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Presidente da frente parlamentar, Trutis diz que ele e os colegas têm conhecimento técnico sobre armas porque atuaram na polícia ou na prática de tiro esportivo. O deputado defende que facilitar o acesso às armas não vai aumentar o número de morte, mas melhorar a segurança do brasileiro. Segundo ele, 90% do armamento apreendido no país são irregulares. “O Estatuto do Desarmamento atingiu só o cidadão de bem, aquele que quer comprar uma arma regularmente, fazer curso de tiro”, disse ao Congresso em Foco.
Viagens internacionais
A cúpula da frente parlamentar se prepara para conhecer as principais fabricantes de armas do mundo, bancada pelas próprias indústrias. Os deputados devem visitar até fevereiro de 2020 as fábricas da Beretta e da Benelli, ambas na Itália, da CZ, na República Tcheca, e da Glock, na Áustria. “É praxe nas relações internacionais quem convida arcar com os gastos. Além de ser uma forma de economizarmos”, afirmou Trutis.
Procurada para comentar o financiamento dessas viagens, a Câmara não retornou o contato da reportagem até o momento. Assessores da Casa afirmaram, sob condição de anonimato, que não há irregularidade nesse tipo de viagem, mas que a prática pode ser questionada por uma eventual perda de isenção dos parlamentares.
Em nota, a Taurus alega que apresentou suas novas instalações aos deputados para “esclarecer campanhas de difamação que aconteceram no passado contra a empresa” e “contribuir para a discussão e tomada de decisões na implementação de políticas públicas de segurança no Brasil”. A assessoria de imprensa da Taurus é a mesma que atende a Aniam, que também representa a CBC e a Rossi Esporte e Lazer. A associação confirmou que arcou com os custos da viagem.
Defesa da indústria
Em sua página oficial, a entidade diz que seu objetivo é “representar e defender os interesses do comércio e da indústria brasileira de armas e munições, contribuindo para formulação de políticas públicas que permitam o fortalecimento do setor no país e no exterior, e para criação e manutenção de uma Base Empresarial que contribua com a Defesa Nacional e com a Segurança Pública”.
De acordo com Trutis, havia várias reclamações contra os produtos da fabricante até o começo dos anos 2000. Agora, segundo ele, o cenário mudou. “O processo de fabricação hoje é diferente do que foi no passado, quando havia reclamações. Atualmente, é o mesmo usado em armas americanas. Além disso, a Taurus é fornecedora das forças públicas brasileiras”, disse. “Estamos deixando a empresa brasileira exercer o seu amplo direito de defesa”, acrescentou.
A Taurus negou o pedido do Congresso em Foco para acompanhar a visita dos parlamentares. Segundo a assessoria, a restrição atende a “questões internas da companhia (por ser uma empresa de produtos controlados)”. Durante o dia, os deputados acompanharam os processos produtivos e administrativos da companhia. Eles também conheceram o protocolo de desenvolvimento de novos produtos e os testes de tiro.
A frente armamentista, cuja pauta se confunde com a da bancada da bala, nasceu em abril deste ano para reforçar no Congresso a trincheira daqueles que apoiam regras menos rígidas para a posse e o porte de armas. Segundo o site da Câmara, mais de 200 parlamentares deram apoio à criação do grupo. Poucos, no entanto, têm atuação constante.
Proximidade política
Próxima ao mundo político, a Taurus tem se mostrado aliada do presidente Jair Bolsonaro, outro defensor do armamento. A companhia informou que vendeu mais de 20 mil armas de fogo para policiais, colecionadores, atiradores e caçadores durante a Semana do Brasil, campanha lançada pelo governo federal para estimular ações promocionais entre 6 e 15 de setembro, em comemoração ao Dia da Independência. O movimento foi encampado por grupos empresariais que apoiam o presidente.
Quando era permitido o financiamento privado em campanhas eleitorais, a empresa fazia doações para políticos e partidos. Um dos beneficiários em mais de uma eleição foi o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), deputado licenciado. Em 2014, a empresa destinou R$ 870 mil para campanhas, conforme os dados de prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - R$ 595 mil para candidatos e R$ 275 mil a comitês e direções das siglas.
No começo do mês, a companhia anunciou o encerramento de uma ação judicial que enfrentava nos Estados Unidos, movida por quatro pessoas que a acusavam de vender armamento com defeito. A conclusão do processo, conhecido como "Burrow case", deve custar entre US$ 7 milhões e US$ 8 milhões à empresa brasileira.
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