Assad desafia Ocidente e Parlamento britânico compromete planos de Cameron

30/08/2013 - 01:35


DAMASCO (AFP)
O presidente sírio, Bashar al-Assad, desafiou nesta quinta-feira as potências ocidentais que aventam uma intervenção militar contra seu país, mas o governo britânico sofreu uma derrota com a rejeição por parte do Parlamento de uma moção que abria caminho para uma participação do Reino Unido em uma ação armada.
"A Síria se defenderá contra qualquer agressão e as ameaças não fazem mais que aumentar seu apego a seus princípios e a sua independência", declarou Assad.
A comunidade internacional continua em compasso de espera para tomar uma decisão sobre uma operação militar de represália contra Damasco.
No entanto, o governo britânico sofreu nesta quinta-feira um revés que compromete sua intenção de participar de uma ação armada, caso seja confirmado que as forças sírias utilizaram armas de destruição em massa contra civis.
De forma surpreendente, o Parlamento britânico rejeitou nesta quinta-feira uma proposta do governo do primeiro-ministro David Cameron que abria a porta para uma resposta militar contra o regime sírio por um ataque químico.
"Está claro que o Parlamento britânico não quer uma ação militar britânica", disse Cameron após a votação. "E o governo atuará em consequência disso", acrescentou.
A moção do governo foi rejeitada por 285 deputados e aprovada por 272. A desaprovação não veio apenas dos opositores, mas também da própria coalizão governamental conservadora-liberal, que conta com 359 dos 650 assentos da Câmara dos Comuns.
O resultado foi saudado com uma estrondosa ovação pelos deputados, que chegaram a ser repreendidos pelo presidente da Câmara.
A Câmara dos Comuns se reuniu de urgência para discutir o texto do governo que abria a porta ao uso da força se ficasse comprovada a responsabilidade do regime sírio no ataque, que causou centenas de mortes, segundo a oposição síria.
Cameron admitiu durante o debate que não estava convencido de que o regime Assad tinha sido responsável pelo ataque químico de 21 de agosto, mas reconheceu que "não há 100% de certeza".
"Não há 100% de certeza sobre quem é o responsável" pelo ataque de 21 de agosto, disse. "Não existe uma prova de inteligência determinante", continuou. "Mas acredito que podemos estar seguros quando se trata de um regime que usou armas químicas em catorze ocasiões, que é muito provavelmente responsável por esse ataque em grande escala, que, se nada for feito, chegará à conclusão de que pode usar essas armas outras vezes em grande escala com total impunidade".
No debate, houve muitas referências à invasão do Iraque em 2003, que terminou com a queda de Saddam Hussein, mas sem que houvesse provas da existência de armas de destruição em massa que serviram de justificativa para uma ação dada pelo então primeiro-ministro Tony Blair.
Pouco antes, o presidente americano, Barack Obama, manteve um tom mais forte a respeito de uma possível intervenção militar na Síria.
A Casa Branca frisou que reserva-se o direito de agir de forma unilateral contra o regime sírio para castigá-lo pelo uso de armas químicas, sem esperar a decisão da ONU, ou de aliados como a Grã-Bretanha.
Obama dará prioridade aos interesses dos Estados Unidos para decidir as ações a serem tomadas, disse seu porta-voz adjunto, Josh Earnest.
"O presidente deve, antes de tudo, prestar contas aos americanos que o elegeram para protegê-los. E o presidente está firmemente convencido de que a chave desta situação são as medidas necessárias para proteger nossos interesses básicos de segurança nacional", acrescentou o porta-voz.
Já a porta-voz do Departamento de Estado, Marie Harf, classificou as consultas internacionais sobre a Síria como "extremamente importantes". Mas advertiu: "Tomamos nossas decisões, seguindo nossa própria agenda".
Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que têm direito a veto, reuniram-se nesta quinta para tratar da crise provocada pelo uso de armas químicas na Síria, mas não houve avanços - disseram fontes diplomatas consultadas pela AFP.
-- Inspetores apresentarão relatório oral --
Enquanto isso, um porta-voz das Nações Unidas indicou que os especialistas da ONU em armas químicas coletaram elementos na Síria e darão um primeiro "relatório oral" ao secretário-geral, Ban Ki-moon, assim que retornarem no sábado de manhã, mas as conclusões finais deverão esperar que as análises sejam realizadas na Europa, informou um porta-voz nesta quinta-feira.
O "relatório oral" será dado pelo chefe dos inspetores, Aake Sellstrom, indicou Farhan Haq, porta-voz da ONU.
Na Síria, os especialistas, liderados por Sellstrom, "recolheram uma grande quantidade de elementos, entre amostras e relatos de testemunhas, e a partir disso poderão reconstituir um relato baseado nos fatos, que permita esclarecer os eventos mais importantes de 21 de agosto", acrescentou Haq.
As amostras coletadas pelos investigadores serão enviadas a laboratórios na Europa para serem analisadas, conforme o procedimento previsto pela Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas. O porta-voz levou a crer que essas análises poderão levar semanas.
Os especialistas devem deixar a Síria na manhã de sábado, assim como a alta funcionária da ONU para desarmamento, Angela Kane, que está em Damasco há alguns dias. O chefe da ONU concluirá sua visita a Viena antes do previsto para voltar a Nova York, aonde chegará na noite desta quinta-feira, explicou Haq.
"O secretário-geral espera receber um relatório oral e, assim que as análises de laboratório estiverem terminadas, apresentarão um informe final", declarou o porta-voz.
À espera de uma decisão, a Marinha americana enviou seu quinto destróier para o leste do Mediterrâneo, o USS Stout, além dos outros quatro equipados com dezenas de mísseis de cruzeiro Tomahawk, e a Grã-Bretanha despachou seis aviões militares Typhoon para sua base em Chipre para proteger seus interesses.
Entre os aliados do presidente Bashar al-Assad, a Rússia, que se opõe a qualquer intervenção na Síria e que dispõe de uma base naval no país, anunciou o envio ao Mediterrâneo nos próximos dias de dois navios de guerra.
Após as referências a uma ação iminente, os países ocidentais disseram que iriam aguardar os resultados da investigação dos especialistas da ONU sobre o ataque de 21 de agosto.
Nesta quinta-feira, os especialistas deixaram o hotel em um comboio de seis automóveis da ONU rumo a um local da região de Damasco não divulgado.
Na quarta-feira, os inspetores recolheram amostras de sangue, urina e cabelo das vítimas do suposto ataque químico nas localidades de Ghuta Oriental e Ghuta Ocidental.
Acusado por Londres, Washington e Paris por esse ataque, o regime sírio nega qualquer recurso a armas químicas no conflito.
Mas o Exército sírio se prepara para o pior no caso de uma intervenção militar ocidental contra o país, informou nesta quinta-feira uma fonte da segurança à AFP.
"Trabalhamos, como todos os exércitos do mundo, baseando-nos no pior cenário. Tomamos medidas para proteger o país do ataque e preparar as condições para uma resposta adequada", explicou a fonte.
A capital síria também se prepara para um confronto com os ocidentais, com controles mais rígidos nas barreiras rodoviárias, medidas de segurança reforçadas nos hospitais e um reposicionamento das Forças Armadas fora de seus postos de comando.
-- Divisões internacionais --
A divisão entre Rússia e China, por um lado, e Estados Unidos, Reino Unido e França, por outro, reflete fielmente as posições de cada um sobre o conflito que já deixou mais de 100.000 mortos e obrigou milhões de sírios a deixar o país desde março de 2011.
O presidente russo, Vladimir Putin, e a chanceler alemã, Angela Merkel, concordaram nesta quinta-feira que o Conselho de Segurança da ONU deve examinar primeiro o relatório elaborado pelos especialistas sobre o suposto uso de armas químicas perto de Damasco.
O papa Francisco e o rei da Jordânia, Abdullah II, declararam em um comunicado que "o caminho do diálogo e da negociação entre os componentes da sociedade síria, com o apoio da comunidade internacional, é a única opção para por fim ao conflito".
A Santa Sé insistiu na necessidade de por fim "aos atos de violência que causam todos os dias a perda de tantas vidas humanas, principalmente entre a população inocente".
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