Análise: Bancos centrais ganham tempo mas não resolvem crise

30/11/2011 - 21h17

Análise: Bancos centrais ganham tempo mas não resolvem crise

MICHAEL DOLAN
DA REUTERS, EM LONDRES

A ação dos bancos centrais nesta quarta-feira para aliviar a crise de financiamento que o setor privado mundial vem enfrentando pode ajudar a atenuar a compressão mundial de crédito que parece estar se expandindo, mas serve apenas para que os governos ganhem tempo a fim de resolver a crise da dívida da zona do euro e manter os bancos emprestando.
A intervenção dos principais bancos centrais dos países ricos --entre os quais o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o Banco Central Europeu (BCE), o Banco do Japão, e o Banco Nacional Suiço-- envolvia reduzir o custo de financiamento do banco central norte-americano às instituições financeiras e expandir as linhas de swaps cambiais entre os países participantes.
Ainda que o objetivo tenha sido em parte facilitar as condições sazonais de financiamento na temporada de festas, dado o ambiente desfavorável dos mercados, as medidas também serviram como uma demonstração de unidade entre os bancos centrais.
Elas também revelam o quanto as autoridades internacionais estão preocupadas com a ameaça que a crise do euro e dos bancos representa para a atividade econômica geral, e surgiram no mesmo dia em que o banco central chinês relaxou suas condições de crédito para as instituições de financiamento comercial do país pela primeira vez em três anos.
Também há uma expectativa generalizada de que o BCE reduza de novo sua taxa de juros na semana que vem.
Ainda que a reação instantânea do mercado à decisão tenha sido positiva --houve altas nos mercados de ações, títulos e commodities, e o dólar caiu--, as medidas colocam em destaque a estreita correlação entre a crise do euro e a compressão de crédito renovada no setor bancário.
Elas ilustram o temor de que os dois problemas estejam se combinando para desferir um novo golpe duplo contra o crescimento econômico mundial.
"No final da semana passada, começou a surgir um clima muito sombrio", disse Mark Cliffe, economista-chefe do ING.
"Com os cenários cada vez mais pessimistas que vinham sendo discutidos nos últimos dias, se tornou ainda mais importante que as autoridades interviessem com medidas agressivas de apoio ao sistema bancário, e demonstrassem que estão começando a enfrentar os problemas financeiros gerados pela crise das dívidas nacionais".
Silvio Peruzzo, economista do RBS, disse que as medidas eram "muito bem vindas" e "ajudavam quanto às margens". Wayne Kaufman, da John Thomas Financial, uma corretora de Nova York, afirmou que "isso tudo é excelente notícia para os operadores do curto prazo".
Mas será que as medidas mudarão alguma coisa para os investidores cada vez mais confusos com a crise do euro e a ameaça que ela representa à dinâmica do mercado?
UMA PEQUENA AJUDA
Em nível técnico, a intervenção torna mais barato para bancos de fora dos Estados Unidos obter dólares junto aos bancos centrais locais, já que a moeda norte-americana estava se tornando mais e mais escassa e dispendiosa nos mercados abertos devido à crescente desconfiança quanto à exposição dos balanços bancários a títulos públicos europeus.
"Estava claro já há algum tempo que o financiamento estava se esgotando no mercado do dólar", disse Richard Batty, diretor de investimento da Standard Life Investments, de Edimburgo. "Reduzir os custos de financiamento e oferecer mais liquidez é útil. Mas resta a questão da solvência".
A melhor ilustração do atual desgaste no mercado é a taxa de câmbio para swaps entre dólares e euros, que disparou de agosto para cá e atingiu níveis vistos pela última vez quando da quebra do banco Lehman Brothers, em 2008. Elas caíram um pouco depois do anúncio das medidas dos bancos centrais, na quarta-feira.
O problema para os bancos europeus e de alguns outros países é que, ao mesmo tempo em que seus ativos governamentais "de risco zero" passaram a ser questionados, eles se viram forçados a elevar rapidamente sua capitalização, no caso da Europa para um mínimo de 9% de seus ativos até a metade do ano que vem.
Mas as incertezas quanto aos balanços tornam quase impossível para muitos bancos levantar capital acionário ou emitir títulos de dívida novos, ou no mínimo elevam o custo dessas transações de maneira proibitiva. A consequência é uma redução no nível de empréstimos e uma onda de vendas de títulos e ativos financeiros que está servindo para transmitir a crise a governos, empresas e domicílios de todo o mundo.
Alguns analistas estimam que os bancos europeus podem reduzir seus empréstimos em três trilhões de euros até o final do ano que vem.
A consequência seria nova queda recessiva das economias ocidentais em 2012, o que arrastaria com elas os países em desenvolvimento.
Assim, a reação dos mercados às medidas da quarta-feira tinha por base o alívio de que alguém estivesse tentando fazer alguma coisa a respeito.
"Isso está propiciando liquidez aos bancos; as instituições governamentais servirão como fonte de crédito primário para os bancos", disse Jan Poser, economista chefe da Sarasin, uma companhia de gestão patrimonial.
"Mas não é a cura. As ações estão subindo porque as pessoas acreditam que, depois dessas medidas, não haverá quebra imediata de bancos, e a recessão pode ser rasa".
TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI Copiado : http://www1.folha.uol.com.br/mundo/

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