Maduro pede reunião com Trump para “evitar guerra”
Governo de Caracas fez apelo enquanto dezenas de diplomatas abandonavam a sala na ONU, para mostrar o isolamento de Maduro. Casa Branca rejeita oferta e insiste que opção militar continua sobre a mesa.
GENEBRA – Num sinal interpretado entre diplomatas como sendo de desespero, o governo de Nicolás Maduro fez um apelo nesta quarta-feira para que um encontro entre o presidente da Venezuela e dos EUA, Donald Trump, seja realizado para que "uma guerra seja evitada".
O anúncio foi feito pelo chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, durante o Conselho dos Direitos Humanos da ONU. O discurso, porém, foi boicotado pelo Brasil e mais de uma dezena de países do Grupo de Lima, europeus, australianos e israelenses.
O ato, raro na diplomacia internacional, tentou mostrar o isolamento do regime Maduro. Enquanto os diplomatas deixavam o local em protesto à sua presença, Arreaza praticamente implorava por uma solução.
"Estamos sendo ameaçado por forças militares. A ONU tem que denunciar a agressão contra a Venezuela", disse. "Temos que parar essa guerra. Não quero voltar aqui no ano que vem para contar o número de marines americanos e de venezuelanos mortos",disse. "Sabemos resistir. Mas é o último [cenário] que queremos", declarou.
Em setembro de 2018, o governo venezuelano já havia sugerido uma aproximação ao presidente Trump. Mas a oferta foi rejeitada. O Grupo de Limatambém insiste que não há mais espaço para conversar com Maduro.
Instantes depois, numa coletiva de imprensa em Genebra, o embaixador dos EUA, Robert Wood, insistiu que não haverá um encontro entre Maduro e Trump. "O presidente Trump está disposto a se encontrar com o presidente legítimo da Venezuela, que é Juan Guaidó", declarou.
Questionado pelo blog, Wood também deixou claro que, por enquanto, todas as opções estão sobre a mesa, inclusive a militar. "Não estamos tirando opções da mesa", disse, ao ser perguntado se o governo Trump retiraria a alternativa militar das soluções para Caracas. Segundo ele, porém, a prioridade agora é a de levar ajuda humanitária ao povo venezuelano.
O americano rejeita a ideia de que tenha sido uma pressão da Casa Branca que levou as demais delegações a deixarem a sala. "Foram decisões soberanas e que mostram a unidade da comunidade internacional", disse.
Arreaza ainda promove uma série de encontros bilaterais durante o dia para tentar conseguir apoio de potências para pressionar Trump por um encontro. Ele também se reunirá com a cúpula da ONU, sempre com o mesmo objetivo.
"Por que não um encontro Trump – Maduro?" lançou o chanceler, no mesmo dia em que o americano se reune com a Coreia do Norte, que chegou a ser considerada como "inimiga".
O discurso do chanceler para a imprensa internacional, porém, se baseava na negação de uma crise humanitária, denunciada inclusive pela ONU. "De onde é que vem essas notícias?", criticou.
"Não negamos que temos problemas. Mas não negamos a existência de um bloqueio", disse. "Isso não significa que exista uma crise humanitária. Isso é o pretexto para invadir meu pais", afirmou. "Há uma politização da ajuda humanitária e sua transformação em uma arma", alertou o chanceler. "Estão tentando uma intervenção sem o apoio do direito internacional. Tanto a Cruz Vermelha como a ONU evitaram participar da operação de entrega de ajuda (na fronteira), por saber que não estava dentro da lei", insistiu.
Segundo Arreaza, o sofrimento do povo venezuelano vem do fato de existir um bloqueio econômico, o que teria custado à economia local cerca de US$ 30 bilhões em ativos do estado bloqueados no exterior. Só em Londres, o Banco Central tem Us$ 1,5 bilhão das reservas externas venezuelanas congeladas.
Ele garante que a Venezuela "não está sozinha". "Temos apoio de China e Rússia e da ONU. Mas também temos o apoio de um grupo de 60 países", insistiu.
Para Wood, o argumento da Venezuela de que não existe uma crise humanitária "é ridículo".
Na ONU, Brasil e cerca de 60 diplomatas abandonam discurso de regime Maduro
Num ataque ao alinhamento do Brasil aos EUA, chanceler venezuelano respondeu à ministra Damares Alves, alertando que é o "Brasil que precisa se libertar das imposições". Ele ainda sugeriu um encontro entre Maduro e Trump para evitar uma guerra.
GENEBRA – O governo brasileiro, o Grupo de Lima, Israel, Austrália e alguns países europeus abandonaram a sala de conferências da ONU, num raro ato de protesto. A iniciativa foi a forma encontrada pelo Itamaraty para deixar claro que não reconhece o governo de Nicolas Maduro.
O boicote ocorreu nesta manhã, em Genebra, quando subiu ao púlpito da ONU o chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza. Seu discurso durante a reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas foi considerado como um "ato de cinismo" por diplomatas. Mais de 60 diplomatas deixaram a sala.
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No ano passado, também em Genebra, o mesmo ministro havia declarado que não existia crise humanitária na Venezuela e nem um êxodo. Segundo a ONU, 3,2 milhões de venezuelanos já deixaram o país.
O "walk out" promovido pelos diplomatas passou a mensagem de que não reconhecem aquele governo como o poder legítimo na Venezuela. Desde janeiro, Brasil, Colômbia, Equador e outros países passaram a considerar Juan Guaidó como o legítimo presidente da Venezuela.
A delegação brasileira estava sendo liderada pela ministra de Direitos Humanos, Damares Alves, que fez sua estreia internacional no púlpito da ONU na segunda-feira, dia 25. Durante seu discurso, ela atacou a "ditadura de Maduro" e convocou a comunidade internacional a "libertar" a Venezuela. Mas ela já deixou Genebra na manhã desta quarta-feira, antes do discurso do venezuelano.
Após seu discurso, Arreaza voltou a criticar o governo Bolsonaro. "Gostamos do povo do Brasil e acredito que é o Brasil que precisa se libertar do neoliberalismo e das imposições. Estamos à disposição do brasileiro para que libere do pior", disse, numa referência ao governo nacional e de seu alinhamento com os EUA.
Enquanto a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, saia da sala, funcionários da missão de Caracas se dirigiam o grupo. "Fascistas, fascistas", declarou um deles.
O gesto do boicote é raro nos fóruns internacionais. Na ONU, governos ocidentais abandonaram a sala de reuniões em 2011 quando o então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, tomou a palavra para discursar e questionar a existência do Holocausto.
Questionado pelo blog, Arreaza minimizou o boicote durante seu discurso e a saída dos diplomatas diante de seus olhos. "Disseram que algo ocorreu enquanto eu falava. Isso não é importante. o que importante é que as pessoas do mundo nos ouviram", afirmou, garantindo que tem o apoio de cerca de 60 países, entre eles China e Rússia.
Mas o isolamento não ocorreu apenas na sala de Direitos Humanos. Na Conferência de Desarmamento da ONU, que ocorria no mesmo momento e também em Genebra, um segundo boicote foi promovido e, uma vez mais, a delegação brasileira abandonou a sala quando um representante de Maduro tomou a palavra para fazer um discurso.
"O governo ilegítimo não tinha nada que fazer ali. Aquela cadeira era do governo de Juan Guaidó", disse o embaixador dos EUA, Robert Wood. "Pedimos que aquela cadeira não mais seja ocupada pelo regime de Maduro", insistiu. "Esse foi um dia histórico", comentou.
O chanceler ainda rejeitou a existência de uma crise humanitária. "A fome, ela também existe na Colômbia. Isso é mediático. Mas não significa que haja uma crise humanitária. Isso é um pretexto para uma invasão", atacou.
Trump – Em seu discurso, Arreaza voltou a sugerir o restabelecimento do diálogo entre Maduro e a oposição, além de um encontro direto com Donald Trump. "Por que não?", questionou.
Essa não é a primeira vez que tal proposta é feita por Caracas. Em setembro de 2018, porém, Trump se recusou a considerar a oferta. O Brasil, em janeiro, também disse que não havia mais espaço para uma negociação.
copiado https://noticias.uol.com.br
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