Espionagem deflagra crise entre EUA, França e México

22/10/2013 - 00:58

Espionagem deflagra crise entre EUA, França e México


Paris (AFP)
Novas revelações sobre a espionagem em massa dos serviços norte-americanos provocaram reações iradas da França, que convocou o embaixador dos Estados Unidos em Paris, e do México, que pediu uma investigação sobre o caso.
Segundo o jornal Le Monde, em sua edição desta segunda-feira, a agência americana de Segurança (NSA) realizou 70,3 milhões de gravações de dados telefônicos de franceses em um período de 30 dias entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013.
O Le Monde cita documentos do ex-consultor da NSA Edward Snowden, atualmente asilado na Rússia.
O presidente francês, François Hollande, manifestou sua "profunda reprovação" envolvendo a espionagem sobre dezenas de milhões de telefonemas de cidadãos franceses, uma "prática inaceitável" entre aliados e amigos.
Em conversa por telefone com o presidente americano, Barack Obama, o líder francês "pediu que todas as explicações sejam fornecidas" e os dois concordaram que "as operações de coleta de informação de inteligência deverão ser monitoradas de forma bilateral".
Segundo a Casa Branca, Obama "disse claramente que os Estados Unidos começaram a revisar a forma com a qual recolhemos dados de inteligência, para se obter um equilíbrio entre as legítimas preocupações de segurança dos nossos concidadãos e aliados e a proteção da vida privada, que preocupa a todos".
"Os dois presidentes concordam em que devemos continuar discutindo estes temas através dos canais diplomáticos no futuro", assinalou a Casa Branca, afirmando que os "Estados Unidos e a França são aliados e amigos, e mantêm uma estreita relação sobre numerosos tópicos, incluindo segurança e inteligência".
O primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, se disse "profundamente escandalizado", em declarações em Copenhague.
"É incrível que um país aliado possa chegar a espionar tantas comunicações privadas sem nenhuma justificativa estratégica", disse, reagindo às informações sobre o caso de espionagem em massa reveladas pelo jornal Le Monde.
Mais cedo, a porta-voz do departamento americano de Estado Caitlin Hayden havia reagido às queixas francesas de forma direta e franca: "todas as nações realizam operações de espionagem".
"Já deixamos claro que os Estados Unidos recolhem informações de inteligência no exterior do mesmo modo que todos os países recolhem", afirmou Hayden.
"Como disse o presidente (Barack Obama) em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, começamos a revisar o modo com que obtemos informações para poder chegar a um equilíbrio entre as legítimas preocupações pela segurança de nossos concidadãos e aliados e as preocupações que todo o mundo compartilha a propósito da proteção de sua intimidade", acresentou Hayden.
Ilustrando a gravidade da crise, o chanceler da França, Laurent Fabius, anunciou nesta segunda-feira a convocação imediata do embaixador de Washington em Paris.
"Convoquei imediatamente o embaixador dos Estados Unidos, que será recebido ainda nesta manhã" na chancelaria, disse Fabius ao chegar a uma reunião europeia em Luxemburgo.
"Entre sócios, este tipo de práticas que atentam contra a vida privada são totalmente inaceitáveis. É preciso garantir muito rapidamente que (...) não ocorram mais", acrescentou.
O tema será evocado nesta terça-feira por Fabius e por seu colega americano John Kerry durante um encontro em Paris, antes da reunião sobre a Síria prevista para Londres, indicou um funcionário da chancelaria francesa.
No domingo, o México condenou a espionagem e exigiu uma explicação imediata, depois que a revista alemã Der Spiegel afirmou que o serviço de inteligência americana invadiu o e-mail do ex-presidente Felipe Calderón (2006-2012).
"O governo do México reitera sua categórica condenação à violação da privacidade das comunicações de instituições e cidadãos mexicanos", disse a chancelaria mexicana.
"Esta prática é inaceitável, ilegítima e contrária ao direito mexicano e ao direito internacional", afirmou a chancelaria, que afirma que pedirá às autoridades americanas uma investigação "que deverá ser concluída em breve".
Em sua versão digital, a Der Spiegel também citou um documento ultrassecreto vazado por Snowden.
Em maio de 2010, a NSA "explorou de forma bem-sucedida uma chave de servidor de e-mail na rede da Presidência mexicana (...) para obter, pela primeira vez, acesso à conta pública de e-mail do (então) presidente Felipe Calderón", afirma o texto, que atribui a missão a um departamento chamado Operações de Acesso à Medida (TAO, em inglês).
"Em uma relação entre vizinhos e sócios não há espaço para as práticas que supostamente ocorreram", afirmou a secretaria de Relações Exteriores do México depois deste novo escândalo de espionagem americana.
De presidentes a simples cidadãos
No início de setembro, a Rede Globo de Televisão revelou que em 2012 os Estados Unidos espionaram as comunicações do então candidato e agora presidente do México Enrique Peña Nieto, assim como da presidente Dilma Rousseff.
Isto fez com que os países latino-americanos convocassem os embaixadores americanos para pedir explicações e Dilma inclusive adiou uma visita oficial aos Estados Unidos que estava marcada para outubro.
No caso do México, o próprio presidente Barack Obama se comprometeu em setembro com Peña Nieto a realizar uma investigação exaustiva e atribuir responsabilidades.
A missão contra Calderón foi chamada "Fratliquid", informou a Der Spiegel, e este caso "pode provocar mais tensão nas relações de México e Estados Unidos", sobretudo se for levado em conta que Calderón foi "um líder que trabalhou com mais proximidade com Washington que qualquer um de seus antecessores".
Segundo a revista, as operações TAO no México apenas começaram e pretendiam "ir muito mais longe contra alvos importantes".
O semanário alemão também denunciou que em agosto de 2009 a NSA invadiu os e-mails de vários funcionários de alto escalão da pasta mexicana de Segurança envolvidos no combate ao narcotráfico e ao tráfico de pessoas.
Isto teria gerado 260 relatórios confidenciais da agência e permitido que "políticos americanos conduzissem negociações políticas bem-sucedidas e planejassem investimentos internacionais", segundo a mesma fonte.
De acordo com o Le Monde, os documentos de Snowden descrevem as técnicas utilizadas para captar ilegalmente os segredos ou simplesmente a vida privada dos franceses.
A NSA tem vários modos de recolher informações. Quando certos números telefônicos são utilizados, é ativado um sinal que coloca em andamento a gravação automática das conversas, acrescenta o jornal.
Esta vigilância também permite interceptar os SMS e seus conteúdos em função de palavras-chave. Finalmente, a NSA conserva de maneira sistemática o histórico das conversas de cada pessoa que espionou.
O jornal acrescenta que os documentos permitem pensar que os alvos da espionagem da NSA são tanto suspeitos de terem vínculos com atividades terroristas quanto pessoas do mundo empresarial, político ou governamental da França. 
COPIADO  http://www.afp.com/pt/

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