06/06/2013 - 19:55
Governo britânico vai indenizar vítimas de crimes da era colonial no Quênia
LONDRES, Reino Unido (AFP)
O governo britânico aceitou indenizar milhares de quenianos, 60 anos
depois da violenta repressão ao levante Mau Mau, que, há meio século,
ergueu-se contra as autoridades coloniais, um momento trágico da
história colonial britânica.
Quase 10 mil pessoas, segundo as estimativas mais baixas, morreram - entre elas o avô do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama - e dezenas de milhares foram detidas durante a brutal repressão à revolta Mau Mau, entre 1952 e 1960. Na época, a atenção internacional se voltou para a morte de 32 colonos brancos.
O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, expressou seu pesar pelos crimes e informou ao Parlamento que as compensações chegarão a 19,9 milhões de libras (23,5 milhões de euros, 30,8 milhões de dólares), para 5.228 denunciantes representados por um escritório de advocacia britânico.
"Agradeço aos céus por estarmos vivos para ver este momento e por sermos indenizados pelas atrocidades cometidas", disse com alegria à AFP Habil Molo Ogola, de 78 anos, em Nairóbi. Ogola explicou que, depois de ter ajudado presos do Mau Mau a escapar, ficou detido durante três anos e sofreu torturas.
Gitu wa Kahengeri, porta-voz de uma associação de veteranos Mau Mau, de quase 90 anos, comemorou o que chamou de "um grande dia".
"O governo britânico entendeu que precisávamos de justiça. É o começo de uma reconciliação entre os Mau Mau e o governo da Grã-Bretanha. É fantástico para nós, que lutamos pela independência", disse.
Muitos opositores nunca usaram armas, mas foram torturados depois de terem ajudado os rebeldes, que promoviam ataques para recuperar as terras férteis que estavam nas mãos de colonos brancos. O movimento recrutava, principalmente, pessoas da comunidade kikuyu. Inclusive, o primeiro presidente do país, Jomo Kenyatta, era kikuyu e foi Mau Mau.
O Foreign Office alegava inicialmente que a responsabilidade por incidentes ocorridos durante a época colonial recaía sobre o governo do Quênia, uma vez que o país do leste da África se proclamou independente em 1963.
Porém, no mês passado, a diplomacia britânica confirmou negociações para chegar a um acordo com idosos quenianos que acusavam as forças imperiais de tê-los submetido a torturas, abusos sexuais e outros maus tratos.
"O governo britânico reconhece que houve quenianos submetidos à tortura e a outras formas de maus tratos por parte da administração colonial", disse Hague.
"O governo britânico lamenta sinceramente que estes abusos tenham ocorrido e que tenham afetado o avanço do Quênia em direção à independência. A tortura e os maus tratos são violações abomináveis à dignidade humana, que condenamos sem reservas", acrescentou.
Martin Day, do escritório de advocacia britânico Leigh Day, comemorou um "momento histórico".
"É corajoso reconhecer publicamente, pela primeira vez, a natureza terrível do passado do Reino Unido no Quênia", afirmou um dos advogados, Martyn Day.
Para Day, a decisão de indenizar as vítimas de tortura pode fazer com que outros cidadãos de antigas colônias britânicas - Iêmen, Malásia e Chipre, sobretudo - analisem uma possível ação judicial contra o governo de Londres.
Em outubro de 2012, o Tribunal Superior de Londres autorizou três quenianos - Paulo Muoka Nzili, Wambugu Wa Nyingi e Jane Muthoni Mara - a ir à justiça contra o governo da Grã-Bretanha. De acordo com seus advogados, o primeiro foi castrado; o segundo, espancado; e a terceira sofreu abusos sexuais em campos de detenção durante a revolta Mau Mau. A quarta vítima da repressão envolvida no processo, Susan Ngondi, morreu antes da decisão.
Além da indenização, que representa por pessoa cerca de 3,5 vezes o salário anual de um funcionário público queniano básico, o governo britânico indicou que contribuirá para a construção de um memorial em Nairóbi em homenagem às vítimas de torturas e maus tratos durante a era colonial.
Quase 10 mil pessoas, segundo as estimativas mais baixas, morreram - entre elas o avô do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama - e dezenas de milhares foram detidas durante a brutal repressão à revolta Mau Mau, entre 1952 e 1960. Na época, a atenção internacional se voltou para a morte de 32 colonos brancos.
O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, expressou seu pesar pelos crimes e informou ao Parlamento que as compensações chegarão a 19,9 milhões de libras (23,5 milhões de euros, 30,8 milhões de dólares), para 5.228 denunciantes representados por um escritório de advocacia britânico.
"Agradeço aos céus por estarmos vivos para ver este momento e por sermos indenizados pelas atrocidades cometidas", disse com alegria à AFP Habil Molo Ogola, de 78 anos, em Nairóbi. Ogola explicou que, depois de ter ajudado presos do Mau Mau a escapar, ficou detido durante três anos e sofreu torturas.
Gitu wa Kahengeri, porta-voz de uma associação de veteranos Mau Mau, de quase 90 anos, comemorou o que chamou de "um grande dia".
"O governo britânico entendeu que precisávamos de justiça. É o começo de uma reconciliação entre os Mau Mau e o governo da Grã-Bretanha. É fantástico para nós, que lutamos pela independência", disse.
Muitos opositores nunca usaram armas, mas foram torturados depois de terem ajudado os rebeldes, que promoviam ataques para recuperar as terras férteis que estavam nas mãos de colonos brancos. O movimento recrutava, principalmente, pessoas da comunidade kikuyu. Inclusive, o primeiro presidente do país, Jomo Kenyatta, era kikuyu e foi Mau Mau.
O Foreign Office alegava inicialmente que a responsabilidade por incidentes ocorridos durante a época colonial recaía sobre o governo do Quênia, uma vez que o país do leste da África se proclamou independente em 1963.
Porém, no mês passado, a diplomacia britânica confirmou negociações para chegar a um acordo com idosos quenianos que acusavam as forças imperiais de tê-los submetido a torturas, abusos sexuais e outros maus tratos.
"O governo britânico reconhece que houve quenianos submetidos à tortura e a outras formas de maus tratos por parte da administração colonial", disse Hague.
"O governo britânico lamenta sinceramente que estes abusos tenham ocorrido e que tenham afetado o avanço do Quênia em direção à independência. A tortura e os maus tratos são violações abomináveis à dignidade humana, que condenamos sem reservas", acrescentou.
Martin Day, do escritório de advocacia britânico Leigh Day, comemorou um "momento histórico".
"É corajoso reconhecer publicamente, pela primeira vez, a natureza terrível do passado do Reino Unido no Quênia", afirmou um dos advogados, Martyn Day.
Para Day, a decisão de indenizar as vítimas de tortura pode fazer com que outros cidadãos de antigas colônias britânicas - Iêmen, Malásia e Chipre, sobretudo - analisem uma possível ação judicial contra o governo de Londres.
Em outubro de 2012, o Tribunal Superior de Londres autorizou três quenianos - Paulo Muoka Nzili, Wambugu Wa Nyingi e Jane Muthoni Mara - a ir à justiça contra o governo da Grã-Bretanha. De acordo com seus advogados, o primeiro foi castrado; o segundo, espancado; e a terceira sofreu abusos sexuais em campos de detenção durante a revolta Mau Mau. A quarta vítima da repressão envolvida no processo, Susan Ngondi, morreu antes da decisão.
Além da indenização, que representa por pessoa cerca de 3,5 vezes o salário anual de um funcionário público queniano básico, o governo britânico indicou que contribuirá para a construção de um memorial em Nairóbi em homenagem às vítimas de torturas e maus tratos durante a era colonial.
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