MP suspeita que governo de Brasília fraudou doação de ingressos VIP para jogo do Brasil
Governo do Distrito Federal gastou R$ 2,8 milhões em mil ingressos para jogo de abertura da Copa das Confederações, em junho. Muitos dos supostos beneficiados, porém, não receberam os tíquetes. Entre eles, Giles Azevedo, chefe de gabinete da presidente Dilma Rousseff
MURILO RAMOS
19/09/2013 18h15
- Atualizado em
19/09/2013 18h15
O Ministério Público do Distrito Federal investiga se houve fraude na
distribuição de ingressos do governo de Brasília para o jogo Brasil x
Japão na abertura da Copa das Confederações no estádio Mané Garrincha,
realizado no dia 15 de junho. A relação de beneficiados com mil
ingressos – R$ 2.800 por convidado VIP –, repassada pelo governo ao MP,
conta com nomes de pessoas que afirmam não ter recebido os tíquetes.
“Essa lista é uma ficção”, afirma Maria Lúcia Morais, uma das promotoras
que acompanham o caso. “A possibilidade de ter havido desvios de
ingressos é uma das nossas preocupações”, afirma o promotor Roberto
Carlos Silva. Os ingressos foram comprados por uma estatal de Brasília
por R$ 2,8 milhões junto a uma empresa credenciada pela Fifa. Os
ingressos mais caros vendidos ao público no dia do jogo saíram por R$
500.
O Ministério Público pedirá o ressarcimento dos valores gastos na
compra de ingressos para a abertura da Copa das Confederações e a
responsabilização de quem interferiu para a aprovação da compra dos
ingressos. Os promotores não estão convencidos das justificativas
apresentadas pelo governo do DF para gastar R$ 2,8 milhões nos
ingressos. “Distribuir ingressos e camarotes para personalidades da
capital configura utilização de cargo público para autopromoção pessoal,
o que viola o princípio da impessoalidade da administração pública”,
afirma a promotora Maria Lúcia Morais.
Os promotores que acompanham o caso também ficaram surpresos quando
perceberam que o nome da chefe deles, a procuradora-geral de Justiça do
Distrito Federal, Eunice Carvalhido, estava na lista. Eunice Carvalhido
afirmou ter ido ao jogo a convite da Presidência da República - e não a
convite do Governo do Distrito Federal. De acordo com a procuradora,
funcionários do governo chegaram a perguntar se a procuradora tinha
interesse nos ingressos - oferta que, segundo ela, foi prontamente
recusada.
De acordo com a lista, dos 40 desembargadores do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal, 37 foram agraciados com convites. ÉPOCA perguntou a
eles se haviam recebido o ingresso, se tinham ido ao jogo e se não viam
conflito de interesses em receber presentes do governo, um dos maiores
litigantes do judiciário. Segundo nota oficial recebida por ÉPOCA, “os
desembargadores não vão se manifestar, neste momento, sobre o assunto”.
ÉPOCA, então, perguntou à Corregedoria Nacional de Justiça se a conduta
dos desembargadores – que, de acordo com o GDF, receberam os convites – é
correta. Por meio de uma nota, a Corregedoria afirmou que não poderia
se manifestar sobre o caso até que uma denúncia sobre o caso fosse
feita. De acordo com o código processual civil, “a suspeição de
parcialidade do juiz reputa fundada quando receber dádivas antes ou
depois de iniciado o processo”.
ÉPOCA também encontrou pessoas que estão na lista, receberam convites e
foram ao estádio. Uma delas é o ex-governador de Brasília Paulo
Octávio. Dono da maior empresa de imóveis de Brasília, Paulo Octávio
recebeu dois convites do GDF para assistir ao jogo num camarote, dádiva
oferecida a apenas dez convidados especiais. Paulo Octávio disse ter
usado apenas um convite e doado o outro a um empresário de Brasília.
Perguntado se concordava com a política do GDF de distribuir ingressos,
comprados com recursos públicos, a quem não precisa, afirmou: “A
Terracap é uma companhia de venda de imóveis. Ela (Terracap) tem na
Paulo Octavio (empresa) uma de suas maiores clientes. Achei que o
convite fosse um agrado aos bons clientes. E o jogo foi bom porque o
Brasil ganhou”, disse. Apesar da doação da Terracap, Paulo Octávio disse
que assistiria ao jogo de qualquer maneira porque já havia comprado
ingressos da Fifa. Outro que recebeu convite para o camorote foi o
empresário José Celso Gontijo, réu no processo do maior escândalo
político da história de Brasília, o mensalão do DEM, que culminou na
queda do ex-governador José Roberto Arruda.
Políticos ligados aos partidos de oposição foram alijados da lista. Os
presidentes do PSDB e do DEM, por exemplo, não foram convidados. A
deputada distrital Celina Leão (PSD), principal nome da oposição na
Câmara Legislativa do Distrito Federal, afirma que a política do governo
de Brasília é de bajular os aliados. “A doação desses ingressos é um
escândalo. Assim como é um escândalo a construção desse estádio
faraônico que só traz prejuízo aos cofres de Brasília”, afirma.
Procurada pela revista ÉPOCA, a secretaria de comunicação do governo do
Distrito Federal afirmou, apesar das evidências em contrário, que
“todas as pessoas da lista receberam os ingressos”. Afirmou não ter sido
possível checar se todos os presenteados com os convites estiveram no
estádio. Ainda de acordo com a nota, políticos de todos os partidos
foram convidados, só que alguns não aceitaram os convites. Por fim,
afirma que não há previsão de que a Terracap compre e doe ingressos para
as partidas que serão realizadas no estádio Mané Garrincha durante a
Copa do Mundo de 2014.copiado http://epoca.globo.com
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