Agricultura familiar encolhe; assistência social tem alta: saiba quais áreas ganham e perdem no Orçamento 2018 G1 comparou previsão de gastos nas propostas de orçamento de 2017 e 2018. Para o ano que vem, governo estima despesas totais de R$ 3,5 trilhões, alta de 2,98%.

Agricultura familiar encolhe; assistência social tem alta: saiba quais áreas ganham e perdem no Orçamento 2018


G1 comparou previsão de gastos nas propostas de orçamento de 2017 e 2018. Para o ano que vem, governo estima despesas totais de R$ 3,5 trilhões, alta de 2,98%.


Por Alexandro Martello, G1, Brasília
 
 O governo apresentou nesta semana a proposta de orçamento definitiva para o ano de 2018 e, com isso, indicou os valores que vão estar disponíveis para serem aplicados em políticas públicas e investimentos no próximo ano.
O G1 fez um levantamento e comparou os números com os do orçamento de 2017. A previsão para o valor total de gastos subiu 2,98%, para R$ 3,5 trilhões, em linha com o teto de gastos (que permite um aumento de até 3% em 2018.
Algumas áreas, como agricultura familiar, vão perder recursos em 2018 na comparação com o orçamento de 2017. Outras, porém, como fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), vão ter a verba ampliada (veja mais abaixo).
Os valores incluem gastos com pessoal e encargos, despesas correntes, investimentos, gastos financeiros, reserva de contingência, juros, encargos e amortização da dívida.
Do total de R$ 3,5 trilhões, R$ 1,77 trilhão foi reservado para o serviço da dívida e, outro R$ 1,72 trilhão, para gastos com pessoal, despesas correntes, investimentos e reserva de contingência.
A indicação de valores, neste primeiro momento, não significa necessariamente que estes recursos serão gastos. Isso porque o Congresso ainda tem de avaliar a proposta e pode fazer alterações.
Além disso, o governo também pode optar por bloquear recursos no próximo ano para cumprir a meta fiscal, ou seja, o resultado pré-fixado para as contas públicas, que é de déficit (despesas superiores às receitas) R$ 159 bilhões nas suas contas - algo que é muito comum.

Quem perdeu dinheiro?

A proposta de orçamento para o próximo ano mostra que houve uma forte queda de recursos disponibilizados para algumas áreas, entre as quais as políticas para agricultura familiar.
Na proposta de orçamento de 2017, foram indicados R$ 9,72 bilhões para a agricultura familiar. Para 2018, estão previstos R$ 6,28 bilhões, uma queda de R$ 3,44 bilhões ou de 35,4% de um ano para o outro.
As ações voltadas para reforma agrária também tiveram corte, de 28%, na dotação orçamentária para 2018, o equivalente a R$ 311 milhões.
O programa conhecido como "Educação de Qualidade para Todos" - que incentiva a formação inicial e continuada para a Educação Básica nas modalidades presencial e à distância e desenvolve programas, cursos, pesquisas e estudos do magistério e de estudantes de nível superior –, também foi afetado.
A dotação passou de R$ 45,4 bilhões em 2017 para R$ 41,99 bilhões no ano que vem, um tombo de R$ 3,47 bilhões.
O Bolsa Família, segundo os dados do orçamento, também perdeu valores, com sua dotação autorizada caindo de R$ 29,77 bilhões, neste ano, para R$ 28,7 bilhões em 2018 - um recuo de 3,6%, ou R$ 1,07 bilhão. O governo argumenta que fez um pente-fino no programa, retirando as famílias que não estavam dentro das regras estabelecidas.
A defesa nacional foi outra área fortemente atingida. Para 2018, estão previstos R$ 11,03 bilhões, contra R$ 13,3 bilhões neste ano, uma queda de 16,97%, o equivalente a R$ 2,25 bilhões.
Também foram restringidas dotações orçamentárias para Cultura (-15%, ou R$ 211 milhões a menos), comércio exterior (-17,8%, ou R$ 866 milhões de perda), políticas para mulheres (-52,6%, ou R$ 43 milhões), proteção dos direitos das crianças e adolescentes (-22,7%, ou R$ 9,5 milhões), direitos de pessoas com deficiência (-44,2%, ou R$ 13,3 milhões), povos indígenas (-4,2%, ou R$ 63 milhões).
O ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, afirmou que essa é a "realidade" do governo neste momento. Ele acrescentou que o Executivo procurou manter o funcionamento dos programas sociais em um "nível bom" e, também, dar andamento às obras mais importantes de infraestrutura.
"Temos de fazer escolhas. Temos de ter equilíbrio entre as diversas atividades do governo. O governo não tem nenhuma atividade desnecessária. Fizemos uma proposta que está muito equilibrada dentro das dificuldades que temos, pois há uma parte do orçamento, que são as despesas, crescendo o dobro do limite do orçamento. Tem uma parte que está comendo o orçamento das outras: a Previdência", afirmou ele.
PROGRAMAS COM OS MAIORES ORÇAMENTOS
Governo enviou ao Congresso Orçamento da União de 2018

Orçamento do programa, em R$ bilhões99,699,662,962,957,157,141,941,928,728,7SUSTrabalho decenteAssistência SocialEducação de qualidadeBolsa Família0100255075125
Fonte: Ministério do Planejamento

Quem ganhou?

O governo, porém, também prevê aumento de gastos para algumas áreas em 2018. O programa de fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) foi mais beneficiado: sua dotação saltou de R$ 91,03 bilhões em 2017 para R$ 99,63 bilhões no ano que vem (comparação feita com base nas propostas de orçamento).
A alta, nesse caso, foi de R$ 8,6 bilhões, ou de 9,45%. Pela regra de teto de gastos, a saúde e a educação têm um piso de correção pela inflação, ou seja, as despesas têm de subir pelo menos o valor da inflação. Mas, para subir acima disso, o governo precisa cortar recursos de outras áreas.
Também ganhou recursos o Sistema Único de Assistência Pessoal (SUAS), com indicação de R$ 57,18 bilhões em gastos no próximo ano, contra R$ 52,3 bilhões em 2017 - aumento de R$ 4,88 bilhões, ou de 9,33%. Assim como no caso so SUS, a assistência social teve seus gastos corrigidos bem acima da inflação (patamar de 3% considerado pelo teto de gastos).
O programa de promoção do trabalho decente também se destacou no recebimento de mais verbas no próximo ano. A dotação passou de R$ 57,82 bilhões, na proposta orçamentária de 2017, para R$ 62,91 bilhões em 2018 - um incremento de cerca de R$ 5 bilhões, ou 8,8%.

Também foram beneficiados com mais recursos no próximo ano os sistemas de gestão de riscos e de desastres (+86%, ou R$ 803 milhões a mais) e de energia elétrica (+8,37%, ou R$ 81 milhões), o desenvolvimento do turismo (+91%, ou R$ 235 milhões), a pesca e aquicultura (+19,8%, ou R$ 7,1 milhões), e promoção dos direitos da juventude (+9,7%, ou R$ 1,5 milhão).
ORÇAMENTO
Área ou programa
R$ em 2017
R$ em 2018
variação %
Fortalecimento do Sistema Único de Saúde
91 bilhões
99,6 bilhões
9,45%
Políticas para mulheres
81,6 milhões
38,6 milhões
-52,65%
Fortalecimento e dinamização da agricultura familiar
9,7 bilhões
6,2 bilhões
-35,4%
Aviação Civil
464 milhões
361 milhões
-22,14%
Inclusão social por meio do bolsa família
29,7 bilhões
28,7 bilhões
-3,6%
Ciência, tecnologia e inovação
3,5 bilhões
2,8 bilhões
-18,09%
Comércio exterior
4,8 bilhões
3,9 bilhões
-17,86%
Cultura: dimensão essencial do desenvolvimento
1,3 bilhão
1,1 bilhão
-15,6%
Defesa agropecuária
226 milhões
230 milhões
1,6%
Desenvolvimento regional e territorial
980 milhões
1 bilhão
2,8%
Energia elétrica
966 milhões
1 bilhão
8,3%
Promoção da igualdade racial e superação do racismo
24 milhões
25 milhões
4,71%
Esporte, cidadania e desenvolvimento
722 milhões
485 milhões
-32,8%
Consolidação do sistema único de assistência social
52,3 bilhões
57,1 bilhões
9,3%
Gestão de riscos e desastres
925 milhões
1,7 bilhão
86,8%
Geologia, mineração e transformação mineral
58,9 milhões
56 milhões
-4,9%
Pesquisa e inovações para agropecuária
367 milhões
332,3 milhões
-9,4%
Promoção dos direitos da juventude
15,1 milhões
16,6 milhões
9,7%
Mobilidade urbana e trânsito
1,4 bilhão
767,8 milhões
-48,1%
Moradia digna
7,6 bilhões
6,1 bilhões
-18,9%
Pesca e aquicultura
35,7 milhões
42,8 milhões
19,8%
Petróleo e gás
123,9 milhões
82,2 milhões
-33,6%
Planejamento urbano
7,1 milhões
2,8 milhões
-60,3%
Política espacial
266,8 milhões
151,4 milhões
-43,2%
Defesa nacional
13,2 bilhões
11 bilhões
-16,9%
Política nuclear
1 bilhão
614,6 milhões
-40,5%
Promoção, proteção e defesa de direitos humanos das crianças
41,9 milhões
32,4 milhões
-22,7%
Promoção e defesa dos direitos de pessoas com deficiência
23,3 milhões
13 milhões
-44,2%
Promoção e defesa dos direitos humanos
77,2 milhões
61 milhões
-20,9%
Proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas
1,49 bilhão
1,42 bilhão
-4,1%
Reforma agrária e governança fundiária
1,1 bilhão
790 ,9 milhões
-28,1%
Saneamento básico
1,5 bilhão
1,3 bilhão
-15,7%
Segurança alimentar e nutricional
736 milhões
321 milhões
-56,3%
Promoção do trabalho decente e economia solidária
57,8 bilhões
62,9 bilhões
8,8%
Desenvolvimento e promoção do turismo
255,7 milhões
490,6 milhões
91,8%
Agropecuária sustentável
20,1 bilhões
17,2 bilhões
-14,6%
Desenvolvimento da indústria, comércio e serviços
486,8 milhões
411 milhões
-15,5%
Educação de qualidade para todos
45,4 bilhões
41,9 bilhões
-7,6%
Justiça, cidadania e segurança pública
1,8 bilhão
2,2 bilhões
18,7%
Política externa
1,1 bilhão
935 milhões
-21,8
Recursos hídricos
2,1 bilhões
2,2 bilhões
4,3%
redução do impacto social do álcool e outras drogas
80 milhões
90 milhões
12,5%
Transporte aquaviário
5,7 bilhões
4,6 bilhões
-19,6%
Transporte terrestre
9,5 bilhões
7 bilhões
-26,5%
Aprimoramento do Ministério Público
90,8 milhões
93,1 milhões
2,5%
Presidência da República
2,42 bilhões
2,46 bilhões
1,33%
Ministério da Agricultura
6,1 bilhões
6,4 bilhões
4,8%
Ministério da Ciência
3,2 bilhões
3,1 bilhões
-2,8%
Ministério da Cultura
832 milhões
805 milhões
-3,2%
Ministério da Defesa
54,9 bilhões
58,7 bilhões
7,04%
Ministério da Educação
45,3 bilhões
49,2 bilhões
8,5%
Ministério da Fazenda
13,5 bilhões
16,3 bilhões
20,04%
Ministério da Integração
1,2 bilhão
1,1 bilhão
-4,3%
Ministério da Justiça
7,1 bilhões
8,3 bilhões
17,05%
Ministério da Saúde
13,7 bilhões
13,06 bilhões
-4,9%
Ministério das Cidades
1,2 bilhão
1,1 bilhão
-7,08%
Ministério das Relações Exteriores
2,07 bilhões
1,94 bilhão
-6,03%
Ministério de Minas e Energia
1,5 bilhão
1,6 bilhão
4,9%
Ministério do Desenvolvimento
972 milhões
1,03 bilhão
6,7%
Ministério do Desenvolvimento Social
6,7 bilhões
7 bilhões
4,1%
Ministério do Esporte
171 milhões
252 milhões
47,05%
Ministério do Meio Ambiente
1,62 bilhão
1,66 bilhão
2,4%
Ministério do Planejamento
4,5 bilhões
7,1 bilhões
57,3%
Ministério dos Transportes
3,3 bilhões
3 bilhões
-8,4%
Ministério do Turismo
129,5 milhões
125,9 milhões
-2,7%
Prestação de assistência jurídica gratuita pela Defensoria Pública
552,8 milhões
577,2 milhões
4,4%
Advocacia-Geral da União
3,05 bilhões
3,09 bilhões
1,4%
Ministério do Trabalho
1,8 bilhão
2,1 bilhões
16,02%
Ministério da Transparência
748,9 milhões
766,4 milhões
2,3%
TOTAL
3,39 trilhões
3,5 trilhões
2,98%
Fonte: Ministério do Planejamento

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