Distúrbios estremecem a Venezuela na tentativa de entrada da ajuda humanitária
AFP / Schneyder MendozaCaminhão com ajuda humanitária é queimado na ponte internacional Francisco de Paula Santander, entre Cúcuta, na Colômbia, e Ureña na Venezuela, em 23 de fevereiro
Intensos distúrbios foram registrados em localidades venezuelanas na fronteira com o Brasil e a Colômbia, enquanto centenas de voluntários tentavam fazer entrar a ajuda internacional de alimentos e remédios, gerida pelo opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente encarregado por 50 países.
Ao menos duas pessoas morreram, uma delas um adolescente de 14 anos, e 31 ficaram feridas, em distúrbios na fronteira entre a Venezuela e o Brasil, onde militares venezuelanos bloqueavam a entrada de ajuda humanitária, informou o porta-voz de um grupo de defesa dos direitos humanos.
"Os dois mortos são resultantes da repressão de militares durante distúrbios em Santa Elena de Uairén. Ambos morreram por impactos de bala, um deles na cabeça", declarou à AFP Olnar Ortiz, ativista na região da ONG Fórum Penal, crítica ao governo de Nicolás Maduro.
Duas ambulâncias cruzaram a fronteira venezuelana rumo a Pacaraima, estado brasileiro de Roraima, trazendo cinco feridos a tiros no confronto com as forças de segurança, a 20 km da fronteira.
Segundo fontes oficiais brasileiras, dois feridos foram levados ao Hospital Geral de Roraima, na cidade de Boa Vista, a 215 km de Pacaraima, e outros três estão a caminho, acrescentou a secretaria de governo de Roraima.
De acordo com as autoridades, o estado de saúde dos cinco é "grave".
Na Colômbia, dois caminhões que transportavam ajuda foram incendiados por grupos de apoiadores do presidente Nicolás Maduro na ponte fronteiriça Francisco de Paula Santander, que liga as cidades de Cúcuta (Colômbia) e Ureña (Venezuela), denunciaram deputados opositores.
"As pessoas estão salvando a carga do primeiro caminhão e cuidando da ajuda humanitária que Maduro, o ditador, mandou queimar", disse a jornalistas a deputada Gaby Arellano, que disse haver 15 feridos leves por balas de borracha e afetados por gás lacrimogêneo.
Dezenas de pessoas tentavam tirar sacos e caixas do caminhão, em meio a uma densa nuvem de fumaça.
AFP / Schneyder MendozaDezenas de pessoas tentam tirar as caixas do caminhão incendiado na ponte Francisco de Paula Santander, em 23 de fevereiro
"Nossos voluntários corajosos estão formando uma corrente para salvaguardar a comida e os medicamentos. A avalanche humanitária é incontrolável", assegurou Guaidó.
O autoproclamado presidente encarregado está em Cúcuta, coordenando a entrada da ajuda enviada pelos Estados Unidos que há semanas está armazenada na cidade.
Para lançar a operação humanitária, acompanham Guaidó os presidentes da Colômbia, Iván Duque; do Chile, Sebastián Piñera; e do Paraguai, Mario Abdo, assim como o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro.
Desde o amanhecer, nas cidades de Ureña e San Antonio (ambas no estado fronteiriço de Táchira), manifestantes vestidos de branco, com cartazes que diziam "Ponte do lado correto da história" foram afastados por militares e policiais venezuelanos.
Os manifestantes retiraram as cercas que fechavam as pontes fronteiriças e vários escalaram a carroceria dos caminhões para fazer a ajuda entrar na Venezuela, mas foram dispersos por bombas de gás e tiros de bala de borracha.
Pouco depois, os caminhões foram incendiados, denunciou Guaidó.
- Deserções -
AFP / Luis ROBAYOA Polícia colombiana escolta um policial venezuelano que desertou neste sábado na ponte Simón Bolívar, em Cúcuta, 23 de fevereiro
Ao menos 23 membros das forças de segurança venezuelanas, incluindo 20 militares, desertaram neste sábado e chegaram à Colômbia, informou a autoridade migratória colombiana.
A Polícia colombiana lhes deu proteção e um deles, que usava uniforme da Guarda Nacional Bolivariana, chorou com as mãos para o alto, após agradecer por ter podido cruzar a fronteira.
Guaidó ofereceu anistia aos membros das forças de segurança que romperem com Maduro.
"Os soldados com os quais conversei responderam ao seu desejo de vida e futuro para seus filhos, que o Usurpador não lhes garante. Soldado venezuelano, a mensagem é clara: faça o que te manda a Constituição. Haverá anistia e garantias para quem se colocar ao lado do povo", escreveu no Twitter.
O principal desafio de Guaidó é conseguir quebrar o apoio da força armada a Maduro, até agora a sustentação de seu governo.
- Ruptura com a Colômbia -
AFP / Yuri CORTEZO presidente Nicolás Maduro discursa durante ato maciço em Caracas, 23 de fevereiro de 2019
O lançamento da operação humanitária provocou o anúncio de Maduro do rompimento de relações com a Colômbia, que reconhece Guaidó como presidente encarregado.
"Decidi romper todas as relações políticas e diplomáticas com o governo fascista da Colômbia e todos os seus embaixadores e cônsules devem sair em 24 horas da Venezuela. Fora daqui, oligarquia!", disse Maduro neste sábado a uma multidão em Caracas.
Maduro, apoiado, entre outros países, pela Rússia e a quem o alto comando militar reitera frequentemente sua "lealdade irrestrita", assegurou que nunca renunciará à Presidência.
"Estou mais firme do que nunca, firme, de pé, governando nossa pátria agora e por muitos anos", clamou Maduro, dirigindo-se aos chavistas que marcharam por Caracas sob o lema "Hands off Venezuela" (Tirem as mãos da Venezuela).
"Nunca vou me dobrar, nunca vou me render. Sempre defenderei a nossa pátria com a minha própria vida, se for necessário", assegurou Maduro, insistindo em que o presidente americano, Donald Trump, quer se apropriar das riquezas do país que tem as maiores reservas de petróleo do mundo.
- Fronteiras fechadas -
As fronteiras da Venezuela com a Colômbia e o Brasil foram fechadas por ordem de Maduro, que considera a ajuda humanitária um pretexto para a intervenção militar dos Estados Unidos.
Guaidó anunciou que o primeiro contingente de ajuda já entrou na região pela fronteira com o Brasil. No entanto, no posto fronteiriço estão estacionados dois caminhões com ajuda, constatou a AFP.
Há outro centro de armazenamento na ilha caribenha de Curaçao, onde voluntários venezuelanos esperam um barco sair apesar de o governo de Maduro ter suspendido as partidas e os voos para esse território
Cinco venezuelanos feridos levados para hospital em Pacaraima
AFP / Luis ROBAYOUm manifestante atingido por gás lacrimogêneo na ponte internacional Simon Bolívar, em Cúcuta, na Colômbia
Duas ambulâncias transportando cinco venezuelanos feridos a bala em confrontos com as forças de segurança entraram na cidade brasileira de Pacaraima, informaram autoridades brasileiras.
Dois feridos foram levado para o Hospital Geral de Roraima, na capital Boa Vista, a 215 km de Pacaraima, e outros três estão a caminho de outro centro hospitar, informou a secretaria do governo da Roraima.
O estado de saúde dos cinco é grave, segundo a fonte.
A médica venezuelana Carla Servitá, que viajou em uma das ambulâncias, disse à imprensa que mais feridos são esperados devido aos violentos confrontos em Santa Elena de Uairén, a 20 km da fronteira.
O deputado venezuelano Luis Silva informou que os confrontos na fronteira deixaram quatro mortos e mais de dez feridos.
Os relatos falam de violentos confrontos entre habitantes e membros da Guarda Nacional Bolivariana em Santa Elena de Uairén.
"A coisa está feia no centro. Há tanques, eles nos atacam e nós atacamos os tanques", contou um habitante que não quis se identificar, falando por telefone com a AFP.
Outra pessoa da área disse que, segundo uma enfermeira do Hospital Rosário Vera Zurita, em Gran Sabana, território venezuelano, há 19 feridos.
"Há uma atmosfera tensa, os tanques ainda estão lá e a maioria dos habitantes agora está nas proximidades do hospital", afirmou.
As ambulâncias brasileiras conseguiram entrar no território venezuelano apesar de a fronteira venezuelana permanecer oficialmente fechada desde quinta-feira por ordem do presidente Nicolás Maduro.
Na véspera, várias ambulâncias cruzaram a fronteira para o Brasil levando 13 feridos.
copiado https://www.afp.com/pt/
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