Sem o “maldito” pré-sal, como estaríamos hoje? Magnolli: o pânico dos militares com Bolsonaro

Sem o “maldito” pré-sal, como estaríamos hoje?

Em em dezembro de 2010, quando a produção do pré-sal estava começando – o campo de Lula, o maior do Brasil, ainda atendia pela sigla TLD-BM-11-S  – a Bacia de Campos, que carregava desde o final dos anos 70 a responsabilidade de prover o Brasil de petróleo, produzia 2,05 milhões de barris de óleo e gás por dia.
Esgotada por quatro décadas de intensa exploração, a velha senhora que respondeu por quase 90% do petróleo brasileiro, faz o que pode, mas sua produção caiu, em dezembro passado, para 1,36 milhão diários.
Em nada isso tira dela a condição de heroína, porque nos veio logo após o primeiro choque de preços do petróleo (1973) e nos abriu as portas para um espantoso desenvolvimento de tecnologia própria de extração de petróleo em águas profundas.
O fato é, porém, que sem o pré-sal, hoje, estaríamos pendurados numa necessidade de importação de pelo menos 700 mil barris/dia. Óleo a 63 dólares, na média entre os diversos tipos, faça a conta.
Não estamos assim porque aquele “campinho” da Bacia de Santos, que produzia meros 70 mil barris por dia, então, hoje é um dos maiores campos de petróleo do mundo, produzindo 1,14 milhão de barris de óleo equivalente por dia e, com seu vizinho Sapinhohá, elevando a produção da Bacia de Santos a 1,73 milhãode barris/dia.
Custou muito mais que os mal-feitos de alguns picaretas e ainda nos custa, com o enfraquecimento da Petrobras pós Lava-Jato.
O pré-sal – desdenhado, atacado, menosprezado pelos ‘sábios’ que dizem que “a era do petróleo terminou”, embora o mundo ainda viva em guerra por ele, tem um papel ainda maior, muito maior, a desepenhar na produção de energia no Brasil.
Lá estão todos os maiores poços produtores do Brasil, e como destacou o rofessor Roberto Moraes, em seu Facebook, vários com marcas de produção dignas de figurarem entre as maiores do mundo, acima de 35 mil barris equivalentes/dia.
Mas eles são apenas a ponta do iceberg petrolífero que se oculta nas profundezas de nossa costa, dez ou vinte vezes maior do que foi a bendita Bacia de Campos.
Reparem com os outros campos, maiores que o de Lula, Libra e Franco, desapareceram do noticiário. Áreas de imenso potencial só chamam a atenção da mídia para um objetivo: leiloar e ajudar a fechar as contas do déficit público. Nada do que possam representar em termos de desenvolvimento da indústria de componentes e de logística (petroleiros, navios-sonda, barcos de apoio à exploração e produção) entra mais nas contas do país.
Se os investimentos não tivessem sido cortados, nossa produção deveria estar beirando os 5 bilhões de barris diários, em lugar dos  3,4 milhões de barris equivalentes (óleo e gás).
Não é preciso ser nenhum  gênio econômico para ver o quanto isso estaria rendendo em royalties para União, estados e municípios, alem da propria participação do Estado brasileiro no valor do produto, em lugar dos bônus dos leilões, que entram e somem em instantes.
As jazidas de petróleo, tal como acontece na Venezuela – que tem as maiores reservas do mundo – não podem ser abduzidas e levadas para os países centrais. É mais simples abduzir a soberania das nações e dominá-las.
Se Nicolás Maduro fosse saudita, usasse turbante, mandasse degolar pessoas a espada em praça pública, ordenasse a execução de um jornalista em plena embaixada do país no exterior e depois dissolvesse seu corpo em ácido isso não seria motivo para derrubá-lo, como lá na península árabe não é.

Magnolli: o pânico dos militares com Bolsonaro

Demétrio Magnoli, colunista da Folha, está a um milhão de anos-luz de ser considerado um esquerdista ou petralha – distância, claro, que não é obstáculo para bolsominions fanáticos –  que esteja “torcendo” contra o capitão Bolsonaro.
Merece, portanto, redobrada atenção o que escreve hoje, sobre o lado “não tuitável” do atual governo: as suas relações com o círculo militar em que, cada vez mais, está contido.
Destaco alguns trechos:
A demissão de [Gustavo] Bebianno pode ser narrada em dois registros alternativos. Na linguagem do recreio do pré-primário: um chamou o outro de mentiroso, feio e bobo. No idioma compartilhado entre milicianos e facções do crime: um qualificou o outro como traíra, X-9. De um modo ou de outro, o evento veicula uma lição de ciência política: o governo Bolsonaro, na sua versão original, é um experimento patológico destinado a perecer sob o efeito das toxinas empregadas na sua concepção. Os militares finalmente entenderam isso.(…)
Militares que, diz ele, passaram do desprezo com que encaravam o capitão baderneiro para o pragmatismo de seu aproveitamento como aríete para delirios de volta ao poder:
os chefes fardados entusiasmaram-se com uma candidatura que prometia recuperar a estabilidade econômica, exterminar a corrupção e destruir as cidadelas do crime organizado. A velha desconfiança dos políticos profissionais, os ressentimentos nutridos pelas comendas oficiais concedidas a Marighella e Lamarca, o sonho desvairado de restauração da imagem da ditadura militar contribuíram para o imprudente abraço dos militares ao candidato da direita populista.
Do desprezo ao entusiasmo —e deste ao pânico. O clã familiar dos Bolsonaro, permeado por loucas ambições, inclina-se à guerra palaciana permanente. As cliques do baixo clero parlamentar que rodeiam Lorenzoni e Bebianno prometem engolfar o governo em perenes disputas mesquinhas. Os dois ministros nomeados por Olavo de Carvalho, o Bruxo da Virginia, personagens atormentados por moinhos de vento puramente imaginários, fabricam crises fúteis em série. Segundo o diagnóstico dos chefes militares, o governo afunda sozinho na areia movediça sobre a qual apoiou seu edifício improvisado.
Magnoli critica a classificação do Governo como “fascista” – embora não a de autoritário – e chama atenção para sua inorganicidade, aliás, o reverso do que se pode dizer dos militares:
“Fascismo”? Bolsonaro não mobiliza camisas-negras ou falanges, exceto a militância virtual comandada pelo filho Carluxo que vitupera nos subterrâneos da internet. Um paralelo viável não é com Mussolini, mas com Rodrigo Duterte, o populista primitivo das Filipinas que contaminou suas forças policiais com as práticas do vigilantismo. No Brasil, um governo desse tipo está condenado à implosão. Daí, o alerta de pânico ativado pelos generais do Planalto.
Pânico, aí digo eu, que só a muito custo se contém diante da imprudência que nos colocou numa situação delicadíssima, na qual os militares estão diretamente – e a contragosto – envolvidos: a crise na Venezuela.
Tudo isso em conta, não há como deixar de achar lausível a conclusão de Magnoli:
Que ninguém se iluda: está em curso a “intervenção militar” pela qual clamavam os patetas civis extremistas na hora do impeachment.
copiado http://www.tijolaco.net/

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