O Triângulo das Bermudas dos investimentos pré-operacionais

País - Sociedade Aberta

O Triângulo das Bermudas dos investimentos pré-operacionais

Reginaldo Gonçalves*
O mercado acionário no Brasil ainda é visto com resistência por vários investidores em virtude da falta de conhecimento e dos riscos que poderão ocorrer devido às situações no mercado interno, assim como reflexos no mercado externo. Tal diversidade impacta no cenário das companhias abertas, cada qual na particularidade de seu segmento, mais ou menos aquecido, com vendas somente no mercado interno ou explorando o mercado internacional, aliado a fatores políticos que têm deflagrado grandes problemas na manutenção dos negócios.
Além dos riscos inerentes à situação política e de mercado, a forma de gestão da empresa e a atuação dos seus dirigentes podem fazer a diferença entre o lucro e o prejuízo, assim como a distribuição dos seus resultados para os diversos investidores.
Todas essas situações estão sendo consideradas em uma empresa que já está em fase operacional, ou seja, produzindo e faturando. Já existe um histórico para se embasar e tomar a melhor atitude como investidor, minimizando os riscos.  O que chama a atenção é o investimento efetuado em empresas em sua fase pré-operacional, com promessas de ganhos elevados, instigando investidores, inclusive de fundos, a optarem por operações dessa natureza. Em alguns casos, elas não se tornam realidade e levam a prejuízos significativos, tudo em virtude de negociações que acenam com possibilidades futuras de bons negócios.
Emblemático é o caso das empresas de Eike Batista, como a OGX, que levaram acionistas minoritários a acreditar na possibilidade de segurança no investimento e de certa forma no aval da Bovespa e CMV (Comissão de Valores Mobiliários), órgãos responsáveis pelo monitoramento das negociações e pela fiscalização das companhias abertas, assim como proteção dos acionistas minoritários.
Não faz muito tempo, o governo brasileiro demonstrou preocupação com o grupo de Eike Batista. Acreditava que uma empresa de tão grande porte não poderia ruir, levando observadores a entender que havia esperanças de apoio na linha de financiamentos subsidiados pelo BNDES. Tal facilidade por  conta de empréstimos através de determinadas garantias poderiam, caso não houvesse por parte do grupo o pagamento, resultar em prejuízos que, indiretamente, afetariam não somente os investidores mas a população em geral.
A desconfiança relacionada a benefícios políticos pode mitigar o interesse de investidores de efetuar a colocação de recursos em novos negócios, principalmente por meio da Bolsa de Valores, onde os recursos que são levantados possuem um custo financeiro menor do que qualquer outra modalidade de financiamento.
A busca por capital através da Bolsa de Valores, por empresas já existentes, facilita para o investidor a opção de onde colocar os recursos, já que existe um histórico das operações. Por outro lado, as empresas em fase pré-operacional poderão levar os investidores a ter um maior risco. Essa situação é típica das pessoas que estão dentro  de uma espécie de  Triângulo das Bermudas, muitas vivem de ilusões ou acabam acreditando em uma estratégia de marketing buscando lucro rápido, que nem sempre se realiza.
Enquanto estão vivendo de noticiários favoráveis, o barco navega em águas calmas. Todos ficam tranquilos e apostam suas fichas na aplicação de mais recursos; os fundos de investimentos e os de pensão acreditam na potência futura da organização e na possibilidade de lucros que possam beneficiar seus investidores. Mas, ao sair da zona de conforto e ficar cara a cara com o assustador triângulo, a realidade vem à tona e transforma um investimento cujos benefícios prometidos seriam algo sustentável, em mais uma falácia.
A situação é bem similar à ocorrida com a empresa americana Eron, que se utilizou de artifícios contábeis para aumentar a receita, por conta de perspectivas futuras de negócios. Resultado: quebrou por falta de caixa. A operação foi estudada pelos proprietários, com suporte jurídico e de auditoria como alternativa de reconhecer receitas futuras que ainda não existiam, de fato, para aumentar o lucro da empresa de forma fantasiosa. Tal situação gerou escândalo, onde a transparência não existia, mas que foi demonstrada pela falta de recursos para liquidar suas dívidas.
O problema se agrava devido às recentes críticas a outras empresas ligadas ao grupo, onde o nome vem de multiplicador X, com questionamentos sobre os empréstimos do BNDES e favorecimento pela Petrobras na venda de área de petróleo. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vem investigando, e em breve  talvez tenhamos novidades.
Outra situação refere-se às informações relevantes que deveriam ser disponibilizadas ao público por conta da transparência e que foram omitidas pela LLX, onde se discute um acordo com a CVM para arquivamento do processo.
Todas essas situações acabam minando outras companhias, inclusive as que não têm ações negociadas em Bolsa e que são fornecedoras da empresa. Estas poderão ter problemas financeiros, em virtude da falta de recursos para continuar os projetos que infelizmente não foram adequadamente avaliados. Algumas delas correm o risco de insolvência por causa da situação interna, provocada pelo grupo.
Recentemente, acionistas que se sentiram prejudicados estão pleiteando na Justiça o bloqueio dos bens do fundador para garantir a recuperação do investimento. Mas somente haverá sucesso se a Justiça entender que o negócio foi mal gerido e que houve desvio de finalidade. Acredita-se, inclusive, que essa situação poderá gerar problemas para a Bovespa e a CVM, em virtude da insegurança de empresas pré-operacionais operando no mercado aberto.
Cabe ao investidor tomar as cautelas necessárias e ter sensibilidade que o mercado acionário é considerado de longo prazo. Os ganhos de curto prazo são para os especuladores. Os que querem investir com seriedade devem buscar empresas que apresentam boa performance de gestão e paguem continuamente dividendos. Há empresas com histórico de boa gestão e que distribui lucros cuja remuneração poderá ser bem atrativa.
* Reginaldo Gonçalves é coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina (SP).
COPIADO  http://www.jb.com.br/

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