'O regime cubano sabe que vai cair’, diz dissidente

'O regime cubano sabe que vai cair’, diz dissidente

Guillermo Fariñas afirma que governo tenta evitar ter o mesmo destino de Kadafi
Bruno Rivas,
do El Comercio / GDA
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O dissidente cubano Guillermo Fariñas Foto: Reuters
O dissidente cubano Guillermo Fariñas Reuters
HAVANA - Em Santa Clara, a 270 quilômetros de Havana, está localizado o memorial de Che Guevara, uma figura que se converteu em símbolo da Revolução Cubana e do governo dos irmãos Castro. Paradoxalmente, nesta mesma cidade vive um personagem que luta contra a ditadura castrista, mas que, diferentemente do argentino, o faz de forma pacífica: o dissidente Guillermo Fariñas.
O psicólogo cubano está na oposição desde a década de 1990 e, por esta razão, foi preso em várias oportunidades. Sua extrema magreza e lentidão ao falar são sinais deixados pelas detenções e pelas greves de fome, que o levaram a ganhar o prêmio Sajarov à liberdade de consciência em 2010. Numa delas, ele ficou mais de quatro meses sem comer, chamando a atenção do mundo. Este foi um dos fatores que teriam levado Raul Castro a libertar 52 presos políticos.
EL COMERCIO - As reformas econômicas de Raúl Castro deixam a desigualdade social em Cuba mais evidente?
GUILLERMO FARIÑAS - O regime sabe que vai cair. Mas, além da geração histórica, Fidel e Raúl sabem que não têm mais estatura histórica para manter o status que existe há mais de 50 anos. Eles querem que não ocorra como na Líbia. A família de Kadafi se agarrou ao poder e perdeu tudo. Inclusive as vidas. Porém, eles não se importam com o seu futuro, mas com de seus filhos, netos e bisnetos. Eles têm propriedades na Espanha, na Argentina e no Chile, além de negócios com Bacardi e a indústria de vinhos. Têm muito o que perder.
Há ostentações de riqueza?
FARIÑAS - São muito comunistas, mas vivem como capitalistas. A cada seis meses mudam de carro. É isso que se chama de consumismo capitalista, apesar de serem hierarcas comunistas. Por isso reprimem as Damas de Branco. Elas, com seu prêmio e reputação em um país eminentemente machista, podem se transformar em um exemplo perigoso. Eles estão preparando todo o cenário para que a aterrissagem no capitalismo seja o mais suave possível e sem custo político para eles. Dão liberdades econômicas restritas para os pequenos empresários ficarem dependentes do estado e não possam se converter em perigo político no futuro. Eles querem ficar na História como pessoas que nunca se venderam ao capitalismo, mas desde o momento em que Fidel Castro aceitou as intervenções estrangeiras, se rendeu para segurar no poder. Ele se interessa somente pelo poder. Não é fascista, nem comunista, peronista, estalinista ou chavista. É fidelista. Pensa que tudo pode girar em torno dele e por isso acredita que é um Deus na terra.
Qual é o seu sonho?
FARIÑAS - Gostaria que um dia todos os cubano pudessem se sentar em uma mesa para discutir o futuro de Cuba. Estou falando de Luis Posada Carriles, ícone do terrorismo anticastrista, e de Abelardo Gómez Barros, ícone do terrorismo comunista. Que todo mundo possa se sentar para falar e pensar em Cuba. Conheci representantes e senadores da época capitalista que me contaram que eles discutiam na Câmara, decidiam o que tinham que decidir, e, depois, fora do Capitólio, tomavam cerveja juntos.
E como está sua saúde?
FARIÑAS - Deteriorada. Tenho uma trombose muito perigosa, que pode causar a morte. Estou tomando medicamentos anticoagulantes. Se me fazem uma ferida, sangro na hora. As greves de fome me causaram um desgaste ósseo que me provoca muita dor nas articulações, mas acredito que principal é o espírito.
E como o espírito está?
FARIÑAS - Um tenente-coronel de segurança do Estado e militares chineses e vietnamitas me ensinaram a ter dor, sofrer e não falar enquanto me torturavam. Para a dor sumir, pensava em outra coisa. Estou preparado para isso. Oxalá que possa seguir contribuindo, mas estamos atravessando um momento histórico único e não podemos nos sentar enquanto isso passa. O futuro de Cuba está em jogo. Se não conseguirmos fazer uma mudança sem derramamento de sangue, isto vai ser um desastre.
O ano que está terminando foi marcado pela queda de ditadores em todo mundo. Isso pode ocorrer em Cuba?
FARIÑAS - Acredito que estão evitando a todo custo qualquer coisa que possa provocar uma mobilização social como ocorreu no Oriente Médio e no norte da África. A primavera árabe nos deu lições como lutadores pela democracia, mas também para o aparato de controle cubano. Eles evitam a visualização da oposição pelos cidadãos. Há um ano estão realizando uma série de manobras de corte neoliberal dentro do governo cubano, ainda que durante 40 anos tenham falado mal deste sistema. Isto nos favorece como oposição porque o nível de insatisfação é grande. Tentarão criar a ditadura perfeita, como o PRI no México.
É possível haver uma alternativa para enfrentar o partido que o governo quer criar?
FARIÑAS - Isto depende de três fatores: as associações de dissidentes daqui, das organizações no exílio e do governo cubano. O último é o mais importante porque o regime criado durante muitos anos seus próprios dissidentes. Enfim, eu diria que a oposição não está dividida, mas atomizada. Tanto pela manobra do governo como pela personalidade de seus próprios líderes.COPIADO : oglobo.globo.com/

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