Policial diz que agente morto foi abordado por grupo de Cachoeira


24/07/2012 11h32 - Atualizado em 24/07/2012 12h18

Policial diz que agente morto foi abordado por grupo de Cachoeira

Fábio Alvarez falava sobre infiltração de grupo de bicheiro nas polícias.
Tapajós Macedo, que integrou a Monte Carlo, foi morto na semana passada.

Mariana Oliveira, Iara Lemos e Versanna Carvalho Do G1, em Goiânia
4 comentários
O policial federal Fábio Alvarez afirmou nesta terça-feira (24), em depoimento à 11ª Vara da Justiça Federal em Goiânia, que o agente da Polícia Federal Wilton Tapajós Macedo, assassinado na semana passada em um cemitério, havia sido abordado por policiais militares ligados ao grupo de Carlinhos Cachoeira durante a Operação Monte Carlo.
Tapajós Macedo foi assassinado na terça passada (17) quando visitava o túmulo dos pais, em Brasília. A Polícia Federal abriu uma investigação para apurar quem matou o agente.
Fábio Alvarez falava sobre a infiltração de pessoas do grupo de Cachoeira nas polícias de Goiás, quando a procuradora Léa Batista, do Ministério Público Federal de Goiás, perguntou especificamente sobre o agente Tapajós. "O agente Tapajós teve dificuldade?", interrogou a procuradora ao policial.
Alvarez respondeu que "constantemente" havia encontros de membros da organização e que fazia vigilância na casa de uma ex-servidora da Prefeitura de Luiziânia de nome Regina, quando foi abordado por policiais militares.
Segundo ele, havia policiais que recebiam valores mensais do grupo. “Claramente havia pagamento a policiais civis e militares. Eera feito mensalmente e dependendo da pessoa, quem efetuava este pagamento era o Dadá. Demais pagamentos para policiais, delegados da Polícia Civil, eram feitos pelo Lenine, através da Regina”.
“[O termo] assistência social era citado constantemente nos áudios, e depois constatamos que se tratava de propina paga aos servidores públicos”, completou o policial.
"Ele [Tapajós] foi abordado por policiais militares durante vigilância que fizemos na casa da Regina, e como constantemente acontecia encontros na casa desta servidora, constantamente fazíamos diligências ali. Ele teve de usar histórias de coberturas para poder não ser identificado naquele momento e ter preservado o trabalho", disse Alvarez.
A Regina citada é Sônia Regina de Melo, uma das 81 pessoas denunciadas pelo MPF na Operação Monte Carlo. Segundo o MPF, ela é servidora pública da Delegacia Regional de Luziânia (GO) e era responsável pela captatação dos policiais para atuação no grupo de Cachoeira. Ela não é alvo do processo no qual o juiz coleta depoimentos nesta terça, Ela é ré junto com outras 72 pessoas em um processo que foi desmembrado.
Ainda segundo Fábio Alvarez, foram registrados casos de pagamento de propina a policiais civis e até a tentativa de obter informações da Força Nacional. Para isso, disse o agente em depoimento, o grupo utilizava os serviços do ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá.
"Teve episódio na proximidade da deflagração da Monte Carlo. A organização identificou um carro e começou a ver quem seria. Carlos Augusto [Cachoeira] entra em contato com Idalberto. Eles abordaram os policiais, pegaram a placa e identificaram. Idalberto, através de Anderson Drumont, um administrativo da PF, solicita em mensagem para identificar essa placa. Depois ele retorna. Isso causou vulnerabilidade aos trabalhos pela forma com que se infiltraram."
Anderson Drumond também é um dos 73 denunciados que respondem ao processo que foi desmembrado.
Fábio Alvarez narrou ainda casos de pagamento de propina no caso do fechamentro de um bingo. "Foram apreendidos materiais. Eles começaram a entrar em contato com pessoas ligadas à Polícia Civil para tentar recuperar esses equipamentos. Fizeram contato com Regina, de Luziânia, e um policial recuperou máquinas da delegacia e levou para os depósitos da organização criminosa. Em duas oportunidades foram feitos pagamentos."
Em outro momento, o agente Fábio Alvarez cita que as interceptações deixaram claro que Cachoeira "era líder da organização criminosa". Segundo ele, a abertura de casas de bingo era feita "sempre com ordem dele".
Bate-boca
Em diversos momentos advogados de defesa questionaram a atuação dos procuradores do MPF nas perguntas feitas ao policial Fábio Alvarez.
Num primeiro momento, a advogada Dora Cavalcanti, que defende Cachoeira, questionou uma pergunta sobre interceptação telefônica cuja resposta daria margem à interpretação do policial.
"Isso acontece quando o MP oferece denúncia com base em interceptações, sem testemunhas", disse o advogado Ney Moura, que defende Wladimir Garcez, acusado de ser o elo de Cachoeira com o governo de Goiás.
"Não foram feitas só interceptações, houve trabalho de campo", rebateu o procurador Daniel Resende.
"Estou impugnando a pergunta porque a resposta traz em si uma interpretação", disse Dora Cavalcanti. O juiz Alderico Rocha, que comanda a audiência, disse aos advogados: "Vocês estão corrigindo os defeitos do depoimento."
Um segundo momento tenso foi registrado quando o agente Fábio Alvarez citou um dos 73 réus do processo que foi desmembrado. O advogado Leonardo Gagno, que defende Dadá, criticou a menção a um réu cuja defesa não estava presente.
"O doutor está começando a tumultuar", disse o juiz. O procurador Daniel Resende, então, disse: "A ideia da defesa é tumultuar. Defenda o seu réu doutor."
O advogado rebateu: "O senhor estudou numa faculdade que ensina direito num lugar diferente do que a minha."
O juiz apazigou a situação garantindo que não condenará um réu com base em depoimento de outro processo.
As audiências
O juiz Alderico Rocha deve ouvir nesta terça-feira quatro policiais federais que atuaram na Operação Monte Carlo, na qual Cachoeira foi preso no fim de fevereiro. Estão previstos para parte da tarde depoimentos de dez testemunhas indicadas pelos réus. Na quarta (25), será a vez de sete dos oito réus de um dos processos da Monte Carlo serem ouvidos.
A Monte Carlo é a operação da Polícia Federal que prendeu Cachoeira sob acusação de exploração do jogo ilegal em Goiás. Após a operação, o Ministério Público Federal de Goiás denunciou 81 pessoas, mas o processo foi dividido em dois: um para os 73 réus soltos e outro para os oito com mandado de prisão, entre os quais Cachoeira. As audiências desta semana se referem apenas ao processo contra os oito réus.
Cachoeira, que está detido no presídio da Papuda, em Brasília, chegou por volta das 8h desta terça ao prédio da Justíça Federal de Goiânia para acompanhar os depoimentos das testemunhas. Ele entrou na sala de audiências pouco antes do início da sessão, vestido de terno, e ficou sentado na primeira fileira dos réus escoltado por agentes da PF armados.
Ao lado se sentou o outro réu preso do processo, Gleyb Ferreira da Cruz, apontado na denúncia do Ministério Público Federal de Goiás como auxiliar do contraventor.
Os demais réus no processo acompanharam os depoimentos da segunda fileira. Todos chegaram a ser presos, mas já estão em liberdade: Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, suspeito de ter feito grampos ilegais a mando de Cachoeira; Wladimir Garcez, apontado como elo entre Cachoeira e o governo de Goiás; José Olímpio de Queiroga Neto, suspeito de atuar na abertura e fechamento de pontos de jogo ilegal; Lenine Araújo de Souza, apontado como braço-direito de Cachoeira; e Raimundo Washington de Sousa Queiroga, irmão de José Olímpio.
O oitavo réu do processo, Geovani Pereira da Silva, acusado de ser o contador da quadrilha, está foragido desde a Operação Monte Carlo e não será ouvido pela Justiça.COPIADO : http://g1.globo.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

Ao Planalto, deputados criticam proposta de Guedes e veem drible no teto com mudança no Fundeb Governo quer que parte do aumento na participação da União no Fundeb seja destinada à transferência direta de renda para famílias pobres

Para ajudar a educação, Políticos e quem recebe salários altos irão doar 30% do soldo que recebem mensalmente, até o Governo Federal ter f...