Kevin Spacey, Morgan Freeman e George Bush. "Eles também" foram alvo do #MeToo Harvey Weinstein foi o primeiro. Um ano depois, mais de uma centena de nomes foram denunciados pelo movimento de mulheres (e homens) que se dizem vítimas de assédio sexual




















 Kevin Spacey, Morgan Freeman e George Bush. "Eles também" foram alvo do #MeToo
Harvey Weinstein foi o primeiro. Um ano depois, mais de uma centena de nomes foram denunciados pelo movimento de mulheres (e homens) que se dizem vítimas de assédio sexual

Paula Freitas Ferreira
Foi há um ano. A 5 de outubro de 2017 a publicação de um artigo no New York Times intitulado "Harvey Weinstein pagou para queixas de assédio sexual desaparecerem" foi como um tremor de terra seguido de várias réplicas. De um dia para o outro, as notícias focavam homens poderosos atingidos na sua condenável fraqueza. As mulheres aparentemente perdiam o medo de contar que tinham sido vítimas de assédio sexual. O terramoto trouxe à superfície histórias, mas sobretudo nomes. Sucederam-se as demissões, os pedidos de desculpa e os desmentidos por parte de quem foi e é acusado. Quem são os homens (e a mulher) que o movimento #MeToo denunciou?
Harvey Weinstein. Foi oprimeiro a ser acusado. Duas semanas depois da peça do jornal, a The New Yorker deu rosto às histórias: Lucia Evans, Asia Argento, Mira Sorvino, Sophie Dix (que contou ter-se trancado num WC para fugir do produtor), Ambra Battilana Gutierrez - quando era finalista no concurso de Miss Itália -, Emily Nestor, que fora trabalhadora temporária na produtora de Weinstein - mas também Ashley Judd, Jessica Barth, Katherine Kendall, Rose McGowan, Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Cara Delevingne e Lea Seydoux, entre outras. No total, é acusado por 70 mulheres de assédio sexual (quatro acusam-no de violação). O produtor, que chegou a ser apelidado de "um bom menino judeu", foi despedido da sua própria produtora - The Weinstein Company - e acabou detido, em maio deste ano, e acusado formalmente de violação. Arrisca ser condenado a uma pena de até 25 anos de prisão.
Cristiano Ronaldo. É o caso mais recente. A norte-americana Kathryn Mayorga afirma que o futebolista a violou em 13 de junho de 2009 durante uma festa num hotel de Las Vegas, no estado norte-americano do Nevada. À data, a queixosa denunciou a presumível violação à polícia de Las Vegas e foi submetida a um exame médico. Entretanto, as autoridades reabriram a investigação sobre a alegada violação. Os advogados de Mayorga disseram que foi o movimento '#MeToo' quem deu à sua cliente "coragem" de denunciar o português. Cristiano nega categoricamente a acusação.
Brett Kavanaugh. O juiz, e nome indicado por Donald Trump - ele próprio acusado de assédio sexual por várias mulheres - para o Supremo Tribunal dos EUA - um cargo vitalício - é acusado por Christine Blasey Ford, professora universitária, de tentativa de agressão sexual quando ambos estavam no liceu. O próprio Presidente dos EUA é acusado por várias mulheres de assédio sexual, o que não o inibe de desdenhar publicamente do movimento. Ford, que foi ouvida, tal como Kavanaugh, no Senado, há uma semana, diz que o juiz lhe deu álcool durante uma festa, com o objetivo de a intoxicar, e que depois a prendeu numa cama e que a terá tentado apalpar. Kavanaugh nega esta acusação, bem como a de mais duas mulheres que também denunciam tentativas de abuso sexual por parte do candidato ao Supremo Tribunal.
Kevin Spacey. O ator Anthony Rapp alega que Kevin Spacey o levou para uma cama e que tentou abusar dele quando Rapp tinha apenas 14 anos. Num comunicado publicado no Twitter, Spacey disse que não se lembrava do encontro. "Estou demasiado horrorizado para ouvir essa história", escreveu Spacey. "Mas se eu me comportei como ele descreve, devo-lhe o mais sincero pedido de desculpas pelo que teria sido um comportamento profundamente inadequado de [de alguém] embriagado. Sinto muito por todos esses sentimentos que ele guardou durante todos estes anos", acrescentou o ator. Depois de Rapp, outros nomes se juntaram para denunciar Spacey de assédio sexual. A Netflix anunciou, em novembro, que tinha demitido Kevin Spacey da série "House of Cards", que protagonizava.
George H. W. Bush. Seis mulheres, incluindo a atriz Heather Lind, alegam que o ex-presidente dos EUA as assediou sexualmente. Roslyn Corrigan disse à TIME que viveu uma situação semelhante em 2003, quando tinha apenas 16 anos. O porta-voz de Bush pediu desculpas em seu nome, alegando que se Bush "ofendeu ou casou danos" a alguém "durante uma sessão de fotos" que o fez inconscientemente. O porta-voz de Bush já tinha dito que o ex-presidente afagou as costas de algumas mulheres num ato sem intenção sexual.
Oliver Stone. O realizador condenou o comportamento de Harvey Weinstein, mas acabou por ser denunciado pela modelo Carrie Stevens. Ao New York Daily News, Stevens contou que Oliver Stone teria agarrado um dos seus seios durante uma festa, há duas décadas. Patrícia Arquette também desabafou no Twitter que tinha tido um encontro "estranho" com Stone. Stone enviou flores à atriz e perguntou por que razão Arquette levara o namorado para uma sessão de cinema, quando o convite tinha sido só dirigido à atriz.
Larry Nassar. Mais de uma centena de ginastas acusaram o médico da Universidade Michigan State de assédio sexual, desde 1996. E enquanto não eram ouvidas, instauraram um processo contra Larry Nassar, mas também contra a organização USA Gymnastics, que acusam de não levar a sério as suas denúncias. As primeiras acusações datam de fevereiro de 2018, quando três antigas ginastas da USA Gymnastics - Jamie Dantzscher, Jeannette Antolin and Jessica Howard - denunciaram o médico, durante o programa da CBS, 60 Minutes. A campeã olímpica Aly Raisman também acusou o médico de abusos sexuais.
Ben Affleck. Também condenou o comportamento de Weinstein e também foi "recordado" que em 2003 tinha tocado no peito da apresentadora do "Total Request Live". Foi a própria Hilarie Burton quem o lembrou do sucedido, com a frase: "Eu não esqueci". O ator acabaria a pedir desculpas publicamente pelo sucedido. Mais tarde, uma maquilhadora também acusou Affleck de a ter assediado em 2014 durante a festa após a cerimónia dos Globos de Ouro.
Jeff Fager. Foi produtor executivo do programa 60 Minutes, da CBS News, e presidente da CBS News, mas deixou a estação de televisão a 12 de setembro. A saída de Fager aconteceu poucos dias depois do CEO da CBS, Les Moonves, também deixar a empresa. Seis mulheres acusam o produtor de tocar em funcionárias em festas da empresa e de proteger subordinados do sexo masculino acusados de assédio sexual.
James Franco. Poucas horas após ter recebido o Globo de Ouro de Melhor Ator Comédia ou Musical pelo papel em "Um Desastre de Artista", o ator começou a ser acusado de assédio sexual por ex-colegas nas redes sociais. Usara na lapela do casaco o pin com a expressão: "Time's Up", que pretende apoiar o movimento das mulheres contra o assédio, e foi criticado por isso. A atriz Ally Sheedy publicou no Twitter: "Belo pin Time's Up, James Franco. Lembras-te daquela vez em que empurraste a minha cabeça para baixo num carro em direção ao teu pénis expostoe outra vez em que disseste à minha amiga para ir ao teu hotel quando ela tinha 17 anos? Depois de já teres sido apanhado a fazer isso a outra rapariga de 17?", acrescentou.
José Mayer - O ator das novelas da Globo foi acusado de assédio sexual pela figurinista Susllem Meneguzzi Tonani. Após a denúncia, várias atrizes insurgiram-se e foi criada a hashtag #mexeucomumamexeucomtodas.
James Toback. O realizador de 72 anos é acusado de assediar sexualmente 38 mulheres, de acordo com um relatório publicado no Los Angeles Times. Segundo o documento, Toback atraía-as para lugares como quartos de hotel com a promessa de uma audição para um filme. Depois, tentavam que os encontros se transformassem em atos sexuais e ainda fazia perguntas sobre masturbação.
Gérard Depardieu. A Associated Press citou uma autoridade francesa para publicar a notícia de que o ator estava a ser investigado devido a alegações de violação e agressão sexual feitas por uma mulher de 22 anos. A mulher terá feito uma queixa formal onde alega que Depardieu a agrediu sexualmente durante seis dias. Os abusos teriam acontecido na casa do ator, em Paris. O advogado de Depardieu disse que o seu cliente "nega absolutamente qualquer violação, qualquer agressão sexual, qualquer crime".

Asia Argento: de acusadora a acusada

Asia Argento. Foi uma das primeiras mulheres a denunciar o assédio por parte de Harvey Wenstein, mas acabaria também ela por ser denunciada. Em agosto deste ano, o New York Times noticiava que a atriz abusara do ator Jimmy Bennett em 2013, quando o jovem tinha apenas 17 anos e Argento 37. A atriz teria pagado uma pequena fortuna ao ator pelo seu silêncio. Argento negou a acusação e disse que tinha sido o seu namorado - o chefe Anthony Bourdain, entretanto falecido - quem tinha recomendado pagar a Bennett para evitar "má publicidade". No entanto, pouco depois surgiram imagens comprometedoras da atriz com o jovem e reveladas mensagens que Argento trocara com uma amiga a falar sobre o caso com Bennett. Em setembro, o advogado da atriz disse que afinal existira uma relação sexual, mas que teria sido o ator a "atacar sexualmente" Argento.
Morgan Freeman. "Até Deus?", foi a brincadeira que surgiu nas redes sociais depois de oito mulheres terem acusado o ator de comportamento inadequado e assédio. As denúncias incluem toques indesejados e comentários sugestivos, segundo a CNN. Morgan Freeman negou as alegações através de um comunicado: "Estou arrasado porque os 80 anos da minha vida correm o risco de serem minados, num piscar de olhos, pelos relatos dos media. Todas as vítimas de agressão e assédio merecem ser ouvidas. E precisamos ouvi-las. Mas não é correto equiparar incidentes horríveis de agressão sexual a elogios ou comentários de humor mal interpretados", disse o ator.
David Copperfield. A manequim Brittany Lewis acusou o mágico de a drogar e agredir sexualmente em 1988, quando tinha 17 anos. Lewis contou que conheceu Copperfield quando este foi jurado num concurso de modelos. Em reação, o mágico disse que "O movimento #MeToo é crucial e há muito [que era] esperado. Todos desejamos que as pessoas que sentem que foram vítimas de conduta sexual imprópria possam falar e, como regra, devemos ouvir, para que mais se sintam à vontade [de denunciar]. E continuou: Imagine como é acreditar no movimento e ter sido falsamente acusado publicamente no passado", escreveu. "Ouça e considere tudo com cuidado, mas, por favor, pelo bem de todos, não se apresse em julgar", pediu.
Michael Douglas. Susan Braudy, jornalista e autora que trabalhou para a produtora de Douglas nos anos 1980, contou ao The Hollywood Reporter que o ator se masturbou à sua frente durante uma reunião em que estariam apenas os dois e que fez comentários impróprios sobre a sua aparência. Douglas negou o sucedido e acrescentou:"É uma mentira completa, fabricada, sem qualquer verdade".
Sylvester Stallone. Foi o Daily Mail a avançar a notícia: uma adolescente de 16 anos alega que o ator a agrediu sexualmente no final da década de 80 do século passado. A queixa consta de um relatório da polícia, mas a mulher acabaria por retirar a acusação. "É uma história ridícula e categoricamente falsa", disse um porta-voz de Stallone ao The Hollywood Reporter.
Peter Martins. Em janeiro de 2018, Peter Martins anunciou que deixaria de estar à frente do New York City Ballet, depois de ter sido acusado de condutas sexuais impróprias através de uma carta anónima em dezembro enviada à comunicação social. Na missiva, cinco bailarinos acusaram Martins de abusos verbais e físicos. Peter Martins negou as acusações mas optou por apresentar a demissão.
Steven Seagal. Portia de Rossi acusou o ator, na rede social Twitter, de ter aberto o fecho das calças durante uma audição. A atriz Julianna Margulies revelou também que um agente a enviou ao quarto de hotel de Steven Seagal para uma audição. As primeiras denúncias a envolver o ator em casos de assédio sexual remontam a 1998.
Dustin Hoffman. Anna Graham Hunter escreveu uma crónica no Hollywood Reporter onde alega que Hoffman a assediou sexualmente durante as gravações do filme Death of a Salesman (1985), quando Graham tinha apenas 17 anos. Hunter afirma que Hoffman a apalpou e que lhe dirigiu comentários impróprios. Hoffman reagiu: "Tenho o maior respeito pelas mulheres e sinto-me péssimo que qualquer coisa que eu possa ter feito a tenha colocado numa situação desconfortável. Sinto muito. Não é reflexo de quem eu sou". Pelo menos outras quatro mulheres também acusaram o ator de assédio sexual. O advogado de Hoffman disse à Variety que as acusações eram "falsidades difamatórias".

Movimento impediu entrega do Nobel da Literatura

É considerada a primeira condenação num julgamento ligado ao movimento #MeToo. O fotógrafo francês Jean-Claude Arnault foi condenado por um tribunal de Estocolmo a dois anos de prisão por um crime de violação ocorrido em 2011.
O escândalo explodiu em novembro de 2017, um mês depois das revelações sobre Harvey Weinstein. Os depoimentos de 18 mulheres publicados no jornal sueco Dagens Nyheter , em que acusavam o francês de violação ou agressão sexual, envolveram a Academia Sueca num escândalo que impediu que fosse atribuído o Nobel da Literatura de 2018 - após a demissão de vários membros -, algo que não acontecia há 70 anos.

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