Aroeira? Ah, aquele cara das charges do DIA...

 
               
 
 
Aroeira? Ah, aquele cara das charges do DIA...
Os personagens da vida pública brasileira e mundial são alvos constantes de seus desenhos precisos. Com crítica e ironia, ele ilustra a primeira página do DIA. O teste da aceitação, já foi feito: em uma banca de jornal ficou observando o que os leitores achavam de suas charges. O resultado? "Surpreendente", diz. Uma ou outra pessoa o reconhece nas ruas. "Você não é aquele cara que foi entrevistado no programa da TV?" A maioria conhece, no entanto, apenas seus traços - uma prova do reconhecimento de seu talento. Mas, afinal, quem é Renato Luiz Campos Aroeira?
"Sou um cartunista amador", se auto-define Aroeira. "Amador no sentido de amar o que faz, de estar aberto a novas possibilidades, aprender cada vez mais", completa. "E também sou um saxofonista que queria ser profissional". Um músico frustrado? Nem tanto. O mineiro que desde pequeno desenhava nas paredes de casa tem uma banda - Os Optimistas - , com uma rapaziada na "faixa dos 40". Não satisfeito, ainda participa da Conjunto Nacional, dos irmãos Chico e Paulo Caruso, no naipe de saxofones, ao lado de Luís Fernando Veríssimo. "Ser cartunista é tão difícil quanto ser músico", conta. Mas ele não abre mão de seu trabalho. E estilo.
Para Aroeira, qualquer tipo de poder merece crítica: do público (governo) ao pessoal ("quem comete abusos, como certos jogadores de futebol"). "Meu estilo é de ataque. Não me guio pelo politicamente correto, que é um meio de matar o humor", dispara. O cartunista diz ter engajamento ético, e não limites éticos: "Nas minhas charges, só não há pornografia. Nunca perco a compostura".
Se ele não perde a linha, os seus retratados não fazem o mesmo. Os filhos do ex-governador do Rio Marcello Alencar - o secretário de Fazenda do estado, Marco Aurélio Alencar, e o chefe do Gabinete Civil, Marco Antônio Alencar - processaram o cartunista por causa de uma charge que ilustrava a fuga de menores de uma casa de detenção, com o governador desculpando-se pela falta de controle do caso. Ironicamente, Aroeira ganhou com esse desenho, e mais dois outros, o prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos e Anistia Internacional em 1998 (foto à esquerda). Nas outras charges premiadas, Aroeira fazia alusão à declaração do presidente Fernando Henrique Cardoso que chamou os aposentados de vagabundos, e à morte de menores em duas chacinas com a ilustração do Cristo Redentor para denunciar a violência.
Falando em retratados, seu personagem preferido é, sem dúvida,
FH. "Cesar Maia também é bom, mas ele anda meio em baixa. E, é claro, o Marcello Alencar 'sempre de porre'", alfineta. Segundo Aroeira, tem que existir uma relação pessoal entre o artista e os seus personagens. E já que tocamos no assunto relação, vale destacar
que esta entrevista foi interrompida, sem traumas, duas vezes para
o cartunista resolver uns "probleminhas": pedir o almoço do filho ("André, serve Bob's?" - mais politicamente incorreto impossível!) e falar ao telefone com o amigo Ziraldo ("Sobre um prêmio que a revista Bundas acaba de ganhar").
Um botafoguense que compra briga com as outras torcidas
Resolvidos os "problemas", Aroeira dá a ficha técnica: torcedor do Atlético-MG e Botafogo, 47 anos, 33 de profissão, casado com Aida Queiroz, uma das diretoras do Anima Mundi, e pai de Alice, 18, e André, 8. Como todo cartunista, começou em jornais pequenos,
locais, criando um público cativo. No seu caso, foi aos 17 anos na coluna de seu pai, que escrevia na editoria de esportes do Jornal de Minas. A sua primeira experiência "profissional", no entanto, foi ilustrando um livro de sua mãe, com apenas 12 anos. De lá para cá, passou pelos principais jornais cariocas e há quatro anos é o responsável pela charge da primeira página do DIA, também publicada na revista IstoÉ.
Ele bem que tentou fazer outra coisa: ingressou na faculdade de Engenharia, passou para Física e depois para Matemática. Mas esbarrou numa tal disciplina EPB - Estudos dos Problemas Brasileiros. "Era a época da militância estudantil", resume Aroeira, deixando a ironia nas entrelinhas. Foi presidente de DCE (Diretório Central dos Estudantes),
fez parte do movimento sindical e chegou, ainda, a cursar uma semana do curso de Belas-Artes. "Já era chargista profissional, achava que não era mais válido", ressalta.
O que hoje é trabalho, na adolescência servia como "instrumento de aceitação". "Como era meio nerd, usava meus desenhos para conquistar as garotas. Era a arma para quem não tinha um carro do ano e não podia ser considerado o galã da turma", diz. A tática funcionava, e continua funcionando: os "desenhos que atuam como um efeito afrodisíaco" seduzem os seus leitores, que procuram o cartunista a cada charge publicada.
"Quando uma charge me agrada, agrada aos meus leitores. Mas se um chargista agrada todo mundo, algo está errado", alerta Aroeira. Ele classifica os leitores em três tipos: os que mandam desenhos ("Gosto disso, considero um elogio a confiança que eles depositam em mim para avaliá-los"), os que xingam ("Principalmente quando são charges esportivas") e os que dão idéias. Sugestões, aliás, é o que Aroeira mais recebe: do leitor comum aos amigos cartunistas. "Acontece, às vezes, de um tipo de piada ser mais indicado ao traço de determinada pessoa", diz.
Ah, então uma boa charge deve ter forma e conteúdo? Aroeira afirma que o melhor é conciliar os dois: "O conteúdo é a idéia central. É em torno dele que se desenvolve a charge". Se a função da charge é satirizar ou refletir, ele responde de primeira: "O bom é quando causa a reflexão. Mas depende, tem dias que é só para chutar o balde, tipo o Bin Laden cheirando a carta". Para os cartunistas de plantão, as dicas de uma boa charge: tem que tratar de um assunto importante ("algo que você considera que vai mover o leitor"), deve ser compreendida por todos ("o leitor dialoga com o desenho"),
além de ser engraçada.
Jornais para inspirar, Harry Potter para desocupar a mente
Atento às premissas básicas de uma boa charge, Aroeira lê diariamente os principais jornais e acompanha os sites de notícias e a TV a cabo. Para desocupar a mente da neurose do dia-a-dia, assiste desenhos animados e filmes publicitários na TV, e comédias românticas e filmes de ação no cinema ("com o Steven Seagal, aquele latino politicamente correto, então, é uma delícia"). E entre uma leitura e outra de Harry Potter, dá uma passada nas rodas de salsa do Bar Semente, na Lapa, centro boêmio do Rio.
Voltando à vida real, Aroeira quer aperfeiçoar suas charges. Ele pretende estudar animação e aprender a utilizar programas em 3D para modelar os personagens. Quem sabe dessa nova safra não sai uma charge da conselheira de Segurança Nacional do presidente dos EUA, George W. Bush, Condoliza Rice? "Ela tá merecendo uma", dá a deixa o cartunista, esboçando um sorriso maroto. Publicar seu trabalho fora do Brasil também é um outro objetivo. "Vou começar ilustrando uma coluna do jornal português Público", adianta. Piada? Não, destino. Coisas de um descendente de portugueses que tem como ídolos seus colegas de profissão: Ziraldo, Jaguar, Millôr, Chico e Paulo Caruso, Ique, Miguel Paiva... Uma lista tão longa quanto à simpatia e a ironia de Aroeira.
  
 
 
                  COPIADO :             http://odia.ig.com.br/portal/especiais/aroeira/NOVEMBRO.html?atual=13&ano=2011

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