Battisti desafia Bolsonaro e sustenta que não pode ser extraditado
AFP/Arquivos / Miguel SCHINCARIOLO ex-ativista esquerdista Cesare Battisti, condenado por assassinato na Itália à revelia em 1993, em entrevista à AFP em 20 de outubro de 2017
O ex-militante de extrema esquerda italiano Cesare Battisti desafiou nesta quarta-feira (31) o presidente eleito Jair Bolsonaro, ao afirmar que é um "charlatão", que não tem o poder de extraditá-lo para a Itália como prometeu.
"Bolsonaro pode dizer o que quiser. Eu estou protegido pela Suprema Corte. Suas declarações são palavras, é um charlatão. Ele não pode fazer isso. Existe justiça e eu, para a justiça, estou protegido", declarou Battisti ao telejornal da emissora italiana Radio Rai.
"Não estou nada preocupado. Não acho que Bolsonaro queira criar discórdia entre o poder Judiciário e o Executivo. Falar, a gente pode falar o que quiser. Eu não tenho problema", acrescentou Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália por homicídio.
Bolsonaro e o vice-premiê e ministro do Interior italiano, o ultradireitista Matteo Salvini, trocaram várias mensagens nos últimos meses nos quais sempre fizeram alusão ao caso Battisti.
"Reafirmo aqui meu compromisso em extraditar imediatamente o terrorista Cesare Battisti, amado pela esquerda brasileira, imediatamente em caso de vitória nas eleições", escreveu Bolsonaro no Twitter em meados do mês.
Uma promessa confirmada pelo deputado federal por São Paulo Eduardo Bolsonaro, que no dia seguinte à vitória do pai escreveu que "o presente está chegando" para a Itália, em alusão ao ex-ativista.
Battisti negou à emissora que queira fugir do Brasil e, segundo a reconstrução do jornal italiano La Stampa, assistiu no domingo à noite à transmissão ao vivo da apuração das eleições em um bar, acompanhado de amigos de Cananeia, no litoral paulista.
Em meados de outubro, em declarações à AFP, Battisti disse estar certo de que Bolsonaro não teria o "poder de decisão" de enviá-lo à Itália.
Battisti, de 63 anos, foi condenado à prisão perpétua por quatro homicídios na década de 1970, dos quais ele se declara inocente. Passou trinta anos foragido entre o México e a França, onde se dedicou a uma bem sucedida carreira de escritor de romances policiais antes de fugir para o Brasil em 2004.
Em 2010, a Justiça autorizou sua extradição para a Itália, mas o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu-lhe o estatuto de refugiado político.
Nos últimos anos, Roma multiplicou os pedidos de extradição deste homem, símbolo dos "anos de chumbo" na Itália.
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