As disparidades entre
rapazes e raparigas na forma de aprender não se devem a diferenças nas suas aptidões inatas, mas sim às suas
atitudes relativamente ao conhecimento, à forma como escolhem passam os tempos livres e à
confiança nas suas capacidades. E as
expetativas sociais e familiares e os métodos de ensino podem ajudar a explicar essas diferenças.
É o que revela o relatório da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE),
divulgado esta quinta-feira, que se baseia nos estudos
PISA, exames promovidos pela organização em mais de 70 países e territórios para avaliar
diferenças na educação.
Em média, os
rapazes têm maior probabilidade de não ser bem-sucedidos na escola e mesmo de
abandonar o ensino prematuramente, enquanto as
raparigas demonstram maior probabilidade de ter
dificuldades com a matemática e as ciências, mesmo entre as melhores alunas.
A
OCDE sublinha, porém, que no caso de territórios como Hong Kong ou
Singapura, onde se registam os melhores resultados nos exames PISA, não
existem diferenças significativas entre rapazes e raparigas em nenhuma
das áreas. O exemplo destes territórios mostra que
"as diferenças de género na aptidão escolar não são determinadas por diferenças inatas nas capacidades", lê-se no relatório.
No caso das raparigas, o insucesso na área da matemática e das ciências deve-se a
falta de confiança e ansiedade,
diz a OCDE, enquanto a maior probabilidade de insucesso escolar no caso
dos rapazes se deve mais ao seu comportamento, pois passam menos tempo a
fazer trabalhos de casa ou a ler do que as raparigas, e mais tempo a
jogar jogos de vídeo.
O relatório também enfatiza, porém, a
importância das expectativas de pais e professores, e a da igualdade de
género na sociedade em que o aluno está inserido.
Um esforço comum" pela igualdade
"É necessário um esforço comum de pais, professores, agentes políticos e
opinion-makers
para que tanto rapazes como raparigas consigam alcançar o seu potencial
e contribuir para o crescimento económico e bem-estar das suas
sociedades", avisa a OCDE.
No que toca às expectativas familiares,
o relatório mostra que os pais têm maior probabilidade de esperar que
os seus filhos, e não as suas filhas, trabalhem num campo científico,
mesmo quando o seu desempenho escolar é semelhante.
Em Portugal,
a diferença entre a quantidade de rapazes e a quantidade de raparigas
cujos pais esperavam que trabalhassem numa carreira científica é
superior a 30%.
"Os professores podem ter um papel
significativo na moldagem das atitudes dos alunos para com a
aprendizagem", destaca o relatório, que dá conselhos aos professores
acerca de como podem fazê-lo.
É possível concluir através dos
resultados dos exames PISA que as melhores estratégias no campo da
matemática são as que encorajam os alunos a pensar por si próprios e a
resolver problemas que não se prendam apenas com demonstrar conhecimento
adquirido, estratégias essas que ajudam mais as raparigas do que os
rapazes. No caso da leitura, a OCDE sublinha o sucesso do
desenvolvimento de uma relação positiva com a leitura, pedindo aos
alunos que exprimam opiniões, recomendando livros, ou ajudando-os a
relacionar as histórias com as suas vidas.
O estudo da
OCDE também se preocupou com o contexto social em que os alunos estão
inseridos, e concluiu que, nos países onde há mais mulheres que
trabalham, as raparigas saem-se melhor nos exames de matemática, e a
diferença entre rapazes e raparigas é significativamente menor. Mostrou
ainda que nos países menos economicamente desenvolvidos os desempenhos
são mais fracos, e os rapazes são os mais prejudicados nesses casos.
A
OCDE destaca que a procura de igualdade de género na educação não é
"apenas um imperativo moral", mas é também economicamente benéfico para
os países. Cerca de 50% do crescimento económico nos países-membros da
OCDE nos últimos 50 anos deve-se ao melhor desempenho educacional nesse
período. "Além disso, a educação - especialmente educação para meninas e
mulheres - reduz as taxas de mortalidade infantil, melhora a saúde
individual", lê-se no relatório.
A OCDE, fundada em 1961, é composta por 34 países, incluindo Portugal.
copiado http://www.dn.pt/
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