Jornalismo ético, serviço à Humanidade


Jornalismo ético, serviço à Humanidade 

Jornal do BrasilDalmo Dallari* 
Comemorando os oitenta anos de vida exemplar, dinâmica e socialmente útil, com cerca de seis décadas dedicadas à imprensa como atividade profissional, exercida com alta competência, criatividade e coragem, Alberto Dines fez, com objetividade, a rememoração de suas lutas, de sua imensa contribuição, inovadora, criativa e corajosa, para que a imprensa cumpra seu relevante papel social. O relato dessa trajetória, extremamente rico pelas informações e pelas reflexões que as acompanham, encontra-se na revista Pesquisa, publicação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, em sua edição de abril de 2012. Sob o expressivo título Lições de jornalismo, a revista divulga uma importante entrevista concedida por Alberto Dines a Mariluce Moura e Carlos Eduardo Lins da Silva. Com modéstia e serenidade, sem o intuito de autoexaltação ou de fazer denúncias ou proselitismo, Dines faz o relato de suas experiências no jornalismo e, como parte dela, dos obstáculos que enfrentou e das restrições que sofreu por causa de sua atitude de independência e por sua fidelidade à ética.
Atuando na linha de frente há quase sessenta anos, Dines participou, com grande destaque, da prática do jornalismo, onde exerceu atividade criadora, desenvolvendo, paralelamente, atividade universitária, na preparação de novos profissionais da imprensa. Tendo trabalhado no Jornal do Brasil, nos Diários Associados e na Folha de S.Paulo, jamais se curvou à rotina, ampliando a abordagem dos temas e inovando na forma da apresentação e no conteúdo das matérias divulgadas, indo além da transmissão rotineira de notícias, propondo abordagens críticas e penetrando no mundo da cultura. E aqui surge um paradoxo, ou aparente paradoxo, pois justamente os méritos de Alberto Dines levaram à sua punição. Relembrando, com franqueza e serenidade, os episódios de sua carreira jornalística em que foi vítima da intolerância ou da submissão a interesses econômicos ou políticos, revelando, sem rancor mas sem meias palavras, personagens que eram proprietários de empresas jornalísticas ou ocupavam postos importantes nas editorias e deveriam ser firmes defensores da liberdade de imprensa, mas que agiram em sentido contrário, Alberto Dines faz esta síntese, muito expressiva, das violências sofridas: “Até 2008 ou 2009 dava uma grande demissão ou violência por ano”.  Apesar disso e, sempre que possível, sem temor de represálias, dando a contribuição de seu preparo intelectual, de sua experiência, ampliada por atividades profissionais nos Estados Unidos e em Portugal, valendo-se de seu talento criador e de sua firme convicção de que a imprensa livre é um serviço relevante à sociedade, Dines criou importantes veículos de autocrítica da imprensa. Assim é que, para estimular uma permanente reflexão sobre a imprensa, criou, primeiro, o Labjor e depois o Observatório da Imprensa. A par disso, exerceu também atividade docente, atuando como professor, tendo criado na Pontifícia Universidade Católica a disciplina Jornalismo Comparado, para a transmissão de informações numa perspectiva crítica, o que também é reflexo de sua mentalidade aberta e de sua criatividade.
Por tudo isso e por muito mais que poderia ser acrescentado, Alberto Dines é figura de primeira linha do jornalismo brasileiro. Vem muito a propósito reproduzir aqui algumas palavras de sua fala de encerramento do seminário promovido em sua homenagem pela Fapesp: “Preciso entender o que faço, quero perceber o que esperam de mim, tenho a obrigação de descobrir, nos 40 mil anos que nos separam da arte rupestre, os elementos que ajudarão os nossos sucessores a livrarem-se das miragens do progresso e das ilusões da velocidade”. Para ele, um desafio permanente é a qualidade do jornalismo impresso, incluindo o dever da verdade, sem concessões a interesses políticos ou econômicos e sem dobrar-se à intolerância. A referência de Alberto Dines à arte rupestre traz à lembrança a existência de personagens poderosos que comandam grandes órgãos da imprensa e que, bem ao contrário da constante criatividade de Dines e de seu compromisso com a qualidade do jornal, não conseguem ir além dos estreitos limites de suas cavernas intelectuais, e assim agem com intolerância e se submetem servilmente aos interesses políticos e econômicos: são verdadeiros trogloeditas, que colocam empecilhos ou fecham os caminhos aos que, como Dines, concebem o jornalismo como um serviço de alta relevância, que deve ser prestado com o mais elevado nível ético. Mas, apesar dos trogloeditas, a contribuição e o exemplo de Alberto Dines já produziram muitos frutos e continuarão a exercer grande influência, enriquecendo o jornalismo como serviço à humanidade.    
* Dalmo de Abreu Dallari é jurista. COPIADO :  http://www.jb.com.br

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