Atletas militares do taekwondo (da esq.): Debora Nunes, Leonardo Santos e Diogo Silva
Aproximadamente 20% dos atletas
que integram a delegação brasileira que competirá nas Olimpíadas de
Londres são militares da Marinha e do Exército.
Eles somam 51 esportistas de um total de 259,
segundo o Ministério da Defesa, e devem competir em 12 modalidades,
entre elas atletismo, esgrima, tiro, natação, pentatlo, judô e
taekwondo.
A grande quantidade de "atletas
militares" se explica pelo Programa de Incorporação de Atletas de Alto
Rendimento nas Forças Armadas iniciado pelo governo brasileiro em 2008.
O general de divisão Fernando Azevedo e Silva
disse à BBC Brasil que o programa foi criado para fortalecer a equipe
brasileira para a 5ª edição dos Jogos Mundiais Militares, realizados no
ano passado no Rio de Janeiro.
No entanto, o projeto também visava inicialmente
à preparação de atletas para as Olimpíadas de Londres e os Jogos de
2016 no Brasil.
Segundo Silva, o objetivo das Forças Armadas com
o programa é fortalecer o esporte de forma geral no país. "Além disso, a
rigidez física faz parte da formação militar e o esporte é a atividade
que mais se aproxima do combate em tempos de paz", afirmou.
Militares voluntários
Os atletas chegam ao Exército e à Marinha
através de concursos para preencher vagas de sargento ou marinheiro
temporário especialista em atletismo de alto rendimento.
Mas na prática, esses novos militares terão somente a função específica de atuar em competições esportivas.
Forças Armadas recrutam atletas voluntários para atuarem em competições militares
Todos os participantes do programa são
voluntários. Eles passam por um processo de seleção no qual a
participação em competições internacionais e as medalhas já conquistadas
na carreira são transformados em pontuação.
Os que obtêm as melhores notas nesta fase são alistados e recebem um treinamento militar básico, que dura em média três semanas.
A partir daí, os atletas têm direito a receber
um soldo e assistência médica e a utilizar as instalações esportivas
militares, principalmente os complexos construídos no Rio de Janeiro
para os Jogos Mundiais Militares.
O lutador de taekwondo Diogo Silva, uma das
esperanças brasileiras de medalha nos Jogos de Londres, entrou para a
Marinha em 2009.
"Eu tinha interesse em ter uma segurança
financeira. Como o esporte tem altos e baixos, queria ter os benefícios
de um funcionário público e ao mesmo tempo trabalhar em uma instituição
que valoriza o esporte", disse à BBC Brasil.
Segundo ele, o processo de adaptação à vida
militar foi fácil, pois seu esporte tem origem militar. Ele disse ainda
que "o contato com o ambiente da Marinha com sua cultura e tradição foi
muito positivo para sua vida pessoal".
Hinos e marcha
Mas Silva afirma que sua rotina não mudou muito.
Embora a base à qual está vinculado fique no Rio de Janeiro, ele
continua morando e treinando em São Paulo e vai à cidade apenas para
fazer exercícios específicos e participar de cerimônias militares.
Sua vinculação à Marinha também não impede que
receba patrocínios e, eventualmente, seja remunerado pela participação
em campanhas publicitárias.
Já a judoca Sarah Menezes, que também compete em
Londres, diz que desde que se alistou à Marinha tem que informar à
corporação onde está e o que faz.
"Tenho que mandar presença semanal para eles por
e-mail e estar sempre em atividade. E tenho que ir no quartel sempre
que eles me mandam comparecer por lá", disse à BBC Brasil.
Diogo Silva treina em São Paulo mas se apresenta periodicamente em base naval no Rio
Sarah se alistou à Marinha em 2009, através de
uma parceria da Confederação Brasileira de Judô, em preparação para os
Jogos Mundiais Militares. Mas ela afirma que, sem o apoio militar, não
teria conseguido a vaga olímpica.
Segundo a atleta, os valores do esporte e das
forças armadas são semelhantes. No entanto, ela sentiu a diferença
durante o treinamento que recebeu para se tornar marinheira.
"Fizemos todas as tarefas que eles exigem para
se tornar militar no curso do CEFAN (Centro de Educação Física Almirante
Adalberto Nunes) no Rio de Janeiro. Tínhamos que passar pelo processo
deles, tipo acordar cedo todos os dias, organizar o quarto, ir para
fila, cantar hinos, marchar."
De acordo com o general Silva, alguns atletas
também procuraram a carreira militar de olho no suporte médico ou por
gostar da profissão, além da estabilidade financeira.
Atualmente, a Marinha e o Exército mantém cerca
de 300 atletas de alto rendimento. De acordo com oficiais militares,
esse contingente não deve sofrer grandes alterações até as Olimpíadas de
2016.
*Colaborou Camilla Costa COPIADO : http://www.bbc.co.uk
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