"Precários" do mundo, uni-vos
por Dn.pt com Lusa
Judith
Butler defendeu "uma aliança entre os precários", todas as pessoas que
"estão a ser oprimidas, economicamente e socialmente"
Fotografia © Andrew Rusk
Filósofa Judith Butler defende "aliança entre os precários" do mundo
A filósofa norte-americana
Judith Butler defendeu "uma aliança entre os precários", todas as
pessoas que "estão a ser oprimidas, económica e socialmente, de formas
inaceitáveis", numa entrevista à agência Lusa.
Convidada pelo ciclo "Gender Trouble", que o Teatro Municipal Maria Matos, em Lisboa, dedicou ao livro com o mesmo nome de sua autoria, e uma obra fundamental para o feminismo e os estudos de género, a professora da Universidade de Califórnia-Berkeley acredita que as políticas de austeridade podem aproximar todos os movimentos que, cada um por si, têm reivindicado mais justiça, igualdade e liberdade.
"A precariedade é um conceito importante: as pessoas que são marginalizadas pela raça ou pobreza, por fugirem à norma, porque perderam casas ou empregos, por terem de lidar, de repente, com uma dívida terrível, estão todas a perder a sua condição e apoio sociais", vincou, em entrevista à agência Lusa, um dia depois de o auditório do Maria Matos se ter enchido com meia centena de pessoas para a ouvir.
A pensadora referiu que, "em Portugal, as comunidades imigrantes vivem separadas, há um tabu em mencionar a raça". Se, no conceito de "portugueses" estivessem incluídas "as várias pessoas que migraram em consequência da descolonização, o país teria toda uma outra imagem".
Ora, para atingir a igualdade para todos, não se pode fingir que não se veem as diferenças, defendeu.
Convidada pelo ciclo "Gender Trouble", que o Teatro Municipal Maria Matos, em Lisboa, dedicou ao livro com o mesmo nome de sua autoria, e uma obra fundamental para o feminismo e os estudos de género, a professora da Universidade de Califórnia-Berkeley acredita que as políticas de austeridade podem aproximar todos os movimentos que, cada um por si, têm reivindicado mais justiça, igualdade e liberdade.
"A precariedade é um conceito importante: as pessoas que são marginalizadas pela raça ou pobreza, por fugirem à norma, porque perderam casas ou empregos, por terem de lidar, de repente, com uma dívida terrível, estão todas a perder a sua condição e apoio sociais", vincou, em entrevista à agência Lusa, um dia depois de o auditório do Maria Matos se ter enchido com meia centena de pessoas para a ouvir.
A pensadora referiu que, "em Portugal, as comunidades imigrantes vivem separadas, há um tabu em mencionar a raça". Se, no conceito de "portugueses" estivessem incluídas "as várias pessoas que migraram em consequência da descolonização, o país teria toda uma outra imagem".
Ora, para atingir a igualdade para todos, não se pode fingir que não se veem as diferenças, defendeu.
"Se recusar
ver homens e mulheres, brancos e negros, gays e 'heteros', e ver apenas
pessoas, estou a apagar as desigualdades, a marginalização, o racismo, a
misoginia, a discriminação de homossexuais. Temos de nomear as
diferenças para analisar como os compromissos democráticos ficam aquém,
analisar a marginalização e o racismo para os podermos combater", argumentou.
Se todos os que vivem na e à margem se juntassem, podiam forçar uma mudança, disse, reconhecendo que essa aliança global "é difícil", porque cada movimento está concentrado nas suas reivindicações particulares.
Admitindo que "ninguém pode prever" se, perante a austeridade, prevalecerá a coragem ou o medo, Judith Butler assumiu-se otimista. "Vejamos o que está a acontecer em Espanha. O [novo partido político de esquerda] Podemos está a subir. Talvez surjam mais grupos como o Podemos. Vamos ver", realçou.
É menor a esperança de que o modelo neoliberal tenha nas políticas de austeridade o seu último suspiro, defendeu, referindo, no entanto, que continua a acreditar que chegará o dia em que a democracia radical que defende governará o mundo.
"O que sei é que cada vez mais grupos entendem que o que lhes está a acontecer é injusto e que os princípios básicos da social-democracia, como os bens públicos, têm de ser preservados", frisou.
copiado http://www.dn.pt/
Se todos os que vivem na e à margem se juntassem, podiam forçar uma mudança, disse, reconhecendo que essa aliança global "é difícil", porque cada movimento está concentrado nas suas reivindicações particulares.
Admitindo que "ninguém pode prever" se, perante a austeridade, prevalecerá a coragem ou o medo, Judith Butler assumiu-se otimista. "Vejamos o que está a acontecer em Espanha. O [novo partido político de esquerda] Podemos está a subir. Talvez surjam mais grupos como o Podemos. Vamos ver", realçou.
É menor a esperança de que o modelo neoliberal tenha nas políticas de austeridade o seu último suspiro, defendeu, referindo, no entanto, que continua a acreditar que chegará o dia em que a democracia radical que defende governará o mundo.
"O que sei é que cada vez mais grupos entendem que o que lhes está a acontecer é injusto e que os princípios básicos da social-democracia, como os bens públicos, têm de ser preservados", frisou.
"A esquerda é muto mais marginalizada nos Estados Unidos do que na Europa", comparou, constatando que "é terrível" o cenário de bipartidarismo republicano-democrata que domina a política americana.
Republicanos e democratas "têm grandes máquinas e muito dinheiro por trás deles, monopolizam as campanhas, é muito difícil apresentar uma alternativa", explicou, antecipando que uma nova vitória dos democratas "é possível".
Mais certeza tem de que a candidata dos democratas será Hillary Clinton. Mas uma mulher como Presidente dos Estados Unidos não a deixa descansada. Reconhece o valor simbólico dessa eleição -- tal como a de Barack Obama, o primeiro Presidente negro --, mas recorda a atuação de Margaret Thatcher e de outras mulheres políticas.
"Preferia ter um homem branco, com melhores políticas", assumiu, recordando: "Com Obama e Hillary, intensificámos a campanha de drones, torturámos em massa às mãos da CIA, vigiámos os cidadãos, escalámos guerras em vez de as diminuir. Portanto, não gosto do que está a acontecer e não posso dizer que ficarei contente se Hillary for eleita. Talvez fique aliviada por não ser eleito outro pior".
Republicanos e democratas "têm grandes máquinas e muito dinheiro por trás deles, monopolizam as campanhas, é muito difícil apresentar uma alternativa", explicou, antecipando que uma nova vitória dos democratas "é possível".
Mais certeza tem de que a candidata dos democratas será Hillary Clinton. Mas uma mulher como Presidente dos Estados Unidos não a deixa descansada. Reconhece o valor simbólico dessa eleição -- tal como a de Barack Obama, o primeiro Presidente negro --, mas recorda a atuação de Margaret Thatcher e de outras mulheres políticas.
"Preferia ter um homem branco, com melhores políticas", assumiu, recordando: "Com Obama e Hillary, intensificámos a campanha de drones, torturámos em massa às mãos da CIA, vigiámos os cidadãos, escalámos guerras em vez de as diminuir. Portanto, não gosto do que está a acontecer e não posso dizer que ficarei contente se Hillary for eleita. Talvez fique aliviada por não ser eleito outro pior".
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