"Estamos a caminho de uma nova Guerra Fria? Não. É uma má analogia"

"Estamos a caminho de uma nova Guerra Fria? Não. É uma má analogia"
Nacionalismo russo está em claro crescendo e explica atitude de Putin na Ucrânia, afirma Joseph Maiolo, professor do King"s College de Londres. E comparações com Hitler ou Estaline não fazem sentido, é...

"Estamos a caminho de uma nova Guerra Fria? Não. É uma má analogia"

por Leonídio Paulo Ferreira
"Estamos a caminho de uma nova Guerra Fria? Não. É uma má analogia"
Fotografia © Orlando Almeida / Global Imagens
Nacionalismo russo está em claro crescendo e explica atitude de Putin na Ucrânia, afirma Joseph Maiolo, professor do King"s College de Londres. E comparações com Hitler ou Estaline não fazem sentido, é mais a lógica de Alexandre I, czar que derrotou Napoleão.
O seu próximo livro é sobre a Segunda Guerra Mundial. Que acha das comparações que se fazem entre as cedências europeias na Checoslováquia em 1938 e o que aconteceu na Ucrânia?
Mark Twain dizia que a história não se repete, que rima. E isso é o mais próximo que podemos chegar em termos de leis gerais da história. Aquilo que quero sublinhar é que existem óbvias semelhanças entre a década de 1930 e os últimos dez anos: tivemos crise económica, uma crise generalizada de segurança e temos uma fragmentação da política em toda a Europa, que podemos ver sobretudo na ascensão dos partidos de extrema-direita. Isto, para mim, tem perturbadoras semelhanças com a década de 1930. Mas é Putin um Hitler? Ou a Ucrânia a nova Checoslováquia? Estamos a caminho de uma terceira guerra mundial, ou até de uma nova Guerra Fria? Não. É uma má analogia. Francamente, não acredito que estejamos a assistir a algo parecido às origens da Guerra Fria, pois esse era um conflito entre modos de vida.
Então é também abusivo falar de nova Guerra Fria, já que a Rússia, ao contrário da URSS, não tem ideologia para exportar nem os meios militares da antecessora?
Não é o mesmo. No Ocidente, sobretudo no mundo anglo-saxónico, qualquer inimigo é transformado em Hitler ou Estaline e isso destrói o foco. Não é modo de analisar a relação entre a Rússia e os Estados Unidos e a União Europeia, entre a Rússia e a NATO. E mostra também a dificuldade em percebermos que, mais do que disputas ideológicas, podemos ter conflitos de interesses com outras potências. Não estamos habituados a levar a sério os nacionalismos de outros povos. O que enfrentamos é um revivalismo do nacionalismo russo. Que Putin está a encarnar e a rentabilizar e estamos a fazer o jogo dele ao confrontá-lo. Porque o que quer é isso. Para romper com a economia internacional, relançar o setor militar, fechar o país às influências da internet, despejar as ONG porque as vê como agentes de mudança do regime.
Putin não é Hitler nem Estaline. É só um líder nacionalista russo? 
É como Alexandre I, o czar que em 1815 derrotou Napoleão. O problema é que no início dos anos 1990, quando a URSS colapsou, a Rússia tinha tantos problemas internos, que deixou de fazer sentir o seu poder e ficámos convencidos de que tinha aceitado uma nova ordem mundial. Mas a realidade é que nunca criámos essa nova ordem mundial. Tivemos um longo período de domínio militar americano, com as verdadeiras guerras a serem no Médio Oriente. Mas nunca lidámos com a relação entre potências.
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