francisco no oriente médio
O Papa Francisco estende as mãos aos muçulmanos na visita à Terra Santa
Pablo Ordaz
Amã
Bergoglio inicia, com elogios à Jordânia pela acolhida de milhões de
refugiados, sua visita de três dias à região. Em seu discurso, ele diz
que é urgente encontrar uma solução pacífica para a SíriaFrancisco: “É urgente encontrar uma solução pacífica para a Síria”
No início de sua visita à Terra Santa, o papa elogia a Jordânia por acolher milhões de refugiados
O Papa sabe que não é uma viagem precisamente fácil, que a cada palavra e a cada gesto será analisado milimetricamente, que tanto o que diga como o que silencie frustrará ou alimentará as expectativas –e também os ressentimentos– de palestinos e israelenses. Mas isto não impediu que em sua primeira parada de uma visita que pretende comemorar a feita por Paulo VI há meio século se convertesse em um elogio rendido à Jordânia e ao seu rei. Seu curto discurso de uma folha elogiou, nesta ordem, a solidariedade dos jordanianos, a liderança de Abdullah II e a “serena convivência entre os fiéis das diversas religiões”.
“Este país”, advertiu Bergoglio, “acolhe generosamente uma grande quantidade de refugiados da vizinha Síria, destruída por um conflito que está durando muito tempo. Este acolhimento merece o reconhecimento e a ajuda da comunidade internacional (…). Ao mesmo tempo que constato com pesar que continua havendo fortes tensões na região do Oriente Médio, aproveito a ocasião para renovar meu profundo respeito e consideração à comunidade muçulmana e expressar meu reconhecimento pela liderança que sua majestade o rei assumiu para promover um mais adequado entendimento das virtudes proclamadas pelo islã e a serena convivência entre os fiéis das diversas religiões”.
Depois de ser recebido pelos reis Abdullah e Rania no palácio Al-Husseini, o Papa se dirigiu ao estádio nacional de Amã para, como já tinham feito João Paulo II e Bento XVI, celebrar uma missa e dar a primeira comunhão a 1.400 crianças, muitas delas refugiadas.
A estada na Jordânia continuará com uma visita ao sítio batismal de Betânia, na orla do rio Jordão, e com um encontro com um grupo de refugiados e de jovens com algum tipo de deficiência. É só o começo da complicada agenda sobre a qual brincou Bergoglio quando, após decolar de Roma, ele começou a saudar, um a um, os jornalistas da comitiva papal. Depois de dar ânimo aos repórteres diante de uma viagem que qualificou como “esgotadora”, prometeu a todos que na volta se submeteria a perguntas, tal como fez após a visita ao Rio de Janeiro.
A viagem à Palestina desperta ressentimento e expectativas
Juan Gómez
Jerusalém
A visita acordou as esperanças dos simpatizantes internacionais da causa da independência palestinaA viagem do Papa à Palestina desperta ressentimento e expectativas na região
Francisco chega de helicóptero à Cisjordânia sem passar antes por Israel
Desembarcou esta manhã na Jordânia, onde visita um campo de refugiados sírios
Juan Gómez
Jerusalém
24 MAI 2014 - 10:29 BRT
A iminente visita papal a Israel e aos territórios palestinos despertou ressentimentos e expectativas na região conhecida como Terra Santa.
Entre os palestinos e —sobretudo— entre os simpatizantes internacionais
da causa de sua independência, o anúncio da vinda de Francisco
alimentou esperanças de uma mudança política ou diplomática em Roma.
Se apoiam na decisão papal sem precedentes de viajar de helicóptero diretamente da Jordânia, onde chegou nesta manhã,
até Belém, na Cisjordânia ocupada por Israel. Embora o Vaticano insista
que atenda a razões práticas, a chegada do papa à Palestina sem passar
antes por Israel é interpretada como o prelúdio de gestos ou de palavras
contundentes de apoio aos palestinos. Os três papas que visitaram a
região na era moderna, entre eles os dois antecessores imediatos ao
atual, entraram por Israel. Mas Francisco sairá da Jordânia diretamente a
Belém para, segundo diz seu programa explicitamente, reunir-se com “o
Presidente do Estado da Palestina” (e não dos territórios palestinos),
Mahmud Abbas, antes de ministrar uma missa a uma multidão.
Israel
não vê, apesar dessas novidades, “a iminência de nenhuma mudança” na
postura oficial do Vaticano em relação ao conflito entre Israel e a
Palestina. Um representante de sua diplomacia lembrava na quinta-feira
que “a Igreja não altera suas posições de um dia para o outro”. Na
Jerusalém ocidental, cujas avenidas principais estão enfeitadas com
faixas pontifícias e bandeiras municipais, não há dúvidas de que o novo
papa manterá as mesmas —“boas”— relações com Israel. Não esperam
mudanças “tampouco novidades”, além de um possível ato espontâneo.
Israel considera “provável” que o papa saia do protocolo com algum gesto
de solidariedade aos refugiados palestinos, por exemplo, ou com
críticas ao muro construído por Israel que atravessa os territórios
ocupados — Bento XVI o descreveu em 2009 como “a visão mais triste” de
sua visita—. Mas ainda que Governo de Israel “não goste nada” desses
possíveis gestos, ninguém prevê uma crise nem tensões relevantes.
O
programa do papa em Israel inclui uma visita, também sem precedentes,
ao túmulo de Theodor Herzl, o judeu austríaco que fundou o sionismo
moderno no século XIX. Francisco deixará uma coroa de flores em seu
túmulo. O que é uma mera etapa de cortesia nas visitas de mandatários
estrangeiros a Israel se amplia, no caso do papa, a outro gesto
conciliatório histórico. Faz 110 anos que Pio X negou —segundo contava
Herzl, em tom áspero— seu pedido de ajuda para fundar um Estado judaico
na Terra Santa. A subida papal ao Monte Herzl agrada aos israelenses na
mesma medida em que é desaprovada pelos palestinos.
Depois
de deixar flores no túmulo do padre do sionismo, o papa visitará Yad
Vashem, onde lembra os seis milhões de judeus europeus assassinados na
Alemanha na segunda Guerra Mundial. Falou-se da possibilidade de que o
Vaticano desclassifique parte dos arquivos relacionados com o Holocausto
depois desta visita.
O
patriarca de Jerusalém, o arcebispo Fouad Twal, já em abril procurava
diminuir as fortes expectativas em meio à visita papal. É uma “viagem
ecumênica”, destacou falando em castelhano a um grupo de jornalistas
espanhóis, concentrada em comemorar a reunião realizada em 1964 entre o
papa Paulo VI e o patriarca ortodoxo Atenágoras. Depois daquele encontro
na basílica do Santo Sepulcro, ambas as igrejas suspenderam as
excomunhões recíprocas que haviam levado ao grande cisma cristão de
1054. Por isso, Twal recomendou aos jornalistas que fiquem mais “atentos
aos gestos” do que às palavras do Papa durante a visita que começa
neste sábado.copiado http://brasil.elpais.com/brasil
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