Chanceler de Maduro acusa Brasil de "submissão total" em relação aos EUA Proposta do Brasil contra Maduro na ONU gera desentendimento com Europa Na ONU, o Itamaraty se cala ao ser cobrado sobre apoio de Bolsonaro a ditaduras no Cone Sul

  • Chanceler de Maduro acusa Brasil de "submissão total" em relação aos EUA Boicotado pelo Brasil, venezuelano acusa Bolsonaro de “submissão” aos EUA... - 
  • Em protesto à presença de chanceler de Maduro na ONU, Brasil deixou suas cadeiras vazias no Conselho de Direitos Humanos, nesta quinta-feira. Foto: Jamil Chade

    Itamaraty boicota discurso de ministro de Relações Exteriores da Venezuela na ONU. Europa demonstrou nesta semana ser contrária à proposta liderada pelo  governo Bolsonaro de criar uma comissão de inquérito internacional contra Maduro. 

    GENEBRA – Jorge Arreaza, ministro de Relações Exteriores do governo de Nicolas Maduro, acusa o governo brasileiro de estar se submetendo às ordens do presidente americano, Donald Trump. Em uma conversa exclusiva com o blog, em Genebra, o chanceler de Caracas teceu duas críticas contra Jair Bolsonaro e sua política externa. "Submissão total", declarou, numa referência ao comportamento do Brasil com a Casa Branca.
    O Brasil é quem lidera uma iniciativa na ONU para que se crie uma comissão de inquérito internacional para investigar os crimes cometidos por Nicolas Maduro. Caracas, porém, tenta reunir votos suficientes para impedir a aprovação da proposta.
    Os governos europeus apresentaram uma proposta alternativa, alegando que a medida sugerida pelo Brasil poderia isolar ainda mais o regime de Maduro e impedir canais de diálogo. Bruxelas propôs que a comissão de inquérito fosse abandonada e, em seu lugar, estabelecesse uma missão para visitar o país, em comum acordo com Maduro.
    Fontes da UE, porém, apontaram que o governo brasileiro já indicou que vai se recusar a aceitar a proposta dos europeus e mantém sua ideia de criar uma comissão de inquérito.
    A crise na Venezuela é ainda um dos temas das reuniões desta semana do chanceler Ernesto Araújo, em viagem à capital dos EUA.
    Já Arreaza está nas Nações Unidas, em Genebra, para denunciar o que ele chama de "medidas unilaterais", tomadas pelo governo dos EUA e apoiada por seus aliados.
    "Exigimos o levantamento das medidas coercitivas unilaterais contra nosso país", declarou o ministro. "Exigimos a devolução de empresas, ativos e dinheiro roubado da Venezuela. Exigimos o fim do bloqueio comercial e financeiro a nosso povo", disse. "As sanções matam", insistiu, alertando que o bloqueio de dinheiro garantiria alimentos e remédios para os venezuelanos por cinco anos.
    O argumento do venezuelano é de que a atual crise foi gerada por conta dos impactos das sanções americanas, visão que não é compartilhada pela alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet. Em um informe apresentado no mês passado, a chilena denunciava a repressão de Maduro e pedia investigações para determinar a responsabilidade dos atos.
    Boicote
    Sem reconhecer o governo de Maduro como sendo legítimo, o Itamaraty fez questão de boicotar nesta quinta-feira o evento no Conselho de Direitos Humanos da ONU destinado a debater sanções econômicas.
    As cadeiras reservadas ao Brasil ficaram vazias, enquanto os diplomatas tomaram lugares mais afastados para demonstrar o protesto diante da presença do chanceler.
    O evento contou com intervenções de mais de duas dezenas de governos e fortes declarações contra sanções por parte da China, Rússia e outros países.
    Horas depois, o chanceler fez um segundo discurso e, uma vez mais, o Brasil deixou suas cadeiras vazias dentro da sala da ONU.
    Eleição
    O confronto entre Venezuela e Brasil ainda tem um componente eleitoral. Ambos são candidatos a fazer parte do Conselho de Direitos Humanos da ONU por mais um mandato. Sem citar nomes, o chanceler de Caracas defendeu que países que facilitem a adoção de sanções não deveriam poder ser membros do Conselho. "Os critérios deveriam mudar", disse, alertando para questões "morais e éticas".
  • Proposta do Brasil contra Maduro na ONU gera desentendimento com Europa 
  • Em protesto à presença de chanceler de Maduro na ONU, Brasil deixou suas cadeiras vazias no Conselho de Direitos Humanos, nesta quinta-feira. Foto: Jamil Chade

    GENEBRA – O destino do governo de Nicolas Maduro coloca o Brasil e a Europa em lados opostos na diplomacia internacional. O UOL obteve com exclusividade um rascunho da resolução que o Brasil prepara para apresentar às Nações Unidas. Nela, o Itamaraty propõe a criação de uma comissão de inquérito internacional para investigar os crimes de Maduro e sua estrutura de repressão.
    Mas nem todos estão de acordo com a proposta do Brasil e, nos bastidores, a situação passou a gerar tensão entre os representantes do governo de Jair Bolsonaro e as diplomacias de outros países. Rússia, China e outros governos aliados a Maduro deixaram claro sua oposição ao projeto.
    Nos últimos dias, os europeus também tentaram convencer o Itamaraty a desistir da ideia, alertando para pelo menos dois aspectos. O primeiro deles é o risco de que a proposta não seja aprovada no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o que seria alardeado por Maduro como uma "enorme vitória diplomática".
    Mas há um segundo aspecto para a postura dos europeus. Várias capitais do Velho Continente consideram que, ao criar uma investigação que até hoje apenas foi adotada com países como Síria, Coreia do Norte, Burundi, Mianmar e Sudão, a comunidade internacional estará aprofundando o isolamento do governo de Maduro.
    O risco poderia ser um radicalismo ainda maior por parte de Caracas, com impacto para os opositores que ainda estão dentro do país e em liberdade.
    O resultado, entre outros, seria também o colapso dos canais de comunicação que tentam ser estabelecidos entre governos europeus e os diferentes lados da crise venezuelana.
    Na esperança de convencer o governo brasileiro a rever sua proposta, os europeus apresentaram a ideia de que a comissão de inquérito – com a duração de pelo menos um ano – fosse substituída pelo simples envio de uma missão que, com o acordo do governo Maduro, poderia visitar o país e apresentar um informe.
    Na prática, a proposta europeia reduziria o tom da agressividade e permitiria que os canais de comunicação fossem mantidos.
    Na noite desta quinta-feira, o Brasil e os demais apoiadores da ideia circularam uma nova versão do rascunho. Mas, para a surpresa da Europa, o Itamaraty ignorou as propostas dos governos do Velho Continente e manteve a criação da comissão de inquérito.
    Entre os negociadores, não eram poucos os que se mostravam irritados e preocupados com a postura do Brasil. Não contribuiu tampouco o gesto adotado pelo Itamaraty ao conseguir que a OEA aprovasse a ativação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar), que prevê a defesa mútua entre os integrantes em caso de ataques de forças estrangeiras.
    Uma resolução em prol da convocação do órgão de consulta do acordo conseguiu doze dos 18 votos possíveis. Brasil, Colômbia e Estados Unidos lideraram a proposta.
    Diplomatas venezuelanos indicaram que o gesto foi interpretado como um passo rumo a uma intervenção. Para Caracas, o governo brasileiro atua como "representante de Trump" na região. "Submissão total", atacou o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, em uma conversa com o UOL, em Genebra.
    Na cúpula da ONU, a proposta do Brasil tampouco é comemorada. A entidade, depois de longas negociações, conseguiu a autorização de Maduro para que um escritório fosse aberto em Caracas para monitorar a situação dos direitos humanos.
    O temor é de que, se uma comissão de inquérito internacional for aprovada, a ONU será obrigada a fechar sua operação de observação em Caracas diante das pressões de Maduro.
    Em seu informe sobre a situação da Venezuela, a alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, denunciou a repressão orquestrada pelo governo e sugeriu que os autores dos crimes fossem investigados.
  • copiado https://jamilchade.blogosfera.uol.com.br/2

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