Dois militares venezuelanos pedem refúgio no Brasil. Guaidó aposta na pressão internacional após tentativa frustrada de entrar com ajuda na Venezuela

Dois militares venezuelanos pedem refúgio no Brasil

AFP / Nelson AlmeidaOpositores venezuelanos com a bandeira do país no lado brasileiro da fronteira, em Pacaraima (Roraima), em 23 de fevereiro de 2019
Dois sargentos venezuelanos pediram refúgio no Brasil no sábado à noite, informaram fontes militares na cidade de Pacaraima (Roraima), um dia depois de uma frustrada operação internacional de ajuda humanitária organizada pela oposição ao governo de Nicolás Maduro.
Os dois desertores estavam no posto de controle da fronteira perto de Pacaraima, onde no sábado à noite foi registrado um confronto com manifestantes. Durante o incidente, os dois militares atravessaram a fronteira para o Brasil.
"Estávamos aqui no posto de triagem da Operação Acolhida e ontem à noite dois militares da Guarda Nacional venezuelana se apresentaram como refugiados", disse o o coronel Georges Feres Kanaan, membro da operação que atende os migrantes venezuelanos.
Os dois sargentos foram alojados em instalações da Operação Acolhida em Pacaraima e "vão iniciar os procedimentos normais de solicitação de refúgio ou residência temporária, vacinação e regularização de permanência aqui", disse Kanaan.
A região da fronteira registrou momentos de tensão no sábado, durante uma operação internacional para entregar medicamentos e alimentos na Venezuela.
A ação foi estimulada pelo líder opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente encarregado da Venezuela por 50 países, entre eles Estados Unidos, Colômbia e Brasil.
No sábado, pelo menos 60 militares e policiais venezuelanos desertaram e passaram ao lado colombiano, informou o serviço de migração da Colômbia.
Neste domingo, quase 200 venezuelanos se reuniram na fronteira do lado brasileiro, diante de uma barreira de militares venezuelanos, que avançaram um pouco mais em comparação com a posição da véspera.
As ruas de Pacaraima, uma cidade de 12.000 habitantes permanecem relativamente tranquilas.
Os caminhões com oito toneladas de produtos doados por Brasília e Washington, que chegaram no sábado a esta localidade, permanecem estacionados em instalações militares da Operação Acolhida, depois que aguardaram em vão no sábado a possibilidade de atravessar a fronteira.
"Estamos tentando ver o que vai acontecer hoje, mas no momento a ajuda humanitária está resguardada pelos militares (brasileiros), não temos informação sobre qual será o próximo passo", disse à AFP Yuri Cabrera, um dos motoristas dos veículos.
O Brasil exige que a ajuda seja transportada por veículos com placas da Venezuela, dirigidos por cidadãos deste país.
Fontes da oposição venezuelana admitiram que não foi definido como entregar a ajuda e que, no momento, está descartado que os caminhões tentem entrar novamente na Venezuela.
A fronteira comum permanece fechada desde quinta-feira por ordem de Maduro.

Guaidó aposta na pressão internacional após tentativa frustrada de entrar com ajuda na Venezuela

AFP / RAUL ARBOLEDAUm manifestante opositor venezuelano na ponte Tienditas, em Cúcuta, na fronteira entre Colômbia e Venezuela
O opositor Juan Guaidó confia agora na pressão internacional para afastar do poder o presidente Nicolás Maduro, após a tentativa frustrada de levar ajuda à Venezuela no sábado, uma jornada que terminou com dois mortos e centenas de feridos na fronteira com a Colômbia.
O autoploclamado presidente interino do país se prepara para participar na reunião do Grupo de Lima, programada para segunda-feira em Bogotá, com a presença do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence.
Depois de falhar em sua convocação para levar alimentos e remédios para atenuar a pior crise na história moderna da Venezuela, o jovem presidente do Parlamento comparecerá à reunião convocada em 14 de fevereiro porque considera que "a pressão interna e externa são fundamentais para a libertação" do país.
"Para avançar em nossa rota, vou me reunir na segunda-feira com nossos aliados da comunidade internacional, e seguiremos ordenando as próximas ações dentro do país", disse Guaidó, reconhecido por 50 países como presidente encarregado da Venezuela, na cidade colombiana de Cúcuta.
O líder opositor antecipou que vai discutir com os chanceleres das 14 nações do Grupo de Lima "possíveis ações diplomáticas" contra Maduro, sem descartar uma intervenção militar.
Os presidentes de três países membros - Colômbia, Chile e Paraguai -, assim como o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) apoiaram a tentativa de transportar os insumos a partir de Cúcuta.
Esta será a primeira vez que a Venezuela participará como integrante de um encontro do Grupo de Lima, criado em 2017 para promover uma solução para a crise e que se reuniu pela última vez em 4 de fevereiro em Ottawa.
Na ocasião, 11 dos 14 integrantes do bloco pediram uma mudança pacífica de governo na Venezuela. Também fizeram um apelo para que os militares reconhecessem Guaidó e permitissem a entrada de ajuda.
- "Enfraquecido" -
Guaidó aposta na reunião dos 13 Estados latino-americanos e Canadá depois que Maduro, que tem o apoio da Rússia, conseguiu impedir que a ajuda enviada principalmente pelos Estados Unidos entrasse em seu território, o que obrigou seus opositores a determinar um recuo.
Os confrontos entre manifestantes e as forças de segurança deixaram 285 feridos na Colômbia, incluindo 255 venezuelanos, e dois mortos no estado de Bolívar, limítrofe com o Brasil. Além disso, dois caminhões com insumos foram queimados na ponte internacional Francisco de Paula Santander.
O presidente chavista não aceita a entrada de assistência por considerá-la um pretexto para uma intervenção militar americana. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que não descarta nenhuma opção na Venezuela.
Guaidó, que entrou na sexta-feira na Colômbia, recebeu o apoio dos Estados Unidos. O secretário de Estado, Mike Pompeo, condenou os ataques a civis e promete ações para apoiar a democracia na Venezuela.
O governo do Brasil se uniu às críticas aos confrontos e chamou Madurdo de "ditador".
Dois sargentos venezuelanos pediram refúgio no Brasil no sábado à noite, informou neste domingo à AFP o coronel Georges Feres Kanaan, membro da Operação Acolhida que atende migrantes do país caribenho na fronteira entre os países.
A União Europeia (UE) condenou os atos de violência e o uso de "grupos armados" na Venezuela pelo governo de Maduro para impedir a entrada de ajuda humanitária ao país. Também criticou "a recusa do regime a reconhecer a urgência humanitária, que conduz a uma escalada das tensões".
Asfixiada pela falta de produtos básicos e uma hiperinflação, a crise econômica provocou a saída de 2,7 milhões de pessoas da Venezuela desde 2015, segundo a ONU.
Analistas, no entanto, consideram que Guaidó sai enfraquecido da disputa de sábado, apesar das deserções de pelo menos 60 militares e policiais venezuelanos, que atravessaram a fronteira para o lado colombiano.
Os analistas apontam que Maduro pretendia testar a unidade do comando das Forças Armadas, principal base de apoio de seu governo.
"Guaidó sai enfraquecido porque depois do ocorrido não está muito claro que o apoio que tem em seu território é muito grande", disse o professor de Relações Internacionais Rafael Piñeros.
O opositor afirmou no sábado que tinha um milhão de voluntários dispostos a participar na caravana para transportar e proteger a ajuda, mas a participação foi muito menor. Em Caracas, milhares de opositores do chavismo protestaram diante de um aeroporto militar, enquanto Maduro discursou para milhares de simpatizantes.

 copiado https://www.afp.com/pt/n

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