"O peixe fede a partir da cabeça" Tensão explode na Casa Branca com entrevista de diretor de comunicação

Tensões explodem na Casa Branca com entrevista de diretor de comunicação

Pablo Martinez Monsivais/Associated Press
O diretor de comunicação da Casa Branca, Anthony Scaramucci, fala a jornalistas, em Washington
O diretor de comunicação da Casa Branca, Anthony Scaramucci, fala a jornalistas, em Washington

O novo diretor de comunicações do presidente Donald Trump transformou as tensões que fervilhavam na Casa Branca em uma conflagração aberta, na quinta-feira (27), desafiando o chefe da Casa Civil do presidente a negar que ele seja a origem de vazamentos par a imprensa e expondo os conflitos na ala executiva da sede do governo em linguagem mais apropriada a um filme sobre crime do que ao centro da estabilidade presidencial.
Em uma entrevista à rede de notícias CNN, concedida de improviso e na qual ele não economizou nos ataques mas que, segundo ele foi autorizada pelo presidente, Anthony Scaramucci atacou o chefe da Casa Civil, Reince Priebus, de maneira explícita. "O peixe fede a partir da cabeça", disse Scaramucci. "Só posso dizer que dois peixes não fedem, eu e o presidente".
Depois de menos de uma semana em seu novo posto, Scaramucci acusou outros funcionários importantes da equipe presidencial de tentar sabotá-lo e de cometer crimes ao permitir o vazamento de informações. Ele não identificou nominalmente os acusados. Mas as informações financeiras pessoais sobre ele que Scaramucci disse terem sido "vazadas" na verdade foram obtidas por uma solicitação de registros públicos.
Depois, em entrevista publicada pela revista "New Yorker" na noite de quinta-feira, Scaramucci usou um palavrão para acusar Priebus de ser um "paranoico esquizofrênico", e disse que Stephen Bannon, o estrategista-chefe da Casa Branca, só se interessava em lustrar a própria reputação.
Scaramucci também ameaçou funcionários da Casa Branca que deixaram vazar a informação de um jantar entre ele e o presidente.
"Todos serão demitidos por mim", disse Scaramucci à revista. "Demiti um cara outro dia. Amanhã vou demitir mais três ou quatro. Vou chegar à pessoa que vazou essa informação para vocês. Reince Priebus –se vocês querem vazar alguma coisa– será convidado a se demitir em breve".
No final do dia, Scaramucci parecia mais calmo, ainda que não arrependido.
"Eu às vezes emprego linguagem pitoresca. Vou deixar de fazê-lo, nesta arena, mas sem abandonar minha luta apaixonada pela agenda do @realDonaldTrump", ele escreveu no Twitter, acrescentando o hashtag #MAGA. (O hashtag é uma referência ao lema de Trump sobre recuperar a grandeza dos Estados Unidos.)
Ele também culpou o repórter Ryan Lizza. "Cometi o erro de confiar em um repórter", disse Scaramucci mais tarde. "Isso não voltará a acontecer".
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, aconselhou os jornalistas a lerem o primeiro tweet.
Kellyanne Conway, assessora sênior do presidente, havia especulado anteriormente em entrevista à rede de notícias Fox News que forças não identificadas estavam tentando derrubar Scaramucci, dizendo que "alguém está tentando bloqueá-lo e intimidá-lo".
"Há vazamentos, e pessoas que usam a imprensa para apunhalar adversários", ela disse.
Enquanto isso, ninguém na Casa Branca saiu em defesa de Priebus –nem mesmo Priebus. Sanders evitou responder de maneira direta quando perguntada se Trump confiava em Priebus.
As últimas 24 horas ofereceram provas muito claras de que Scaramucci e Trump, dois nova-iorquinos falastrões, são parecidos em muita coisa. Uma das técnicas de que os dois compartilham é envergonhar membros de suas equipes em público.
Os ataques de Scaramucci a Priebus vieram em um momento no qual Trump continua a se queixar muito de seu secretário da Justiça, Jeff Sessions, tanto em particular quanto publicamente. Trump criticou a decisão do Sessions de se afastar das investigações do Departamento da Justiça sobre possíveis elos entre o comando da campanha de Trump e a interferência russa na eleição do ano passado.
"Não foi a melhor semana em meu relacionamento com o presidente", admitiu Sessions em uma entrevista à Associated Press em El Salvador, onde ele estava em visita oficial para discutir como aumentar a cooperação internacional no combate a quadrilhas criminosas.
Ele disse que continuaria em seu posto e lutaria pela agenda de Trump "enquanto o presidente considerar que isso é apropriado".
Newt Gingrich, antigo presidente da Câmara dos Deputados e assessor informal de Trump, disse em entrevista que os ataques de Scaramucci a Priebus eram problemáticos.
"Eles precisam resolver a situação sem interferência externa, e seria melhor que não o fizessem em público", disse Gingrich,
Mas depois da ligação de Scaramucci a um programa da CNN –uma manobra que ele copiou de seu chefe–, fica difícil ver de que modo os dois assessores do presidente poderiam reparar os danos.
"Não sei se será ou não possível consertar o estrago –isso cabe ao presidente", disse Scaramucci, ao vivo. Ele comparou o relacionamento entre ele e Priebus ao de dois irmãos que "pegam pesado um com o outro", e invocou Caim e Abel. Um desses irmãos bíblicos assassinou o outro.
Os desentendimentos entre eles surgem da opinião de Scaramucci de que Priebus não apoiou Trump com entusiasmo suficiente na reta final da eleição, e da convicção de Scaramucci de que foi Priebus que impediu o presidente de inclui-lo em sua equipe em janeiro. Passados seis meses, o relacionamento estreito entre o presidente e Scaramucci resultou em que Trump ignorasse as objeções de Priebus e Bannon à sua indicação.
chegada de Scaramucci à Casa Branca, na sexta-feira passada, representou a queda do primeiro dos dominós que parecem apontados na direção de Priebus. O secretário de imprensa de Trump, Sean Spicer, um grande aliado de Priebus, renunciou na semana passada, e em seguida Scaramucci forçou a saída de outro assessor de comunicações próximo a Priebus.
Depois, Scaramucci recorreu ao Twitter para afirmar que alguém havia vazado ilegalmente informações financeiras confidenciais sobre ele. Scaramucci citou o nome de usuário de Priebus no Twitter de maneira proeminente, em seu post. Scaramucci mais tarde apagou o tweet, e disse que só havia mencionado Priebus para demonstrar que todos os líderes importantes do governo estavam encarando com seriedade a questão dos vazamentos.
"À luz do vazamento de minhas informações financeiras, que é crime, vou contatar o @FBI e o @JusticeDept. #pântano @Reince45", escreveu Scaramucci no tweet que viria a apagar posteriormente.
Na entrevista à CNN, Scaramucci disse que estava contatando seus "amigos" no Serviço Federal de Investigações (FBI) sobre o assunto.
Se Scaramucci tentar forçar o FBI a realizar uma investigação sobre os vazamentos, isso esbarraria na obrigação do Departamento da Justiça de funcionar independentemente da Casa Branca, disse Mark Zaid, advogado de Washington especialista em questões de segurança nacional.
"A coisa começa a não cheirar bem e está perto de constituir uma ação inapropriada", disse Zaid.
Brad Gerstman, lobista e executivo de relações públicas em Nova York, disse que provavelmente não importa que Trump e Scaramucci não se deem bem com Priebus. Gerstman já realizou trabalhos para a Trump Organization e é vizinho e velho amigo de Scaramucci.
"Na minha experiência, ele acredita que ter alguma fricção interna é o jeito de descobrir as melhores ideias", disse Gerstman sobre Trump.
Mas outra regra prática no círculo íntimo de Trump é que brilhar mais que o presidente nunca é uma boa ideia.
Trump reagiu com raiva quando certos assessores –entre os quais Bannon e seu genro Jared Kushner- atraíram grande atenção da mídia.
Ari Fleischer, que foi secretário de imprensa do presidente George W. Bush, comentou: "Basta perguntar a Stephen Bannon o que acontece se você recebe publicidade demais e vai mais longe do que deveria".
"É como Ícaro ao voar perto demais do sol", ele disse.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
copiado https://www.uol.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

Ao Planalto, deputados criticam proposta de Guedes e veem drible no teto com mudança no Fundeb Governo quer que parte do aumento na participação da União no Fundeb seja destinada à transferência direta de renda para famílias pobres

Para ajudar a educação, Políticos e quem recebe salários altos irão doar 30% do soldo que recebem mensalmente, até o Governo Federal ter f...