PUBLICADO EM 27/07/17 - 03h00
Sem sequência em apurações, crimes começam a prescrever
Verbo Vivo. Oito anos após primeiras denúncias, Justiça arquivou processos, e promotoria não apura crimes
Oito anos depois das denúncias envolvendo a Igreja Movimento Verbo Vivo, em São Joaquim de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte, não há investigação criminal em curso. A Igreja é suspeita de violência física, abuso psicológico, ameaça e crime contra os direitos humanos. Os dois inquéritos instaurados pela Polícia Civil na época foram arquivados pela Justiça – o motivo não foi informado. O Ministério Público tem um inquérito civil em sigilo desde então, mas sem previsão de análise criminal. Enquanto isso, os crimes, se forem comprovados, começam a prescrever. É o caso dos maus-tratos, que não podem ter punição depois de quatro anos.
A Polícia Civil foi insistentemente procurada pela reportagem nos dois últimos dias para comentar suas investigações que não caminharam na Justiça, mas ninguém quis posicionar-se. Em 2009, o então delegado do caso, Geraldo Toledo, chegou a dizer a O Tempo que estava tendo dificuldades para tocar as investigações. “Uma avó procurou o Ministério Público para denunciar que não via a neta fazia dez meses, ela estava presa nessa Igreja. Pedi, no dia 25 de junho, um mandado de busca e apreensão ao Fórum de Igarapé, que não foi julgado pela juíza. Tenho informações de que dentro do fórum há pessoas ligadas à Igreja Verbo Vivo. Acredito que essas pessoas estão embaraçando o julgamento desse mandado e que a juíza de Igarapé ainda não tem conhecimento dos fatos”, disse o delegado à época. Representantes do fórum recusaram-se a comentar o caso.
A assessoria do Ministério Público reafirmou que a investigação em andamento desde 2008 corre em sigilo e apenas acrescentou que se trata de inquérito civil público, uma apuração administrativa, não criminal.
Denúncias. A reportagem falou na quarta (27) com cinco ex-membros da Igreja. Uma delas, uma advogada de 25 anos, confirma os abusos, lamenta a falta de seguimento das investigações e diz que a Igreja “se esconde na liberdade religiosa”. “Toda vez que os líderes eram abordados, diziam que estavam sofrendo perseguição religiosa. Negavam qualquer crime e diziam que as práticas deles eram de acordo com a liberdade religiosa”.
Um contador de 25 anos entrou para a Igreja aos 2 anos e lá ficou por 18 anos. “Sou homossexual e sofri muito. Eles me colocavam em uma sala, e 50 pessoas vinham gritar. Eles falavam que eu teria que gostar de mulheres, ou morreria de Aids”, relembra.
Uma mulher que ainda tem conhecidos na Igreja e terá a profissão e idade preservadas lembrou que nem ao banheiro podia ir sozinha quando estudava na propriedade da Igreja. “Uma vez, quando tinha 9 anos, um colega pediu para ir ao banheiro, mas não havia ninguém para levar. Ele urinou na sala. Depois, foi levado para outra sala, e não sei o que aconteceu”, conta. Ela procurou o Ministério Público, mas disse que “nada foi feito”.
Uma mulher de 80 anos contou que um dos filhos ficou mais de dez anos “preso à Igreja”. “Ele ficava na casa de uma senhora direto e não podia sair de lá. Quando ele ia lá em casa, ficava dentro do quarto ouvindo um CD deles, era lavagem cerebral. Foi muito triste. Um filho tão querido que começou a mudar e mudar”, detalha.
A Polícia Civil foi insistentemente procurada pela reportagem nos dois últimos dias para comentar suas investigações que não caminharam na Justiça, mas ninguém quis posicionar-se. Em 2009, o então delegado do caso, Geraldo Toledo, chegou a dizer a O Tempo que estava tendo dificuldades para tocar as investigações. “Uma avó procurou o Ministério Público para denunciar que não via a neta fazia dez meses, ela estava presa nessa Igreja. Pedi, no dia 25 de junho, um mandado de busca e apreensão ao Fórum de Igarapé, que não foi julgado pela juíza. Tenho informações de que dentro do fórum há pessoas ligadas à Igreja Verbo Vivo. Acredito que essas pessoas estão embaraçando o julgamento desse mandado e que a juíza de Igarapé ainda não tem conhecimento dos fatos”, disse o delegado à época. Representantes do fórum recusaram-se a comentar o caso.
A assessoria do Ministério Público reafirmou que a investigação em andamento desde 2008 corre em sigilo e apenas acrescentou que se trata de inquérito civil público, uma apuração administrativa, não criminal.
Denúncias. A reportagem falou na quarta (27) com cinco ex-membros da Igreja. Uma delas, uma advogada de 25 anos, confirma os abusos, lamenta a falta de seguimento das investigações e diz que a Igreja “se esconde na liberdade religiosa”. “Toda vez que os líderes eram abordados, diziam que estavam sofrendo perseguição religiosa. Negavam qualquer crime e diziam que as práticas deles eram de acordo com a liberdade religiosa”.
Um contador de 25 anos entrou para a Igreja aos 2 anos e lá ficou por 18 anos. “Sou homossexual e sofri muito. Eles me colocavam em uma sala, e 50 pessoas vinham gritar. Eles falavam que eu teria que gostar de mulheres, ou morreria de Aids”, relembra.
Uma mulher que ainda tem conhecidos na Igreja e terá a profissão e idade preservadas lembrou que nem ao banheiro podia ir sozinha quando estudava na propriedade da Igreja. “Uma vez, quando tinha 9 anos, um colega pediu para ir ao banheiro, mas não havia ninguém para levar. Ele urinou na sala. Depois, foi levado para outra sala, e não sei o que aconteceu”, conta. Ela procurou o Ministério Público, mas disse que “nada foi feito”.
Uma mulher de 80 anos contou que um dos filhos ficou mais de dez anos “preso à Igreja”. “Ele ficava na casa de uma senhora direto e não podia sair de lá. Quando ele ia lá em casa, ficava dentro do quarto ouvindo um CD deles, era lavagem cerebral. Foi muito triste. Um filho tão querido que começou a mudar e mudar”, detalha.
INQUÉRITO CIVIL
Regra. Inquéritos devem ter a duração de um ano – que pode ser prorrogado indefinidamente. O sigilo ocorre, por exemplo, quando há menores de idade ou dados íntimos de envolvido.
ENTENDA O CASO
História. A Igreja Movimento Verbo Vivo de São Joaquim de Bicas, na região metropolitana da capital, é um dos braços da organização religiosa norte-americana Word of Faith Fellowship – Associação Palavra de Fé, em tradução livre. Ela chegou ao Estado em 1987 – a matriz foi fundada em 1979, na Carolina do Norte. A Igreja tem cerca de 2.000 seguidores pelo mundo.
AP. Na edição de quarta, O TEMPO mostrou investigação da agência de notícias Associated Press, que trouxe pelo menos 16 brasileiros relatando episódios de tortura e de trabalho escravo atribuídos aos líderes da Igreja nos Estados Unidos. O caso é investigado pelas autoridades daquele país. O Itamaraty informou que o consulado em Washington está em contato com autoridades locais
e que acompanha as investigações.
e que acompanha as investigações.
O TEMPO mostrou também um histórico das denúncias sobre a Igreja em Minas e relatos de ex-membros no Estado, que corroboraram os depoimentos nos EUA.
Filial. Reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” fez um trabalho parecido sobre a filial em Rocha Franco (SP). Segundo o texto, a igreja fica em uma colina, afastada do centro da cidade. Assim como na propriedade mineira, há uma escola em suas dependências, com turmas do ensino infantil e médio.
A escola é particular e, segundo os vizinhos, de alto nível. O texto mostrou também que o silêncio impera entre os frequentadores da Igreja local, chamada Rhena. A Igreja paulista divulgou um comunicado em seu site, em que nega as acusações e diz sofrer perseguição. No caso da Igreja em Minas, os responsáveis têm sido procurados nos últimos dois dias, mas sempre se recusam a comentar o caso.
Filial. Reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” fez um trabalho parecido sobre a filial em Rocha Franco (SP). Segundo o texto, a igreja fica em uma colina, afastada do centro da cidade. Assim como na propriedade mineira, há uma escola em suas dependências, com turmas do ensino infantil e médio.
A escola é particular e, segundo os vizinhos, de alto nível. O texto mostrou também que o silêncio impera entre os frequentadores da Igreja local, chamada Rhena. A Igreja paulista divulgou um comunicado em seu site, em que nega as acusações e diz sofrer perseguição. No caso da Igreja em Minas, os responsáveis têm sido procurados nos últimos dois dias, mas sempre se recusam a comentar o caso.
copiado http://www.otempo.com.br/
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