'Minha família vive uma injustiça', denuncia opositora venezuelana Daniel Ceballos (C), junto com sua esposa Patricia, em Caracas, em 12 de agosto de 2015

'Minha família vive uma injustiça', denuncia opositora venezuelana

AFP/Arquivos / JUAN BARRETODaniel Ceballos (C), junto com sua esposa Patricia, em Caracas, em 12 de agosto de 2015
Embora tema ser vítima de represálias ao retornar à Venezuela, Patricia Gutiérrez não pretende ficar calada. "Vamos continuar denunciando para o mundo o que acontece em nosso país", afirma com determinação a esposa do preso político opositor Daniel Ceballos.
Com o prêmio Sakharov à liberdade de consciência da Eurocâmara debaixo do braço, a prefeita em fim de mandato de San Cristóbal (oeste) fez uma viagem europeia que a levou a Luxemburgo, Alemanha e França para pedir "apoio internacional" diante da grave crise política e econômica vivida por seu país.
Na França, Gutiérrez foi recebida nesta segunda-feira na Prefeitura de Paris, mas espera ter a oportunidade de se reunir logo com o presidente Emmanuel Macron, que há alguns meses endureceu o tom com Caracas, chamando o governo de Nicolás Maduro de "ditadura".
"Acredito que seja muito importante que o presidente Macron, com sua credibilidade, possa demonstrar sua posição firme em apoio à Venezuela", considerou a prefeita de 34 anos em entrevista à AFP.
Também pediu a ajuda da França para "investigar e descobrir onde estão os recursos que membros de alto escalão do governo roubaram" e que, segundo ela, "estão em paraísos fiscais, ou em países europeus".
"Um governo que enriqueceu ilicitamente em um país (...) onde as pessoas vivem em meio à fome, ao desabastecimento, à escassez, ao alto custo de vida, não é justo", afirmou Gutiérrez.
- 'Minha família vive uma injustiça' -
Patricia Gutiérrez atualmente ocupa a cadeira que foi de seu marido. Após a prisão de Daniel Ceballos, ex-prefeito de San Cristóbal, esta engenheira se apresentou como candidata para sucedê-lo e ganhou com 73,2% dos votos.
Acusado de incitar a violência nos protestos contra o governo de Maduro que deixaram 43 mortos e centenas de feridos, Ceballos foi condenado a 12 meses de prisão, mas atualmente continua preso.
"Meu marido continua preso sem haver prova alguma de que tenha cometido esses crimes", conta, usando uma blusa que tem o rosto de seu marido estampado com as cores da bandeira da Venezuela.
"Durante os últimos três anos e nove meses minha família vive uma injustiça", assinala com a voz embargada essa mãe de três filhos pequenos, que denuncia as condições "desumanas" de prisão de seu esposo, dirigente do partido de oposição radical Vontade Popular.
"Recentemente esteve 62 dias em isolamento, sem poder ver seus advogados e sem visita familiar", afirma.
- 'Um ponto de honra' -
Após a vitória esmagadora do chavismo nas eleições municipais de 10 de dezembro, a oposição volta sua atenção para as presidenciais de 2018.
Visando essa disputa, que pode ser adiantada por Maduro, Gutiérrez reiterou a necessidade de contar com "observadores internacionais antes, durante e depois do processo", e de "realizar uma auditoria do sistema de voto eletrônico na Venezuela", que no passado foi alvo de acusações de manipulação.
Sobre as negociações de saída da crise entre governo e oposição, não parece otimista. "O regime da Venezuela utilizou o mecanismo de diálogo para continuar ganhando tempo no poder sem dar soluções aos problemas que o povo venezuelano sofre", considera.
Também se nega a reconhecer, como advoga o governo, a Assembleia Constituinte impulsionada por Maduro e integrada exclusivamente por chavistas, que rege como um "suprapoder" desde agosto.
"A luta contra a Assembleia Constituinte deixou nas ruas 130 jovens venezuelanos, que deram sua vida em rechaço a este processo. Isso para nós é um ponto de honra", declara.
Também criticou a decisão de ambas as partes, que acordaram continuar em 11 e 12 de janeiro as negociações em Santo Domingo. "Eu pergunto: o povo venezuelano pode esperar mais um mês revirando o lixo, sem remédios e com nossos presos políticos submetidos a contínuas violações de seus direitos? Eu acho que não", sentencia.

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