Ordem era não fechar UPA para atender feridos de guerra do tráfico em Macaé: "iam colocar fogo"


Violência Tráfico ameaçou funcionários de UPA no Rio: "Iam botar fogo" 
Pichação no bairro Lagomar, em Macaé, cidade do Norte Fluminense

Ordem era não fechar UPA para atender feridos de guerra do tráfico em Macaé: "iam colocar fogo"

Marcela Lemos
Colaboração para o UOL, no Rio

  • Marcela Lemos/UOL
    Pichação no bairro Lagomar, em Macaé, cidade do Norte Fluminense
Um dia após a disputa pelo tráfico de drogas no bairro do Lagomar, em Macaé, cidade do Norte Fluminense, ter espalhado pânico e transtornos, a cidade teve nesta quarta-feira (10) policiamento reforçado, e o serviço de transportes foi retomado.
Moradores contam que, desde o final do ano passado, já circulava a informação de que a facção ADA (Amigos dos Amigos) --a mesma do traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha--, iria invadir a região para tomar o controle do tráfico e expulsar o CV (Comando Vermelho) que atua no local. Muros do Lagomar foram pichados com as iniciais da ADA.
Um morador do Lagomar, que pediu para não ser identificado, contou que o CV chegou a reforçar a presença na comunidade. "Todo mundo aqui já tinha conhecimento que isso ia acontecer. Em outubro começaram os indícios. Foi possível até perceber que os traficantes estavam mais presentes, em alerta. Mas o tempo foi passando e a impressão que deu foi de que o CV baixou a guarda e hoje aconteceu tudo", diz o vendedor, que mora há dez anos na região.
Uma funcionária da UPA Lagomar (Unidade de Pronto Atendimento), que também pediu para não ter o nome revelado, disse que, durante o confronto entre traficantes rivais na terça-feira (9), a ordem dos bandidos foi que a unidade permanecesse aberta.
"A ordem era não fechar. Se fechasse, eles iam colocar fogo. Esse foi o recado dado. Eles precisam que a UPA funcione para atendê-los em caso de ferimento. Eles não querem ir para um hospital grande, pois sabem que ou não conseguem chegar lá devido aos confrontos ou se forem, serão presos", disse a funcionária. Já o posto de saúde do local, que faz apenas atendimentos ambulatoriais, teve que fechar as portas ontem.
Nesta quarta, Macaé recebeu homens da Polícia Militar de municípios vizinhos, como de Campos dos Goytacazes, Itaperuna e Santo Antonio de Pádua. Dois helicópteros estão sendo usados para monitorar a região.
Um morador contou que os acessos ao bairro onde aconteceu o conflito estão cercados pela polícia, mas ainda alguns preferiram não sair de casa. "Tem bastante polícia. Eles estão revistando carros e motos. O Lagomar está cercado, mas preferi não arriscar e ficar em casa hoje."
Os ônibus, que tiveram a circulação interrompida depois de cinco veículos serem incendiados, também voltaram a circular na manhã desta quarta, porém, com algumas mudanças em pontos de embarque que registraram confrontos --Lagomar, Aroeira e Centro.

TOQUE DE RECOLHER FECHA COMÉRCIO EM MACAÉ

Toque de recolher e escolas fechadas

A tentativa de invasão de traficantes rivais assustou os moradores de Macaé, que fica a 180 km da capital fluminense. Conhecida como a Capital Nacional do Petróleo, o município, um dos mais prósperos do Norte Fluminense, fica próximo à Bacia de Campos --além da Petrobras, reúne inúmeras empresas do ramo, inclusive, internacionais.
Ontem, o toque de recolher se estendeu por toda a cidade e outras regiões também registraram conflitos. Escolas tiveram as aulas suspensas e comerciantes fecharam mais cedo.
De acordo com moradores de Macaé, funcionários de bancos foram dispensados antes das 16h (horário de fechamento para o público). Profissionais da Petrobras também foram liberados. Para outra moradora da região, a cidade está sitiada.
"Os traficantes deram as ordens e uma delas era não sair de casa nesta terça-feira. A cidade acatou", conta uma professora do município.
Cinco pessoas ficaram feridas e um policial militar foi morto em confronto com criminosos --o cabo José Renê Araújo Barros, 35. Trata-se do primeiro policial morto em serviço no Estado neste ano.

"Polícia trabalha para restabelecer a ordem", diz secretário

Na terça, em entrevista à "Band FM de Campos", o secretário de Segurança do RJ, Roberto Sá, afirmou que as polícias Militar, Civil e Federal estão trabalhando para restabelecer a ordem na cidade.
"Em primeiro lugar, a polícia vai ficar aí na região até a situação voltar à normalidade. A vida deve tentar seguir a normalidade. A polícia está aí, está presente e não vai se ausentar. Posso garantir ao morador de Macaé que as polícias Militar, Civil e Federal estão trabalhando para restabelecer a ordem", declarou o secretário, que confirmou que o setor de inteligência já tinha informações sobre o início dos confrontos entre traficantes de grupos rivais.
"Notícias da área de inteligência sinalizavam para um embate entre facções criminosas. Mais uma vez, o tráfico de drogas, muito bem armado, criando essa lógica expansionista. A Polícia Militar, que já estava atenta, fez uma incursão em uma área em que havia criminosos de uma determinada facção. Houve um embate entre criminosos e a Polícia Militar e, lamentavelmente, nós perdemos um policial em serviço defendendo a sociedade", afirmou Roberto Sá.
O Disque Denúncia oferece recompensa de R$ 5.000 para quem trouxer informações que ajudem a esclarecer a morte do cabo da PM. Barros era casado e deixa três filhos.
copiado https://noticias.uol.com.br

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