Irã: analistas elogiam acordo mas preveem fases ainda mais difíceis

24/11/2013 - 19:58


Washington (AFP)
O acordo nuclear alcançado entre Irã e as potências mundiais é "sólido", embora restem seis meses de negociações muito difíceis para se conseguir um pacto completo - alertaram analistas consultados pela AFP em Washington, neste domingo.
"O acordo interino é sólido, com uma série de restrições e verificações sobre o programa nuclear iraniano mais amplas do que nunca", disse Suzanne Maloney, especialista em Irã na Brookings Institution.
Suzanne destacou que o acordo por seis meses obriga Teerã "a um contínuo processo diplomático, cujas principais recompensas diferem até que se obtenha um acordo muito mais ambicioso".
Após quase uma década de paralisia nas negociações entre o Irã e o grupo 5+1 (formado por China, Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia e Alemanha), conseguiu-se avançar em uma velocidade vertiginosa desde a chegada do presidente moderado Hassan Rohani ao poder, em agosto passado.
Esse acordo preliminar foi obtido em Genebra após três rodadas de negociações desde setembro.
"Acho que foi uma negociação dura, efetiva e significativa e que proporcionou o tipo de segurança exigida pelos negociadores para uma discussão legítima e exaustiva com o Irã sobre seu programa nuclear integral", afirmou Joel Rubin, do Ploughshares Fund.
O acordo concede mais tempo aos esforços das potências mundiais para evitar que o Irã tenha capacidades para fabricar uma arma nuclear, frisou Rubin, acrescentando que a aceitação por parte de Teerã de inspeções diárias em suas unidades de Natanz e Fordo "não tem precedentes" - assim como a contenção dos trabalhos em seu reator de Arak.
"É bastante surpreendente. Se você tivesse me dito, há poucos meses, que o Irã aceitaria, por meio de conversas diplomáticas, neutralizar suas reservas de urânio enriquecido a 20%, deter a construção e qualquer melhoria em Arak, permitir um monitoramento diário, eu lhe diria que essa é uma conquista para nossa segurança", disse Rubin à AFP.
Nada está garantido
Os analistas advertiram, contudo, que a próxima rodada de negociações para um acordo exaustivo pode ser muito dura.
Kenneth Pollack, sócio do Saban Center de Políticas do Oriente Médio na Brookings Institution, disse que é "plausível" pensar que o Irã e a comunidade internacional podem conseguir agora um acordo completo pelos próximos seis meses, mas "temos de estar conscientes de que esse passo pode ser muito, muito mais difícil".
Um potencial obstáculo será a insistência de Teerã ao seu direito de enriquecer urânio. O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, disse à imprensa, em Genebra, que o acordo tem "uma clara referência de que o enriquecimento continuará".
"Se Teerã insistir em manter os princípios - especialmente seu direito a enriquecer (urânio) e a suspensão de todas as sanções - um acordo pode ser impossível", completou Pollack.
A ira de Israel, inimigo ferrenho do Irã, assim como de parte dos congressistas americanos céticos e ansiosos por pressionar a República Islâmica com mais sanções, também pode causar problemas para o avanço das negociações.
Em nota, o presidente do Conselho Nacional Iraniano-Americano (Niac, na sigla em inglês), Trita Parsi, considerou que o acordo foi alcançado, porque "ambas as partes se comprometeram e se deram conta de que todos deveriam ganhar algo para tornar o acordo possível e duradouro".
"Ambas as partes deixaram as pressões e a escalada de lado, por um momento, e buscaram um compromisso. Essa é a essência da diplomacia", afirmou.
Uma combinação de circunstâncias - a surpreendente eleição de Rohani, as agonizantes sanções que estavam afetando o Irã - abriu "uma janela" para o acordo, concordou Rubin.
O secretário de Estado americano, John Kerry também considerou que "agora vem o trabalho mais duro, e realmente será duro".
"Vai ser um desafio para todos os sentimentos, concepções, ideologias e emoções que se acumularam nos Estados Unidos, no Ocidente, em Israel e em outras partes durante décadas. Será uma tarefa muito, mas muito difícil", antecipou Kerry.
"É um acordo que permite ganhar tempo, já que uma grande parte do programa nuclear iraniano será congelada por seis meses", acrescentou Bruno Tertrais, pesquisador da Fondation pour la Recherche Stratégique, em Paris.
"É um acordo que demonstra a validade da estratégia de firmeza do grupo 5+1 e, em particular, da França. Os que nos disseram, durante anos, que as sanções nunca funcionariam viram seu diagnóstico desmentido", acrescentou Tertrais.
 COPIADO  http://www.afp.com/pt/

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