Queima total na Black Friday dos políticos No Congresso constituinte, no PMDB, Robertão, o icônico Roberto Cardoso Alves, liderou o embrião do que hoje chamamos de Centrão, e, bom frasista que era, nos brindou com uma releitura de São Francisco de Assis que viraria senha para os próximos governos: “É dando que se recebe”. Ele explicava, na época, o apoio de deputados ao governo Sarney. Desde então, perdeu-se tanto o pudor e promiscuiu-se tanto na relação entre poderes, que o Planalto virou aquela figura patética que circula pelas baladas..........

Queima total na Black Friday dos políticos






A Black Friday, que este ano será no dia 24 de novembro, vem aí e pode servir de biruta para a marolinha de recuperação econômica que começa a chegar às praias. Segundo idealizadores do evento no Brasil, o faturamento este ano será 19% maior que o ano passado e deve ultrapassar os R$ 2,2 bilhões. Caso sejam contabilizadas as vendas até domingo, quando algumas ofertas que sobraram e itens ainda em catálogo estarão em promoção, a marca de R$ 2,7 bilhões deve ser atingida. Pausa para os fogos.

Mas se a Black Friday econômica poderá ser festejada pelo governo, dando argumentos para a tese de que, mais do que sair do fundo do poço, o país caminha mesmo para alguma recuperação, quem sabe fazendo bonito no ano eleitoral de 2018, a Black Friday política promovida pelo Planalto nos últimos meses colocou o Governo Michel Temer em perigosa liquidação. E não só pelos R$ 32 bilhões escoados para o ralo fisiológico, que é o custo estimado da negociação política – soma de diversas concessões e medidas do governo negociadas com parlamentares da base – que permitiu à Câmara barrar duas vezes, em junho e outubro, denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente.
No Congresso constituinte, no PMDB, Robertão, o icônico Roberto Cardoso Alves, liderou o embrião do que hoje chamamos de Centrão, e, bom frasista que era, nos brindou com uma releitura de São Francisco de Assis que viraria senha para os próximos governos: “É dando que se recebe”. Ele explicava, na época, o apoio de deputados ao governo Sarney. Desde então, perdeu-se tanto o pudor e promiscuiu-se tanto na relação entre poderes, que o Planalto virou aquela figura patética que circula pelas baladas cantarolando “Vem em mim que eu tô facinho”.
Para quem se desafiou a ainda deixar um legado maior que a contenção precária do caos econômico, Temer precisa agora desse Congresso voluptuoso para aprovar alguma coisa de alguma reforma, por mais simbólica que seja, prioritariamente a reforma-fetiche do mercado, a da Previdência. Líderes dos principais partidos da base aliada, porém, falando, claro, em republicanês, já sinalizaram que ficou mais caro aprovar qualquer coisa no Congresso até as eleições de 2018. Sem falar que, com as urnas já fazendo sombra, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, olha agora mais para fora do que para dentro do plenário.
Assim, depois da queima total que garantiu a sobrevivência do governo, poderá restar a Temer chegar ao último ano de seu mandato-tampão – ou seria mandato-tampinha?- comemorando cada migalha de boa notícia que permita a ele, pelo menos, tornar-se um eleitor relevante. Quanto à sua biografia, vamos deixar para os livros de história.
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