Aumenta apoio a ideias próximas à esquerda Pesquisa mostra reversão da vantagem da direita, com empate entre grupos Análise: O medo pauta a sociedade Eleitora: 'É tudo farinha do mesmo saco'


Aumenta apoio a ideias próximas à esquerdaReproduçãoPesquisa mostra reversão da vantagem da direita, com empate entre grupos






Cresce apoio a ideias próximas à esquerda, aponta Datafolha



Aumenta apoio a ideias próximas à esquerda  Pesquisa mostra reversão da vantagem da direita, com empate entre grupos   Análise: O medo pauta a sociedade Eleitora: 'É tudo farinha do mesmo saco'


 Cresceu o apoio da população a ideias identificadas com a esquerda do espectro político. Esse fato sobrepujou o avanço de algumas posições conservadoras, típicas da direita. O resultado líquido foi uma leve movimentação do perfil ideológico do brasileiro para a esquerda, retomando a situação de equilíbrio entre os dois polos.
O quadro é apontado por pesquisa do Datafolha que mede a inclinação ideológica no país. As perguntas elaboradas buscam demarcar as diferenças entre convicções associadas à direita e à esquerda, em temas econômicos e comportamentais.
Com base nas respostas, os eleitores são agrupados em uma das cinco posições da escala ideológica (esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita e direita).
CRESCIMENTO
35
ARMA
37
POBREZA
26
MIGRAÇÃO
60
CRIMINALIDADE
43
PENA DE MORTE
82
DROGAS
27
HOMOSSEXU-ALIDADE
86
RELIGIÃO
50
SINDICATOS
76
ADOLESCENTES
35
GOVERNO
49
IMPOSTOS
49
BENEFÍCIOS
30
EMPRESAS
33
LEIS TRABALHISTAS
22
CRESCIMENTO

Subiu, por exemplo, de 58% para 77% a parcela que acredita que a pobreza está relacionada à falta de oportunidades iguais para todos. Já a que crê que a pobreza é fruto da preguiça para trabalhar caiu de 37% para 21%.
7
7
15
20
25
32
nov 29
set 03
jun 22
Centro-esquerda
Centro-direita
Centro
Direita
Esquerda
28
32
20
13
7



No mesmo campo de ideias, cresceram a tolerância à homossexualidade (64% para 74%), a aceitação de migrantes pobres (63% para 70%) e a rejeição à pena de morte (52% para 55%).
"Esses valores foram se tornando mais abrangentes, não apenas bandeiras exclusivas da esquerda. A direita também foi se apropriando dessas causas. Ao mesmo tempo, o discurso radical foi se deslegitimando na sociedade", afirma Cláudio Couto, cientista político e professor do curso de administração pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
"Mas estabelecer essas classificações é sempre muito complexo. A noção de igualdade é ampla. Pode ser materializada no Bolsa Família, nas cotas, no aumento do salário mínimo. E aí o cidadão pode apoiar ou refutar cada uma dessas aplicações concretas", continua Couto.
No campo comportamental também são nítidos, ainda que insuficientes para compensar o avanço das ideias mais relacionadas à esquerda, alguns movimentos de conotação conservadora.
É o caso do direito do cidadão de possuir uma arma legalizada, defendido agora por 43% da população (em 2014, era por 35%). A opinião contrária ainda predomina, mas registrou declínio (de 62% para 55%).
Com relação às drogas, a opinião média nacional se manteve estável –dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Prevalece a ampla defesa da proibição (82% para atuais 80%).
Já na seara econômica percebe-se uma relativa estabilidade entre os grupos ideológicos, mas com movimentos contraditórios.
A maioria quer pagar menos impostos (51%) e depender menos do governo (54%), posições comumente associadas à direita. Contudo considera que o Estado deve ser o principal responsável por fazer a economia crescer (76%).
DIREITA CAI, ESQUERDA SOBE
A alta nas opiniões de viés mais progressista reverteu a vantagem, constatada em 2014, da direita sobre a esquerda. Os dois grupos voltam agora ao empate técnico.
No somatório, direita e centro-direita representam 40% da população. Na pesquisa anterior eram 45%. Já a soma de esquerda e centro-esquerda aumentou de 35% para os atuais 41%. O centro manteve-se com 20%.
Um ano após o impeachment de Dilma Rousseff, a pesquisa põe em dúvida a hipótese de que a direita teria se beneficiado do declínio petista e do desgaste sofrido por algumas das principais lideranças do partido.
"As medidas de ajuste propostas após a queda de Dilma são muito duras e ainda não demonstraram efeitos nítidos para a população. Isso abalou a imagem da direita. E ficou comprovado que o PT não detinha o monopólio da corrupção", diz Couto.

ANÁLISE

Numa sociedade pautada por medos, bandeiras da direita registram refluxo


O conjunto de resultados revelados pelo Datafolhanos últimos dias mostra um dos retratos mais dramáticos expostos pela opinião pública no Brasil pós-ditadura.
Se a redemocratização no país, em seu processo de amadurecimento, foi marcada pelo mote da esperança, discurso alimentado por diferentes campanhas ao longo dos anos, o que se vê hoje é uma sociedade pautada por desalento e, especialmente, por medos.
O brasileiro teme não só a violência urbana, como bem descreveram Renato Sérgio de Lima e Arthur Trindade Maranhão Costa em análise de pesquisa Datafolha na parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgada na "Ilustríssima" de domingo (25 de junho), como também se mostram fortemente inseguros sobre as crises política e econômica que dominam o cenário.
A primeira ideia associada ao país é negativa para 81% de seus habitantes adultos e positiva para apenas 8%.
Em novembro de 2010, essas taxas correspondiam a 54% e 28%, respectivamente.
Menções à corrupção como "top of mind" do Brasil cresceram quase 20 pontos percentuais em pouco menos de sete anos e ficam oito pontos acima da média entre os mais jovens, segmento que, segundo projeto desenvolvido pelo Datafolha com o Instituto Etco, divulgado sábado (24) nesta Folha, não se enxerga agente de mudanças nesses quesitos.
Respostas como "porcaria", "desastre", "catástrofe", "decepção" e "desgosto" subiram mais de 10 pontos no mesmo espaço de tempo.
A vergonha de ser brasileiro nunca foi tão alta e o pessimismo sobre a economia continua majoritário.
O descrédito sobre as instituições democráticas eleva-se a patamares históricos e poupa apenas os que têm por função manter a ordem e "anular o medo" –as Forças Armadas lideram em confiança e o temor da polícia, especialmente da militar, cai dez pontos.
O receio de andar pela vizinhança à noite, por outro lado, mantém-se em patamares elevados, com 60%, dados que ajudam a entender o desempenho do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) nas intenções de voto para presidente da República.
LEVE REFLUXO
Mas, na matriz ideológica gerada pelo Datafolha com base na concordância dos entrevistados com algumas frases polêmicas, nota-se leve refluxo de tendência do eleitorado brasileiro, que pendia à direita há três anos, em meio à disputa presidencial de 2014.
A população agora divide-se novamente em duas correntes simétricas, 41% à esquerda, 40% à direita e 20% no centro, a exemplo do que se observava em novembro de 2013, após as manifestações de junho.
A agenda antissocial de um governo impopular que vem se dedicando a reformas em setores nevrálgicos, e envolto em denúncias da Lava Jato, reflete-se na opinião pública sob a forma de ameaças a direitos conquistados.
Refuta-se mais a interferência do governo na iniciativa privada, mas se valoriza o papel do Estado como agente facilitador para o desenvolvimento econômico e para socorrer empresas nacionais.
A meritocracia, tão presente no debate de 2014, é colocada em xeque no ambiente de crise e desemprego crescentes.
Frases que creditam problemas sociais à "falta de oportunidades iguais" são as que mais sofrem mudanças em relação à matriz de três anos atrás.
Parte da população volta a ficar sensível ao discurso de inclusão do petismo, o que explica o crescimento de preferência pelo partido e a liderança de Lula nas pesquisas.
Entre os eleitores do ex-presidente da República, por exemplo, 81% acreditam que "boa parte da pobreza está ligada à falta de oportunidades iguais para que todos possam subir na vida".
Entre os que pretendem votar nos tucanos Alckmin e Doria, esses índices são mais baixos. Entre os de Bolsonaro (PSC) caem ainda mais.
Nenhuma outra variável de posicionamento ideológico tem maior correlação com a intenção de voto no candidato do PSC do que a crescente defesa da posse de armas. Em 2013, 30% dos brasileiros concordavam com a frase "possuir uma arma legalizada deveria ser um direito do cidadão para se defender".
Hoje, essa taxa corresponde a 43% no total. Entre os eleitores de Bolsonaro, chega a 62%, entre os de Lula cai para 41% e entre os de Marina (Rede) só atinge 32%.
Mas, considerando-se o espaço que a corrupção ocupou no imaginário do brasileiro e a força do juiz Sergio Moro nesse contexto –único nome numericamente à frente de Lula no segundo turno– vale a observação do posicionamento de seus simpatizantes em relação a alguns temas.
A reprovação a Temer entre os que apoiam o juiz fica nove pontos abaixo da média. Na última eleição presidencial, a maior parte deles votou em Aécio Neves e, em comparação com os eleitores de Lula, são mais favoráveis à posse de armas, muito menos simpáticos a sindicatos e mais liberais em relação ao aborto, e também em termos econômicos.
No entanto, se tem algo praticamente unânime entre os eleitores de ambos é a concordância com a afirmação de que no Brasil, a Justiça trata os ricos melhor dos que os pobres. 

'É tudo farinha do mesmo saco', diz vendedora que votou em Aécio


O refluxo de teses da direita e o crescente sentimento de desalento da população apontados pela última pesquisa do Datafolha podem ter relação direta com a Operação Lava Jato.
"Votei para presidente no Aécio [Neves, do PSDB] em 2014 porque não tinha coisa melhor, mas me decepcionei muito com a direita. Achava que ela fosse resolver o problema, mas percebi que é tudo farinha do mesmo saco", diz a vendedora Célia Gusmão, 57, que trabalha na rua Oscar Freire, área nobre de São Paulo.
Segundo ela, a Lava Jato foi definitiva para chegar a essa conclusão. "A gente já tinha ideia de que a coisa não era honesta, todo mundo tinha certeza que roubavam mesmo, mas com a Lava Jato começaram a se abrir todas as portas", afirmou.
Em outubro de 2014, o país atingia o auge da polarização ideológica entre os eleitores de Aécio e da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) –que obteve a reeleição naquele ano por estreita margem.
Desde então, se aprofundaram as crises econômica e política, o Brasil adicionou mais um impeachment à sua história e a Operação Lava Jato chegou para atestar que a corrupção não é exclusiva de um só partido.
Ao atingir caciques do PSDB, sobretudo Aécio, mas também o senador José Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, as revelações da operação decepcionaram eleitores da direita.
Para parte do eleitorado, as certezas de 2014 parecem ter sido substituídas por uma única: a de que não existe partido confiável.
"Não dá para confiar em nenhum dos lados", afirma o engenheiro Luiz Eduardo Ferreira, 40.
Ex-eleitor de Aécio, Ferreira também se diz desencantado com a direita após a Lava Jato. "E olha que sou de Minas Gerais, já conhecia a falcatrua que faziam no Estado", declarou ele
COPIADO https://www.uol.com.br/

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