Trump se vira contra imigrantes da América Central e promete deportações
AFP / Nicholas Kamm
Em seu discurso desta sexta-feira, Trump prometeu "libertar as cidades" da presença da MS-13
Donald Trump visitou nesta sexta-feira Brentwood, em
Long Island, onde a gangue de origem salvadorenha MS-13, que o
presidente americano promete erradicar, aterroriza a população, e acusou
os imigrantes em situação ilegal provenientes da América Central como
causa de seu crescimento. Neste povoado, onde a sanguinária gangue assassinou 17 pessoas no último ano e meio, todos hispânicos, a maioria da América Central, a população tem tanto medo ou mais da agência migratória ICE e das deportações do que da Mara Salvatrucha (MS-13).
Em seu discurso desta sexta-feira, Trump prometeu "libertar as cidades" da presença da MS-13. "Uma por uma, vamos libertar as cidades americanas. Vocês acreditam no que estou dizendo? Falo de libertar as nossas cidades", insistiu o presidente.
Mais de 40 organizações locais afirmam que a visita de Trump a Brentwood é uma estratégia para atiçar a sua base mais conservadora e fazer avançar sua agenda de deportações.
Agitando cartazes e bandeiras, centenas de pessoas se manifestaram contra o presidente em frente à Suffolk County Community College, uma universidade do condado.
No auditório, o presidente declarou que a MS-13 cresceu devido à imigração da América Central e pediu à polícia mais firmeza e mais deportações de imigrantes em situação ilegal.
Trump também pediu ao Congresso que financie 10.000 novos agentes migratórios e que contrate mais juízes de migração e procuradores federais.
"Não sejam carinhosos com criminosos" imigrantes, disse sorrindo aos policiais. O governo de Barack Obama "tinha uma política de portas abertas com os imigrantes ilegais da América Central. Bem-vindos. Venham, por favor", ironizou.
"Como resultado, a MS-13 se alastrou pelo país e destruiu tudo". E continuou: "Fizeram uma carnificina com essas crianças. Sequestram. Extorquem. Estupram e roubam. Observam as crianças. Não deveriam estar aqui [...]. São animais".
"Mas isto mudará agora. Defenderemos nosso país, protegeremos nossas comunidades e colocaremos a segurança dos Estados Unidos em primeiro lugar", indicou o presidente.
Do outro lado da rua, cerca de 30 simpatizantes de Trump gritavam "mais oito anos!".
"A visita de Trump aqui é uma tentativa de generalizar a violência e associá-la com todos os latinos, um pretexto para ver se ganha votos, para promover o seu racismo", disse à AFP o manifestante Edwin Avila, salvadorenho de 44 anos e que há 20 anos mora em Brentwood.
Desde 2014, cerca de 8.000 menores de idade sem documentação chegaram a Long Island fugindo da violência das gangues e da pobreza na América Central. A polícia assegura que muitos são recrutados à força pela MS-13 para entrar no país.
A gangue nasceu entre imigrantes salvadorenhos em Los Angeles nos anos 1980 e foi exportada para a América Central. Hoje há 10.000 integrantes e está presente em todo o país. Em Long Island existem 400 membros.
Os ativistas de Brentwood e seus arredores se queixam que o governo federal nunca os perguntou do que a comunidade precisa para enfrentar a gangue. E dizem que a resposta não é criminalizar ainda mais as comunidades de imigrantes, mas ajudar as lotadas e pobres escolas públicas da área, e criar mais programas extracurriculares que mantenham os jovens fora das ruas.
Da capital de El Salvador, o procurador-geral dos Estados Unidos, Jeff Sessions, advertiu nesta sexta sobre o perigo da expansão internacional da MS-13, classificando como uma das gangues mais brutais do mundo.
"Hoje nos reunimos não muito distante da sede de uma das gangues mais brutais, conhecida como MS-13", disse Sessions durante discurso pronunciado em cerimônia de graduação de oficiais da Academia Internacional para o Cumprimento da Lei (ILEA).
Para o procurador americano, somente uma "coordenação multilateral" das autoridades poderá "frustrar eficazmente o flagelo das organizações criminosas transnacionais".
Sessions também qualificou o procurador salvadorenho Douglas Meléndez como "guerreiro" por sua "liderança e valentia".
- "Me olhar nos olhos" -
Robert Mickens, pai de Nisa, uma jovem de 15 anos morta esfaqueada e com golpes de bastões de beisebol em setembro junto com sua amiga Kayla Cuevas, está satisfeito com a visita de Trump.
"Sua presença mostrará às pessoas que estão levando o assunto a sério. Deve ajudar", disse à AFP Mickens, de 40 anos.
As autoridades não o contactaram, mas o que Mickens queria era que Trump o visitasse em sua casa, visse as fotos de sua filha e entendesse o vazio que ficou em sua vida.
O presidente "precisa me olhar nos olhos e ver a dor que existe, precisa ver o que me tiraram. Uma filha inteligente, atlética, com o coração de uma rainha", afirmou.
Para Jim Thompson, enfermeiro de 60 anos, "é muito positivo que Trump esteja aqui" para falar da violência das gangues e sua ligação com a imigração ilegal.
A polícia local diz ter prendido mais de 170 membros da MS-13 desde o assassinato das duas adolescentes, incluindo seus supostos autores e responsáveis pelas mortes de outros quatro jovens cujos corpos apareceram em abril em um parque público de Central Islip, povoado vizinho a Brentwood.
Quase 100% das vítimas da MS-13 são hispânicos em situação ilegal.
"Precisamos da cooperação da comunidade para resolver esses crimes. Mas uma comunidade aterrorizada por uma batida migratória não fará denúncias. A visita de Trump só prejudicará", considerou Phil Ramos, vereador democrata de Brentwood.
Trump provoca terremoto político ao demitir chefe de Gabinete
AFP / Nicholas Kamm
O presidente americano Donald Trump discursa no Suffolk Community College em Ronkonkoma, Nova York, no dia 28 de julho de 2017
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provocou
nesta sexta-feira um terremoto político ao anunciar a demissão de seu
chefe de Gabinete, Reince Priebus, que passou a semana no centro de uma
grande tormenta.Fiel ao seu estilo, Trump usou o Twitter para anunciar a nomeação do general John Kelly, atual secretário de Segurança Interna, como novo chefe de Gabinete. "É um grande americano", apontou em seu tuíte.
No entanto, agradeceu a Priebus "por seus serviços e sua dedicação a este país. Conseguimos muitas coisas juntos e estou orgulhoso dele".
Priebus, que durante anos ocupou a presidência do Comitê Nacional do Partido Republicano, foi uma peça fundamental na formação do governo depois das eleições, ao participar do comitê de transição.
Entretanto, a chegada de Anthony Scaramucci à Casa Branca como o novo chefe de Comunicações selou o destino de Priebus.
- Clima explosivo -
De acordo com Scaramucci, Priebus bloqueou durante cinco meses a sua chegada à Casa Branca.
Além disso, chegou à conclusão que Priebus era o principal responsável pela sequência de vazamentos à imprensa de assuntos internos da Casa Branca, incluindo informações comprometedoras.
Nesta semana, Scaramucci realizou uma explosiva ligação a um jornalista para pressioná-lo que dissesse quem lhe fornecia informações da Casa Branca, e o conteúdo da conversa se tornou público.
Na conversa, o diretor de Comunicações definiu Priebus como um "esquizofrênico paranoico" e adiantou que suas horas como chefe de Gabinete estavam contadas já que o identificaram como o principal responsável pelos vazamentos.
As tensões entre Scaramucci e Priebus tornaram o clima da Casa Branca explosivo nos últimos dias.
Em sua primeira aparição pública, Scaramucci deixou claro que Trump o havia chamado à Casa Branca para colocar ordem.
Por isso, disse que o presidente queria que acabassem os vazamentos, e insistiu que falaria "diretamente" com Trump, indicando que não pensava em debater nada com Priebus.
- Novo rosto na Casa Branca -
A ligação de Scaramucci a um jornalista na noite de quarta-feira precipitou as coisas.
Essa conversa rapidamente se espalhou por conta das expressões e xingamentos usados pelo chefe de Comunicações, mas, sobretudo, porque deixou à mostra o clima de luta interna nos corredores da Casa Branca.
A gota d'água foi um artigo sobre a declaração de imposto de renda de Scaramucci de anos atrás, que atribuiu a uma tentativa de Priebus de tirá-lo do caminho.
No entanto, o general Kelly é uma figura que tem um grande respeito por sua trajetória como militar e por seu desempenho à frente do Departamento de Segurança Interna.
Resta saber qual será a forma de agir que John Kelly escolherá no ambiente político da Casa Branca e se conseguirá domar Scaramucci, que claramente tem acesso direto ao presidente.
COPIADO https://www.afp.com/pt/
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