Acordo com Liga Árabe não muda rotina de violência na Síria

5/11/2011 - 13h03

Acordo com Liga Árabe não muda rotina de violência na Síria

ASHRF FAHAM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA EM DAMASCO

Protestos e repressão violenta continuam acontecendo por todo o país, enquanto diplomatas se reúnem para pensar novas medidas
O acordo entre o governo sírio e a Liga Árabe --anunciado há dois dias e que previa a remoção do aparato militar de cidades como Homs, Hama e Deraa e em áreas residenciais no subúrbio de Damasco-- não surtiu o efeito esperado, pelo menos nos primeiros dias.
Manifestantes continuam desafiando o regime com protestos em várias cidades enquanto as forças de segurança insistem na repressão violenta e prisões em massa. Até o final da tarde de sexta-feira foram registradas 18 mortes, a maioria em Homs, e duas de ativistas alvejados quando tentavam cruzar a fronteira com a Jordânia.
Foi possível constatar, ainda, que além de novos "check points" espalhados pelos subúrbios, a presença ostensiva da polícia e das forças armadas continua na mesma intensidade dos últimos meses na região central de Damasco, principalmente nos arredores da praça Midan --onde protestos têm ocorrido desde o início das revoltas, há oito meses.

Reuters
Manifestantes protestam na sexta-feira (4) contra o ditador Bashar Assad em Hula, próximo a Homs, na Síria
Manifestantes protestam na sexta-feira (4) contra o ditador Bashar Assad em Hula, próximo a Homs, na Síria

Mas nem isso impediu que um grupo com cerca de 150 manifestantes percorresse as ruas estreitas da vizinhança entoando cantos contra o presidente para dificultar o trabalho de repressão.
Diferentes grupos da oposição, incluindo o Conselho Nacional Sírio (SNC, na sigla em inglês) repudiaram a iniciativa da Liga Árabe e alegam que qualquer tentativa de diálogo com o atual regime será prontamente rejeitada.
Um diplomata egípcio que está na Síria participando dos encontros da liga árabe e pediu para não ser identificado qualificou as reuniões do grupo como "completamente inúteis, até o momento". "As condições impostas pela Síria são vagas, eles podem afirmar que não estão sendo cumpridas a qualquer momento, para justificar o não cumprimento das promessas que fizeram no acordo --o que já está acontecendo, nos primeiros dias", explicou.
PROMESSAS E CONDIÇÕES
O governo de Bashar Assad impôs três condições para atender às reividicações da Liga Árabe. Em primeiro lugar, a cessão imediata da "guerra midiática" encabeçada pelas emissoras Al Jazeera e Al Arabia, que têm transmitido protestos e flagrantes de violência em tempo real, diariamente.
O governo sírio alega que as emissoras do Qatar e da Arábia Saudita, respectivamente, tem municiado ativistas com aparelhos móveis e telefones via satélite para "tirar proveito da situação e intensificar o caos no país".
Outra condição é o monitoramento e compromisso dos vizinhos Líbano e Jordânia para combater a entrada de armas e munições por ambas as fronteiras. Bashar Assad evitou, entretanto, qualquer menção às fronteiras com a Turquia e Iraque.
Por sim, a retomada do diálogo nacional entre o regime e oposição, medida vigorosamente rejeitada por opositores que afirmam existir uma oposição "fabricada" pelo governo sírio pronta para representá-los caso o diálogo aconteça.
Em contrapartida, o regime alegou que libertaria, antes do "aíd" (feriado muçulmano que vai de domingo a quinta-feira) todos os presos políticos que cumprem pena ou aguardam julgamento desde março, retiraria todo o aparato militar presente em várias cidades, liberaria a entrada e garantiria livre acesso a mídia internacional no país.
Membro do Conselho Nacional Sírio, o ativista Louay Safi afirma que medidas mais duras precisam ser tomadas.
"A expulsão da Síria pela liga ou novas sanções do conselho de segurança seriam bem-vindas, ou algo nesse sentido, ou, como adiantamos no dia do acordo, nada mudará, o regime está apenas tentando ganhar tempo, enquanto tanques continuam assombrando nossas cidades, jornalistas sendo presos e ativistas políticos aguardando pela anistia", disse Safi.
Ashrf Faham é o pseudônimo de um jornalista brasileiro que está na Síria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

Ao Planalto, deputados criticam proposta de Guedes e veem drible no teto com mudança no Fundeb Governo quer que parte do aumento na participação da União no Fundeb seja destinada à transferência direta de renda para famílias pobres

Para ajudar a educação, Políticos e quem recebe salários altos irão doar 30% do soldo que recebem mensalmente, até o Governo Federal ter f...