O mistério da consciência. Por que ninguém consegue explicá-la?
Por: Graham Hancock
A consciência é um dos grandes mistérios da ciência – talvez o maior deles. Todos nós sabemos que a temos quando pensamos, sonhamos, apreciamos sabores e aromas, ouvimos uma grande sinfonia ou nos apaixonamos, e ela é certamente a parte mais íntima, sábia e pessoal de nós mesmos. No entanto, ninguém pode realmente afirmar que a entendeu e explicou totalmente.
Não há dúvida de que a consciência está de algum modo ligada ao cérebro, mas a natureza dessa associação está longe de ser clara. Em particular, como esse pouco mais de 1,3 quilo de matéria dentro de nosso crânio permite-nos ter experiências?
O professor David Chalmers, da Universidade Nacional Australiana, apelidou essa questão de o “problema difícil” da consciência, mas muitos cientistas, sobretudo aqueles (ainda na maioria) filosoficamente inclinados a acreditar que todos os fenômenos podem ser reduzidos a interações materiais, negam que haja qualquer problema. Para eles, parece evidente que os processos físicos dentro da matéria do cérebro produzem consciência de certa forma como um gerador produz eletricidade – ou seja, a consciência é um “epifenômeno” de atividade cerebral. E eles veem como igualmente óbvio que não pode haver coisas como vida após a morte ou experiências fora do corpo, uma vez que tanto a consciência como a experiência estão confinadas ao cérebro e devem morrer quando o cérebro morre.
No entanto, outros cientistas com credenciais igualmente impressionantes não têm tanta certeza disso e estão cada vez mais dispostos a considerar uma analogia muito diferente – ou seja, que a relação da consciência com o cérebro pode ser menos a relação do gerador com a eletricidade que produz e mais a relação do sinal de TV com o televisor. Nesse caso, quando o televisor é destruído – morto –, o sinal ainda continua. Nada no atual estado de conhecimento da neurociência exclui essa possibilidade revolucionária. É verdade que se você danifica certas áreas do cérebro, determinadas áreas da consciência são comprometidas, mas isso não prova que essas áreas do cérebro geram as áreas relevantes da consciência. Se você quisesse danificar certas áreas do seu televisor, a imagem pioraria ou desapareceria, mas o sinal de TV permaneceria intacto.
Certezas científicas são relativas
Somos, em outras palavras, confrontados com uma proporção no mínimo similar de mistério e fato em torno do tema da consciência, e sendo esse o caso, devemos lembrar que o que parece óbvio e evidente para uma geração pode não parecer nada óbvio ou evidente para a próxima. Por centenas de anos, era óbvio e evidente para as maiores mentes humanas que o Sol se movia ao redor da Terra – bastava olhar para o céu, diziam, para ver a verdade dessa proposição. Aqueles que mantiveram a visão revolucionária de que a Terra se movia em torno do Sol enfrentaram a Inquisição e a morte na fogueira. No entanto, como se viu, os revolucionários estavam certos e ortodoxia estava terrivelmente, ridiculamente errada.
O mesmo pode muito bem ser verdadeiro em relação ao mistério da consciência. Sim, parece óbvio e evidente que o cérebro a produz (a analogia do gerador), mas isso é uma dedução a partir de dados incompletos e categoricamente não um fato estabelecido e irrefutável ainda. Novas descobertas podem forçar a ciência materialista a trocar essa teoria por algo mais parecido com a analogia da TV em que o cérebro passa a ser entendido como um transceptor (aparelho que combina um transmissor e um receptor), em vez de como um gerador de consciência, e em que a consciência é reconhecida como fundamentalmente “não local” na natureza – talvez até mesmo como uma das forças motrizes básicas do universo. No mínimo, deveríamos deixar em suspenso julgamentos sobre esse “problema difícil” até reunir mais evidências, e ver com desconfiança aqueles que defendem pontos de vista dogmáticos e ideológicos sobre a natureza da consciência.
É nesse ponto que toda a questão aparentemente acadêmica se torna intensamente política e atual, porque a sociedade tecnológica moderna idealiza e se concentra monopolisticamente em apenas um estado de consciência – o de alerta, o estado de consciência de resolução de problemas que nos torna produtores e consumidores eficientes de bens materiais e serviços. Ao mesmo tempo, nossa sociedade procura policiar e controlar uma vasta gama de outros estados “alterados” de consciência com base na proposição não comprovada de que a consciência é gerada pelo cérebro.
Guerra às drogas
Refiro-me aqui à chamada “guerra às drogas”, que é realmente melhor entendida como uma guerra à consciência e que sustenta, supostamente no interesse da sociedade, que nós, como adultos, não temos o direito ou a maturidade para tomar decisões soberanas sobre nossa própria consciência e os estados de consciência que desejamos explorar e abarcar. Essa imposição extraordinária sobre a liberdade cognitiva adulta é justificada pela ideia de que nossa atividade cerebral, perturbada pelas drogas, vai ter impacto negativo em nosso comportamento em relação aos outros. No entanto, qualquer um que pare um momento para pensar seriamente sobre o tema deverá perceber que já temos leis adequadas governando o comportamento adverso em relação aos outros e que o verdadeiro propósito da “guerra às drogas” deve ser, portanto, pressionar a própria consciência.
Uma confirmação disso veio do último governo trabalhista britânico. Ele declarou que sua política de drogas seria baseada em evidências científicas, embora em 2009 tenha demitido o professor David Nutt, presidente do Conselho Consultivo sobre o Abuso de Drogas, por ele ter afirmado o fato estatístico simples de que a maconha é menos perigosa (em termos de “danos” medidos) do que o tabaco e o álcool e que o ecstasy é menos perigoso do que andar a cavalo. Claramente, o que estava em jogo aqui eram questões ideológicas de grande importância para os poderes constituídos. E essa é uma ideologia que adere obstinadamente ao poder, independentemente de mudanças na natureza do governo do dia. A coalizão conservadora-liberal atualmente no poder no Reino Unido continua a ser tão inflexível em sua aplicação da chamada guerra às drogas quanto seus antecessores trabalhistas, e em nome dessa “guerra” segue despejando dinheiro público em grandes e armados aparatos burocráticos de repressão às drogas, que têm o direito de quebrar as portas na calada da noite, invadir lares, destruir reputações e pôr cidadãos atrás das grades.
Temos sido persuadidos de tudo isso, está em nossos próprios interesses. No entanto, se nós, como adultos, não estamos livres para tomar decisões soberanas – certas ou erradas – sobre nossa própria consciência, aquela parte mais íntima, sábia e pessoal de nós mesmos, então em que sentido pode-se dizer que somos absolutamente livres? E como vamos começar a assumir a responsabilidade real e significativa por todos os outros aspectos de nossas vidas, quando nossos governos procuram nos privar do mais fundamental de todos os direitos e responsabilidades humanos?
Drogas legais que alteram a consciência
Nesse contexto, é interessante notar que nossa sociedade não tem qualquer objeção à consciência alterada propriamente dita. Pelo contrário – muitas drogas que alteram a consciência, como Prozac, Ritalina, Seroxat e álcool, são maciçamente mais prescritas ou estão livremente disponíveis hoje, e geram grandes fortunas para seus fabricantes, mas permanecem totalmente legais, embora causem danos óbvios. Isso poderia ser explicado porque tais drogas legais não alteram a consciência de formas que ameacem o domínio monopolista do estado de alerta (de resolução de problemas) da consciência, enquanto diversas drogas ilícitas, como maconha, LSD e psilocibina, têm um efeito diferente?
Há uma revolução sendo gestada aqui, e o que está em jogo transcende a defesa da liberdade cognitiva como um direito adulto essencial e inalienável. Se for descoberto que o cérebro não é um gerador, mas um transceptor de consciência, então devemos considerar algumas pesquisas científicas pouco conhecidas que apontam para uma possibilidade aparentemente estranha, a de que uma determinada categoria de drogas ilegais – alucinógenos como LSD, DMT (presente na ayahuasca) e psilocibina – pode alterar o comprimento de onda do receptor do cérebro e nos possibilita contatar entidades inteligentes não materiais, “seres de luz”, “espíritos”, “elfos-máquinas” (como o etnobotânico norte-americano Terence McKenna os chamava), e talvez até mesmo os habitantes de outras dimensões. Essa possibilidade é considerada ponto pacífico pelos xamãs das sociedades de caçadores-coletores, que por milhares de anos fizeram uso de plantas de poder e de fungos para adentrar e interagir com o que eles interpretam como o “mundo espiritual”.
Curiosamente, isso também foi previsto pelo dr. Rick Strassman, professor de Psiquiatria da Universidade do Novo México (EUA), depois de sua pesquisa inovadora com voluntários humanos e DMT realizada na década de 1990 – um projeto que produziu resultados com implicações devastadoras para nossa compreensão da natureza da realidade.
Para mais informações sobre o trabalho revolucionário de Strassman, vejam seu livro DMT: The Spirit Molecule (que pode ser adquirido, em versões em inglês ou em espanhol, no site do autor: rickstrassman.com).
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