacional.
O americano Eurasia Group, de análise de risco, advertiu que a vitória de Nasralla poderia levar a políticas populistas motivadas por sua proximidade com Manuel Zelaya, derrubado da Presidência após um golpe de Estado em 2009.
"Uma vitória de Nasralla representaria incerteza em curto prazo para os investidores. Sua plataforma de campanha foi muito populista, incluindo promessas de cortar impostos sobre a renda e dar serviços sociais gratuitos", segundo a avaliação do Eurasia Group.
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