Inconsequentes

País - Sociedade Aberta

Inconsequentes

Jornal do BrasilCelso Franco*
Recebi, na semana que passou, uma mensagem eletrônica, de um leitor, na qual, revoltado, se queixa dos serviços por ônibus. Ei-la:
“Olhe, sei que vai atrasado, e muito, mas...Os acidentes e atropelamentos continuam no BRT e, eu acho, pelo menos nos atropelamentos, deve estar faltando o motorista buzinar. Sim, buzinar. Pelo menos neste começo de operação. Isso porque todos, motoristas e pedestres, se acostumam a “sentir” a proximidade dos ônibus pelos barulhos do motor e do ar comprimido do sistema de freios. Por que os motoristas usam este motor e freio como buzina? Ora, o BRT tem motor na traseira, o que dificulta o alerta. Há poucos dias vi um ônibus desses, novo, com motor traseiro. Descendo a Rua Voluntários da Pátria, a uns 80 km/h. Perto demais da calçada do meio-fio. Todos (todos mesmo) os pedestres que estavam na calçada, eu vi, se assustaram. Porque a “fera” aparecia de repente. Quando podia ser tarde demais. Por fim, vi também que o motorista se divertia com os sustos que deu.
É duro ver a rotina de violência em que se transformou o trânsito do Rio, com toda a certeza, puxada pelos ônibus”.
O missivista começa falando de atraso, porque, de fato, há algum tempo, eu escrevera um artigo chamando a tenção para as colisões nas pistas exclusivas para os BRTs e nas proximidades das estações, sugerindo inclusive a colocação de gradis, nos trechos próximos às travessias sinalizadas para os pedestres. Alertava que o ser humano só obedece à risca à lei de menor esforço.
Deste desabafo de um pagador de impostos e, por isso deseja respeito, alertou-me para a possível causa: a surpresa pela presença do ônibus no trajeto de pedestres e veículos. Apesar desta causa, não tem toda razão o reclamante. O poder público sinalizou, exaustivamente, sobre o perigo de não obedecer às determinações do Código de Trânsito, ao longo das pistas de circulação dos BRTs. Todos, repito, em todos os acidentes que ocorreram, e a mídia sadicamente alardeia, ocorreram por inconsequente desobediência do acidentado à  lei. Esta foi feita para proteger quem lhe obedeça e não se responsabiliza pelos que a ela não respeitam. Afinal, estamos num país onde se se coloca um aviso "É proibido cuspir", cospem no cartaz que proíbe. Mas, a persistência do educador vence esta tendência dos habitantes do Terceiro Mundo. Haja vista o respeito ao aviso de "Não fumar".
Na quinta-feira da semana passada, tive a honra de ser convidado pela presidente da CET-Rio, arquiteta Cláudia Secin, para um Seminário sobre Acidentes de Trânsito, em comemoração à Semana de Trânsito. Fiquei surpreso e encantado com o trabalho, ainda não divulgado, que a CET está realizando, colhendo dados, realizando estatísticas sobre esta mazela nacional, no sentido de tomar providências que a diminuam drasticamente.
Lamentei não haver comparecido antes à minha CET-Rio, que já tive a honra de presidir, nos seus primórdios, em 1989. Comecei eeste artigo falando do esforço que fazem os seus abnegados  técnicos  em prol do trânsito do Rio.
E consegui, porque, ao despedir-me da presidente, ela teve a gentileza de interromper uma reunião em que tratava exatamente da segurança ao longo das pistas do BRT e quando lhe levava uma sugestão, fruto da experiência, para melhorar de muito a segurança nos cruzamentos de veículos com o BRT.
Já em 1958, na Holanda, quando o bonde, que tinha total prioridade sobre os demais veículos, cruzava a pista para uma conversão à esquerda, no local da travessia acendia piscando uma placa de aviso de “Atenção, perigo”, sobre a palavra TRAM (bonde em holandês) e soava uma estridente campainha.(Exatamente um sinal sonoro de alerta sugerido pelo meu leitor).
A ideia foi em princípio aceita e, se for concretizada, teremos nos cruzamentos, sobre o bloco do semáforo fechado, a placa de atenção, com a palavra BRT, que acenderá intermitentemente, acompanhada do sinal de campainha, todas as vezes que existir a presença, no cruzamento, deste excelente meio de transporte. Após esta providência, quero ver a quem a mídia, sempre pronta a criticar, vai atribuir a culpa pelo acidente, se houver.

* Celso Franco, oficial de Marinha reformado (comandante), foi diretor de Trânsito do antigo estado da Guanabara e presidente da CET-Rio. - acfranco@globo.com   COPIADO www.jb.com.br

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