Merkel: ‘Economia alemã se volta mais para a América Latina’

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Merkel: ‘Economia alemã se volta mais para a América Latina’

Eleita Personalidade do Ano pelo GDA, chanceler fala em redução de barreiras comerciais
Graça Magalhães-Ruether, correspondente
Patricia Salazar Figueroa, do El Tiempo/GDA
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'No futuro, a América Latina deverá ter participação mais ativa em buscar soluções para desafios globais', afirma Angela Merkel Foto: AFP
'No futuro, a América Latina deverá ter participação mais ativa em buscar soluções para desafios globais', afirma Angela Merkel AFP
BERLIM - No último dia 8, ao fim da cúpula extraordinária de governantes da União Europeia — que durante 36 horas debateram o pacote franco germânico de arriscadas reformas para tentar salvar o euro e a Zona do Euro em 2012 —, o mundo acabou compreendendo que 66 anos depois de terminada a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha, desta vez com fins e meios pacíficos, voltou a assumir o papel de liderança no futuro da Europa.
De fato, num discurso em novembro, o presidente Nicolas Sarkozy se encarregou de oficializar essa liderança, incluindo uma espécie de proclamação que suscitou uma semana de manchetes e comentários da imprensa em todos os idiomas da Europa: "Boa parte da minha tarefa consiste em aproximar a França de um sistema que funciona: o sistema alemão", disse.
À frente desse sistema, se encontra há seis anos Angela Merkel, de 57 anos, a primeira mulher a se tornar chanceler federal da Alemanha, a primeira ex-cidadã da extinta Alemanha Oriental eleita chefe de governo e, como se fosse pouco, a pessoa mais jovem a exercer o cargo em toda a História do país. Uma governante cuja imagem e estilo de governo podem ser definidos com os mesmos adjetivos usados para o sistema econômico alemão: estável, resistente, impermeável e extremamente bem controlado.
"Merkel tem êxito porque domina a política como se fosse um assunto científico: quanto mais complicado o teorema, maior a capacidade de concentração para encontrar a fórmula que o resolva", escreveu Dirk Kurbjuweit, editor de Política da revista "Der Spiegel".
O silêncio de Merkel com a imprensa latino-americana durou seis anos. Mas ela aceitou responder, por escrito, a perguntas do Grupo de Diários América (GDA), abrindo, por fim, o diálogo com a imprensa da região.

Qual é o significado do processo de transformação da América Latina, considerando as suas relações com a Alemanha?
ANGELA MERKEL - Nos últimos anos, a América Latina não só tem passado por uma recuperação econômica impressionante, mas também conquistou um espaço de atuação e autoconfiança na política externa. Isso é um desenvolvimento muito positivo, pois agora vislumbramos a chance de, juntos, vencermos os desafios da globalização. Mas o novo peso da América Latina na política externa e na economia também implica maior responsabilidade. No futuro, a América Latina deverá ter uma participação mais ativa do que até agora quando se trata de buscar soluções para os desafios globais. Para a Alemanha, isso significa que nós ainda teremos que nos articular melhor com os nossos parceiros latino-americanos e desenvolver iniciativas conjuntas. Isso também inclui a crise de endividamento atual.
Especialistas advertem que a Alemanha e a UE estão perdendo influência na América Latina porque a região é subestimada. Quais são as principais áreas em que as relações entre a Alemanha e a América Latina precisariam ser reforçadas?
MERKEL - Queremos relações mais estreitas e mais fortes em todas as áreas. Uma das coisas mais importantes é alcançarmos melhor articulação no cenário internacional, sobretudo no âmbito das Nações Unidas. A América Latina e a Europa são aliadas naturais, pois temos valores comuns que queremos consolidar firmemente no mundo de amanhã. Na área da economia, alemães e latino-americanos já trabalham muito estreitamente há mais de cem anos. A nossa estatística comercial nos mostra que o setor econômico alemão está se voltando ainda mais para a América Latina. Mas o potencial da nossa cooperação ainda está longe de ser plenamente explorado. Nos primeiros anos após a reunificação da Alemanha e a queda da Cortina de Ferro, nossas empresas obviamente estiveram mais focalizadas nos países vizinhos do Leste da Europa e apostaram mais nos mercados asiáticos, que estavam crescendo de forma dinâmica. A estabilidade política e o crescimento econômico sólido também têm tornado a América Latina um parceiro muito atraente. Tradicionalmente, a engenharia mecânica e automotiva, a eletrotécnica, bem como a química e a farmacêutica são ramos muito bem representados na América Latina. Além disso, vão ganhando cada vez mais importância o fornecimento de matérias-primas, todas as áreas da política energética, mas também de infraestrutura, segurança, tecnologia médica e prospecção e extração de petróleo e gás na região. Nossas pequenas e médias empresas também são altamente capacitadas nessas áreas. A Alemanha também vê a América Latina como um importante local de produção da ciência e da pesquisa. A cooperação entre os nossos centros de pesquisa e instituições de ensino superior está se tornando cada vez mais estreita e interessante. No Chile, foi fundado o primeiro Instituto Fraunhofer; na Argentina, o primeiro Instituto Max Planck; e em fevereiro o Ministro do Exterior, Guido Westerwelle, estará em São Paulo para inaugurar o Centro Alemão de Inovação e Ciência. É uma especial satisfação saber que cada vez mais bolsistas da América Latina são acolhidos nas instituições de ensino superior da Alemanha. Só o Brasil pretende enviar até dez mil jovens com bolsas de estudo do governo federal nos próximos anos. Estamos nos preparativos do Ano Brasil-Alemanha de 2013/2014, no qual queremos nos apresentar como parceiros nas mais diversas áreas, como o setor econômico, a ciência, a formação e a cultura.
A senhora foi escolhida a Personalidade do Ano pelos editores de 11 importantes jornais latino-americanos. Eles justificaram a escolha devido à sua capacidade de superar crises e à cabeça fria mesmo em situações críticas. O que isso significa para a senhora?
MERKEL - Essa distinção é uma grande honra para mim. Mas se estamos avançando no desenvolvimento da união econômica e monetária agora, isso não se deve a uma única pessoa e nem a um único país. A força da UE reside no fato de enfrentarmos os nossos desafios conjuntamente e aprendermos, juntos, com o passado, o que, aliás, estamos fazendo de maneira muito consequente neste momento.
O ministro alemão da Economia, Philipp Roesler, disse que se o acordo comercial entre a UE e a América Latina não for assinado, uma solução possível seria concluir acordos bilaterais, por exemplo entre a UE e o Brasil. Isso é uma posição oficial do seu governo?
MERKEL - Consideramos acordos de associação e de comércio livre com sub-regiões e com países individuais elementos particularmente importantes da parceria estratégica da UE com a América Latina. Eles abrem mercados, geram empregos e crescimento dos dois lados e apoiam os parceiros latino-americanos no seu desenvolvimento sustentável. Fico muito satisfeita que, além dos acordos existentes com o Chile e o México, agora também conseguimos assinar outros com a Colômbia, o Peru e a América Central. Em 2010, as negociações com o Mercosul foram retomadas depois de um longo período de inatividade. A Alemanha está muito interessada no avanço rápido desse processo. Queremos um acordo ambicioso com o qual pretendemos reduzir, de maneira eficiente, barreiras comerciais existentes.
COPIADO : oglobo.globo.com/

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