Turismo internacional cresce no mundo e recua na América do Sul. Uruguai fica atento à Argentina e se preocupa com impacto de crise

Turismo internacional cresce no mundo e recua na América do Sul

AFP/Arquivos / Miguel Rojo(Janeiro) Turistas em Punta del Este, Uruguai
O turismo internacional cresceu 4% no primeiro semestre de 2019, com melhorias notáveis no Oriente Médio, na Ásia e no Pacífico, mas com um recuo na América do Sul - informou a Organização Mundial do Turismo (OMT) nesta segunda-feira (9).
Os destinos da América do Sul sofreram uma queda de 5% que a OMT justifica pelo declínio do turismo argentino, que afetou os países vizinhos.
Na mesma linha, essa agência, com sede em Madri, alertou para uma queda nos gastos com turismo das duas grandes economias latino-americanas, Brasil (-5%) e México (-13%).
Globalmente, depois de dois anos com crescimento de 7% em 2017 e 6% em 2018, "o aumento nas chegadas está retornando à sua tendência histórica", afirmou a agência da ONU.
O número de turistas internacionais aumentou, a 671 milhões, 30 milhões a mais do que no mesmo período de 2018. A OMT planeja fechar o ano com uma melhoria de 3% a 4%.
A agência atribui esses resultados à força econômica, acessibilidade e conectividade dos voos e à maior facilitação de vistos, mas também alerta para ameaças ao setor.
"Os indicadores econômicos mais fracos, a incerteza prolongada sobre o Brexit, as tensões comerciais e tecnológicas e os crescentes desafios geopolíticos começaram a afetar a confiança de empresas e consumidores", alerta em seu comunicado.
A primeira metade de 2019 foi especialmente positiva para destinos no Oriente Médio, que registraram um aumento de 8% nas chegadas, e na Ásia e no Pacífico, onde cresceram 6%, graças principalmente aos turistas chineses.
O restante dos mercados também melhorou, mas com mais moderação. A Europa cresceu 4%, devido, em parte, à demanda inter-regional, e os EUA e a África, 2%.
Nessas duas últimas áreas, os resultados do norte da África são notáveis, com 9% após o golpe sofrido no início da década, e o Caribe (+11%), impulsionado pelos Estados Unidos.

Uruguai fica atento à Argentina e se preocupa com impacto de crise

AFP/Arquivos / MIGUEL ROJOPunta del Este, principal balneário do Uruguai
A crise cambial que abala a Argentina ligou o alerta no vizinho Uruguai, onde governo, empresários, candidatos presidenciais e população se perguntam de onde vem o baque do colapso.
Argentina é um cliente significativo para os produtos uruguaios e sobretudo sua principal fonte de receita em um setor crucial na mão de obra: o turismo.
Com a aproximação do verão, em plena campanha eleitoral e em busca de um quarto mandato para o governista Frente Amplio (esquerda), o candidato dessa coalizão e ex-prefeito de Montevidéu, Daniel Martínez, logo disse que o que acontece na Argentina está "a milhares de quilômetros".
- Primeiros sintomas -
Embora a situação econômica uruguaia seja diferente daquela da Argentina e o país já não seja tão dependente, em matéria comercial ou bancária, de seu vizinho e tradicional mercado exportador quanto era no começo deste século, o Uruguai ainda tem uma grande dependência em setores como exportação de serviços, especialmente turismo, onde o baque já começou a ser sentido.
"Argentino não vem quase ninguém. Em julho passado, vinham, mas no verão passado já tinha diminuído" o número, explicou à AFP Noelia, de 32 anos, que há dois atende em um tradicional local de venda de souvenirs para turistas no centro de Montevidéu.
A jovem aponta que a queda no número de visitantes argentinos que entram em seu estabelecimento foi acentuada. É "muito raro" ver turistas dessa origem e, quando chegam, compram "apenas o necessário", lamentou.
- Relações próximas -
Os dois países não têm apenas história em comum: muitos argentinos têm casas secundárias no Uruguai, ou investimentos do lado oriental do rio Uruguai, sempre mais estável.
A preocupação é regra entre os economistas, os pequenos e grandes empresários - que vendem à Argentina ou dependem do turismo -, os candidatos de oposição e no próprio Executivo.
A decisão do governo de Mauricio Macri de estabelecer um controle cambial ligou ainda mais os alertas.
"Tudo que tínhamos pensado até agora tem uma mudança radical com algo que, na verdade, não esperávamos", admitiu à imprensa a ministra de Turismo do Uruguai, Liliam Kechichian, que comparou as medidas de Macri com o controle cambial durante os governos kirchneristas na Argentina.
Na Câmara Imobiliária de Punta del Este, o objetivo é que o Estado faça uma renúncia fiscal sobre impostos que permita aos proprietários de imóveis de aluguel no principal balneário do Uruguai diminuam os preços durante o verão, explicou à AFP seu presidente, Javier Sena.
A temporada será "difícil", avaliou Sena, que afirmou que o setor imobiliário está tentando reduzir o preço de combustíveis e pedágios para os turistas.
- Competitividade -
Embora a Argentina ocupe o quinto lugar entre os destinos de exportação do Uruguai, a demanda desse mercado despenca: apenas em agosto a retração foi de 35% sobre o mesmo mês de 2018.
Para fomentar exportações e, assim, obter dólares, "a taxa de câmbio da Argentina vai ter que ser alta", e isso é importante para o Uruguai, explicou na semana passada, em Montevidéu, o ex-ministro argentino da Economia, Ricardo López Murphy.
"Em termos reais, o peso uruguaio está 30% mais caro que a paridade histórica com a Argentina", explicou à AFP o economista Ignacio Munyo, da Universidade de Montevidéu e assessor do candidato Luis Lacalle Pou, do opositor Partido Nacional (centro-direita), segundo nas pesquisas para as presidenciais de outubro no Uruguai, atrás de Martínez.
"O turismo e o comércio a varejo (excluindo supermercados) são os setores mais afetados. O setor financeiro faz tempo que está pouco exposto ao risco argentino", explicou.
Argentina e Uruguai celebrarão eleições nas mesmas datas: 27 de outubro no primeiro turno e 24 de novembro no segundo, caso se realize.


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